Os juros futuros fecharam a sessão em queda firme, amparada no resultado negativo do PIB nos Estados Unidos que confirmou a recessão técnica no país e o mercado entendeu a postura mais dovish ontem do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ao comentar ontem sobre a política monetária.

O vetor externo hoje prevaleceu, mas internamente a quinta-feira também foi de notícias e agenda favoráveis que em tese contribuem para a correção das altas recentes na curva. Entre elas, o IGP-M e o resultado do governo central melhores do que o consenso, anúncio de novas quedas nos preços de combustíveis e a decisão da Petrobras de pagar R$ 87,8 bilhões em dividendos do segundo trimestre, valor recorde. E o Tesouro conseguiu pagar taxas menores no leilão de prefixados, mas com demanda ainda muito fraca nos prazos mais longos.

Os principais vencimentos na B3 fecharam com taxas nas mínimas do dia. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,83% (mínima), de 13,887% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,681% para 13,50%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 12,84% (mínima), de 13,065% ontem. A do DI para janeiro de 2027 recuou 20 pontos-base, de 12,96% para 12,76%.

A queda de 0,9% do PIB dos Estados Unidos no segundo trimestre (primeira leitura) surpreendeu os analistas, que esperavam alta de 0,4%. E, diante da também retração, de 1,6%, no primeiro trimestre, o país entrou em “recessão técnica”. Ontem, Powell evitou se comprometer com o ritmo de aumentos futuros, atrelando-os a dados e à perspectiva da economia dos Estados Unidos.

Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Mirae Asset, acredita que o discurso do Fed mostra que o número de hoje já era sabido pelos diretores e a comunicação se deu em função disso. “Do contrário, o mercado estaria muito ruim hoje. Com esse baixo crescimento, não dá para ser hawkish. E aqui, vamos na esteira dos Treasuries”, afirmou. No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos estava em 2,68% e a de 2 anos, em 2,88%, ambas caindo em torno de 10 pontos-base em relação aos níveis de ontem, espelhando a dissipação das apostas num aperto monetário agressivo nos Estados Unidos.

Como os prêmios da curva, principalmente do miolo em diante estão elevados, a trajetória baixista das taxas aqui é amplificada. “Os prêmios estão altos muito por conta do risco institucional de hoje até as eleições”, explica Nepomuceno.

No front local, uma série de notícias positivas avalizou também o fechamento da curva. Na agenda, o IGP-M de 0,21% em julho veio bem abaixo do consenso das estimativas (0,30%), enquanto a Petrobras anunciou redução nos preços gasolina, do querosene de aviação (QAV) e da gasolina de aviação (GAV) e do asfalto.

No campo fiscal, o superávit do governo central em junho somou R$ 14,4 bilhões, ante consenso de R$ 12,7 bilhões e o Conselho de Administração da estatal aprovou a distribuição de dividendos na ordem de R$ 87,8 bilhões, recorde para a companhia, em um “adiantamento” dos valores a serem pagos em todo o ano de 2022. É um fluxo com o qual o governo conta para bancar as benesses da PEC dos Benefícios e ajuda a engordar o caixa do Tesouro, num momento de dificuldade para a emissão de dívida.

No leilão desta quinta, o Tesouro conseguiu vender 9.011.500 Letras do Tesouro Nacional (LTN), da oferta de 9,5 milhões. No leilão das Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F), não aceitou nada na oferta de 150 mil para 2029 e 115 mil das 150 mil ofertadas para 2033.

O especialista em renda fixa e professor ligado a Mercado Financeiro na B3, na Anbima e FIA, Alexandre Cabral, destacou nas NTN-F, pelo lado positivo, que as taxas caíram relação ao leilão de semana passada, mas o volume de R$ 95,9 milhões colocado “para gringo é dinheiro de pinga”. Já o leilão de LTN, diz, foi bem melhor, com todas as taxas em queda ante a operação passada e bom volume de R$ 6,4 bilhões.