Os juros subiram nesta quarta-feira, 15, de forma mais acentuada nos vencimentos intermediários e longos, ignorando a melhora de apetite ao risco no exterior. As preocupações com o cenário fiscal voltaram a se exacerbar simultaneamente ao aumento dos ruídos políticos. A falta de solução para a questão dos precatórios, o crescimento da pressão sobre o teto de gastos e as contínuas revisões pessimistas para os fundamentos também ajudaram a formar o pano de fundo para posições defensivas. Um dia depois das taxas terem caído com força, a percepção é de que havia espaço para uma correção.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu a 8,94%, de 8,872% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025, de 10,046% para 10,13%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,55%, de 10,474%.

Segundo profissionais da renda fixa, várias notícias negativas que saíram desde o fim da manhã formaram um pacote para justificar a cautela. Desde a troca de farpas entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, e o ministro Paulo Guedes, em evento no fim da manhã, passando pela aprovação da prorrogação da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores até 2026 na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara e pela convocação da ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro Ana Cristina Valle, para depor na CPI da Covid.

A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado alertou que embora o aumento de arrecadação e o “relativo controle” nas despesas tenha contribuído para melhorar as contas públicas em 2021, “o risco fiscal não é abstrato”, com o Tesouro aumentando todo mês seus custos de emissão. A entidade apontou uma série de indefinições para o Orçamento de 2022 como fatores de incerteza e, de forma mais imediata, observou que a dívida bruta do País está caindo menos, em um “prenúncio de que voltará a crescer em breve”.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, diz ser “fato” que o mercado já comprou a ideia de que a situação fiscal explica os juros longos de 11% e o câmbio a R$ 5,25. “Rever as estimativas de atividade para baixo não tem ajudado, ao contrário. Boa parte da justificativa das revisões é a alta maior nos juros movida por expectativa de inflação mais elevada”, disse.

É o caso do Banco Inter, que reduziu a projeção para PIB em 2022, de 2% para 1,2%, justamente pela necessidade de um aperto monetário maior para conter o processo inflacionário. “A alta de juros prevista agora é para impedir que o choque atual contamine outros preços”, disse a economista-chefe, Rafaela Vitória, que passou a prever Selic de 8,25% no fim do ano, com mais três altas de 1 ponto porcentual, após a revisão das expectativas para a inflação oficial para 8,1% em 2021 e para 4,1% em 2022.