Alice Knopp tinha cinco anos de idade quando sofreu um trauma que a marcou por toda a vida. Ela cavalgava na propriedade de sua família, em Carazinho, no noroeste do Rio Grande do Sul, quando o animal saiu em disparada. Por sorte, não aconteceu nada grave, mas o susto é sempre lembrado. Primeiro porque hoje ela não se atreve a montar um cavalo que não seja manso. E segundo porque ela fez do motivo do trauma seu ofício. Não, Alice não virou adestradora de animais arredios. Mas se transformou em uma das designers de joias mais respeitadas no meio rural, ao criar peças inspiradas em cavalos da raça crioula, uma das mais importantes criadas no País. São 380 mil animais, dos quais 95% estão em solo gaúcho. “Há um estilo de vida em torno do cavalo”, afirma Alice. “Por isso, muitas pessoas criam uma relação fervorosa e apaixonada com os animais.”


A modelo Isabeli Fontana 
usa joias da marca

As joias de Alice já caíram no gosto de personalidades do mundo da moda como a top Isabeli Fontana, que já desfilou no eixo Nova York-Paris-Milão para grifes como Balenciaga, Louis Vuitton e Chanel. “No ano passado, Isabeli escolheu algumas peças da minha coleção e elogiou meu trabalho”, diz Alice.  Além dos brincos e medalhas como os usados pela modelo, a designer cria coleções com pulseiras, anéis, pingentes e colares inspirados em equipamentos de montaria, como as ferraduras, bridões, estribos, relhos, esporas, chapéus, laços e tambores. As peças são feitas em ouro 18 quilates ou prata, adornadas com diamantes e pérolas. Uma pulseira com pingentes chega a custar R$ 24 mil.


Pulseira avaliada em R$ 24 mil.

A reaproximação da designer com os equinos começou aos 19 anos, quando ela conheceu o peão Guto Freire, tricampeão do Freio de Ouro, a principal prova para os cavalos da raça crioula e treinador de animais para as provas há 20 anos. Ao se casar, Alice passou a circular nesse universo, no qual há sempre um grande público que aprecia tudo o que se refere ao campo. “Via pessoas dispostas a comprar produtos por paixão aos animais”, afirma. Foi quando percebeu a oportunidade de fazer joias. A primeira coleção, com 30 peças, chegou ao mercado há quatro anos. Mas foi a de 2014, a primeira com modelos em prata, que jogou luz ao seu trabalho. Batizada de Horse Lovers, a coleção de 14 peças caiu no gosto do público que frequenta as provas equestres, locais em que Alice começou a expor a sua obra, como a Expointer, em Esteio (RS).  “Foi um divisor de águas”, diz. “Encontrei o caminho para as minhas joias.” O mais recente trabalho, a coleção Ride On, segue a mesma linha, com destaque para anéis e brincos.


Paixão por cavalos: o marido, Guto Freire, durante uma prova do Freio de Ouro realizada em Esteio (RS),onde ela também expôe suas joias

Mas não foi fácil chegar até aqui. Alice, formada em design, e o marido trocaram Carazinho por Santo Antônio da Patrulha, na região metropolitana de Porto Alegre, em 2009, onde ele montou um centro de treinamento de animais. “A cidade não tinha opções de trabalho para mim”, diz. “Desenhar joias me permitiu conciliar minha carreira com a de meu marido.”

“Com as joias temáticas, conquistei minha independência financeira” Alice Knop designer de joias

A primeira peça, desenhada em 2011, foi uma medalha com a imagem de cavalos vendida a uma amiga. Nesse mesmo ano, a designer já estava na Expointer expondo as suas obras, próximo às áreas das provas equestres. Alice desenvolve duas coleções de joias, por ano, com produção terceirizada. Além das feiras e do comércio on line, a designer também passou a frequentar grandes leilões de cavalos, como o da Cabanha São Rafael, em Curitiba (PR), em março, que movimentou R$ 2,3 milhões. “Com as joias temáticas conquistei minha independência financeira”, diz Alice. “Agora, é hora de pensar em expansão”.  A designer quer deixar de ser conhecida apenas por sua grife Joias Crioulas e atender a outros públicos, principalmente os admiradores de outras raças equinas. “Cada raça tem uma realidade”, diz Alice. “Meu desafio é traduzir essa cultura de uma forma universal.”