Os juros futuros fecharam a sexta-feira, 26, com taxas curtas em baixa e longas com viés de alta. Resistiram na maior parte do tempo à piora nos demais ativos, mas faltando poucos minutos para o encerramento da etapa regular a ponta longa sucumbiu à aceleração do avanço do dólar ante o real, enquanto a Bolsa também batia mínimas. Durante o dia, o mercado ainda reagia positivamente ao Relatório de Inflação (RI) e a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de continuar reduzindo a meta de inflação para 2024, ontem. Mesmo com a abertura considerada ruim, o IPCA-15 de junho não trouxe estresse para as taxas. Prevaleceu o fato de ter vindo ligeiramente abaixo da mediana das estimativas, ao contrário das últimas leituras que surpreenderam negativamente.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 5,695%, de 5,737% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 passou de 7,233% para 7,18%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 8,16%, ante 8,155% ontem, e o DI para janeiro de 2027, com taxa de 8,56% (8,533% ontem).

A curva teve ganho de inclinação nesta semana pesada de eventos, com mensagem firme do Banco Central na ata do Copom e no RI em relação ao alcance do objetivo de recolocar as expectativas de inflação para 2022 de volta à meta de 3,5%; queda do dólar de mais de 2% na semana; e um IPCA-15 praticamente em linha com o consenso, embora com preços de abertura considerados preocupantes.

O economista-chefe do Banco Original, Marco Antônio Caruso, afirma que hoje, mesmo com o dólar e juros dos Treasuries em alta, a curva aqui esteve bem comportada, a despeito ainda do IPCA-15 de junho ruim na leitura qualitativa dos preços de abertura. “Vejo o movimento de queda ainda como resquícios de ontem, do impacto do Relatório de Inflação reduzindo as apostas de um aperto de juros mais acelerado e com um tom mais parecido com o do comunicado do que com o da ata”, disse.

Outro fator positivo foi a decisão do CMN de fixar a meta de inflação de 2024 em 3%, com margens de tolerância de 1,5 ponto, dando continuidade à estratégia de reduzir o objetivo a ser perseguido pelo Banco Central nos próximos anos. Caruso explica que uma minoria do mercado ainda tinha dúvida se, diante do atual cenário inflacionário, o CMN daria sequência ao que tem sido feito nos últimos anos. “É um avanço institucional importante e não tem nada a ver com o que temos visto nesse quadro de pressão de curto prazo. É perfeitamente possível colocar a inflação em 3% em 2024”, disse.

A deterioração dos demais ativos no meio da tarde, porém, esfriou o ímpeto de queda dos DIs. “A Bolsa está sofrendo hoje, bancos especialmente, talvez reflexo de alguma surpresa com parte da reforma tributária, e o real tem sido arrastado junto, numa redução de risco em Brasil. Mas para curva, o IPCA veio em linha”, comentou um gestor.

O IPCA-15 subiu 0,83% em junho, de 0,44% em maio, o maior para o mês desde 2018 (1,11%) e com preços de abertura salgados, em especial, a inflação de serviços. Contudo, o mercado se apegou no fato de o headline ter vindo abaixo da mediana das estimativas, de 0,85%. “Com o IPCA ok, acho que ajuda a curva no prazo de 1 e 2 anos”, disse o gestor citado mais acima.