Os juros de curto prazo fecharam a quinta-feira em alta e os longos, em queda, reagindo ao comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que ontem elevou a Selic em 1,5 ponto porcentual para 9,25%, conforme amplamente esperado. A leitura do texto é foi de que os dados fracos da atividade divulgados desde a semana passada não parecem ter sensibilizado o BC, que no texto deu destaque à desancoragem das expectativas, reiterando que vai perseverar na sua tarefa de fazê-las convergir às metas. Para o Copom de fevereiro, as apostas de Selic, que ontem estavam bem ajustadas para uma alta de 150 pontos-base, não mudaram muito com o texto, mas o mercado parece ver agora maior chance de um ciclo mais extenso. A ponta longa teve alguma volatilidade à tarde, alinhada à variação de humor no exterior.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 11,625% (regular) e 11,62% (estendida), de 11,384% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 10,669% para 10,69% na regular, mas na estendida voltou a 10,645%. A do DI para janeiro de 2027 terminou em 10,60% (regular) e 10,54% (estendida), de 10,682%.

Durante toda a quinta-feira pós-Copom, a curva sustentou a reação considerada clássica quando se tem uma surpresa hawkish com o comunicado, com a desinclinação se estabelecendo logo nos primeiros minutos. No comunicado, o Banco Central já encomendou outra alta de 1,5 ponto porcentual da Selic em fevereiro, o que funciona quase como um piso para o mercado, embora alguns economistas sigam apostando numa desaceleração do ritmo, caso do Banco Inter. “Mantemos nossa expectativa de uma alta menor em fevereiro, de 1 ponto, considerando um impacto maior da queda da atividade na inflação futura, bem como o arrefecimento recente dos preços de matérias-primas que ainda não tiveram impacto nos preços ao consumidor”, afirma a economista-chefe Rafaela Vitória.

As dúvidas sobre como e quando a atividade mais fraca vai bater na inflação, as expectativas para o IPCA em 2022 e 2023 já deslocadas das metas e o recado do BC no comunicado fortaleceram a ideia de que o Copom pode optar por estender o ciclo, em vez de elevar as doses. Com a elevação da Selic ontem, o BC brasileiro é destaque entre os bancos centrais que mais subiram juros no ano e agora não é mais visto como “atrás da curva”.

Nos cálculos da Greenbay Investimentos, a curva projeta Selic subindo até maio, chegando a 12,75%, e depois, no segundo semestre, embute trajetória de queda para fechar o ano em 12%. Para o Copom de fevereiro, os agora 152 pontos-base precificados indicam pouco menos de 10% de chance de aceleração do ritmo para 1,75 ponto, enquanto ontem a probabilidade era de 100% para 1,5 ponto. Entre os economistas, a previsão é de Selic terminal de 11,75% ou acima para 33 de 43 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast.

Nesta sexta-feira, o IPCA de novembro pode testar o desenho da curva caso traga um número mais baixo do que o esperado. Na pesquisa do Projeções Broadcast, a mediana é de 1,10%, ante 1,25% em outubro, mas a taxa em 12 meses deve acelerar a 10,90% (mediana), de 10,67%. Para a abertura do dado, a previsão é de arrefecimento para a maioria dos preços.

O Tesouro Nacional elevou os lotes de prefixados no leilão desta quinta-feira, mas não conseguiu vender integralmente a oferta de NTN-F, que era de 1,5 milhão, tendo sido vendidas 945 mil. O lote de 7,5 milhões de LTN foi integralmente absorvido.