As incertezas fiscais relacionadas ao aumento do programa Bolsa Família e à PEC dos Precatórios pressionaram a curva de juros, com novo ganho de inclinação nesta segunda-feira. As taxas subiram pela manhã, chegaram a zerar pontualmente a alta no meio da tarde, mas na última meia hora da sessão regular retomaram a trajetória ascendente. Em meio ainda à crise institucional, as preocupações com a inflação na véspera da divulgação do IPCA e da ata do Copom também não deram alívio, hoje com o IGP-DI de julho acima da mediana das estimativas e mais deterioração das expectativas na pesquisa Focus.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 6,488% para 6,520% e a de janeiro de 2023, de 8,164% para 8,22%. As da ponta longa avançaram ainda com mais força. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 9,12%, de 9,055%, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 9,51%, de 9,403%.

As taxas ensaiaram melhora no meio da tarde, flertando com a estabilidade, após o governo reafirmar o compromisso com a disciplina fiscal nas definições para o Auxílio Brasil, novo programa social a partir de um Bolsa Família repaginado que agora passará a atender mais de 16 milhões de pessoas. “O valor do novo programa deverá sofrer um reajuste de pelo menos 50% do tíquete médio de R$ 189. Isso deverá ser alcançado dentro do teto de gastos, em consonância com a responsabilidade fiscal”, garantiu o ministro da Cidadania, João Roma. O governo entregou a Medida Provisória (MP) do programa à Câmara sem definir o valor do benefício. Segundo Roma, isso deve ser definido no fim de setembro, após envio da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Ao descartar a possibilidade de o reajuste ultrapassar limites do teto de gastos, a fala do ministro tirou pressão da curva. “É o tipo de declaração que ajuda a reduzir a preocupação em relação ao avanço da ala governista favorável a manobras fiscais para abrir espaço a mais gastos”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

O movimento porém durou pouco e as taxas voltaram a subir, com a informação publicada pelo Broadcast de que a PEC dos Precatórios, a ser entregue ainda hoje à Câmara, vai propor a correção pela Selic dos valores a serem pagos a partir de 2022, segundo fontes.

A exemplo do que foi visto nas últimas três semanas, a curva subiu hoje em bloco porque a ponta curta também esteve pressionada, ainda que menos do que os demais trechos. Nem a sinalização do Copom de que vai colocar a Selic acima do neutro tem conseguido segurar o aumento da inclinação, tampouco impedir novas altas nas medianas para o IPCA no Boletim Focus, num círculo que se retroalimenta. A previsão para 2021 subiu para 6,88% e para 2022, a 3,84%. O dia ainda teve o IGP-DI do mês passado acelerando a 1,45%, de 0,11% em junho e 1,36% na mediana das projeções.