MINEIRO: “Brasil precisa investir em conhecimento para agregar valor no mercado internacional”

O Brasil tem o maior rebanho do mundo, com 200 milhões de cabeças de gado, mas certamente se, você comer um delicioso e tenro pedaço de carne, é bem possível que pense que o produto é argentino. Pode ser injusto, mas por enquanto é a verdade. A carne brasileira ainda não se tornou sinônimo de qualidade e a resposta é simples – e vem do criador e proprietário da Central Bela Vista, Jovelino Mineiro. “O nelore precisa ser cada dia mais precoce e só vamos conseguir isso com conhecimento. Caso contrário, continuaremos conhecidos como maior rebanho do mundo, maior exportador e com o menor faturamento”, diz. O fazendeiro, que já foi sócio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na fazenda Buritis, hoje não mais pertencente à família Cardoso, sabe do que está falando. Por isso a Central Bela Vista mantém um convênio de cooperação científico-tecnológica com a Unesp Botucatu. No final do ano passado, foi inaugurado dentro da Central um Laboratório de Qualidade e Certificação da Carne com objetivo de desenvolver padrões de produção e classificação de carcaças, bem como estudar a maciez da carne em animais de diferentes idades para conseguir aprimorar a qualidade e elevar o preço do produto brasileiro no mercado internacional.

O laboratório dá continuidade ao programa de melhoramento iniciado pela Central há vários anos. Ele está diretamente relacionado ao Genoma Funcional do Boi, que teve início em 2003 também em parceria com a Unesp. O projeto já conta com um banco de dados de 22 mil genes mapeados e 300 marcadores moleculares, em outras palavras, trechos de DNA responsáveis por determinadas peculiaridades. “Procuramos diferenças na molécula do DNA que possam estar relacionadas a características produtivas”, explica Luiz Roberto Furlan, responsável pelo Genoma Funcional do Boi. O projeto agora está focado na elaboração de um protocolo para validar os marcadores. A idéia é que a validação seja a mais ampla possível. Para isso, serão abatidos três mil animais, filhos de 300 touros nelore genotipados. “Com os marcadores será possível saber se o animal terá ou não carne macia muito antes de ser abatido”, diz Furlan. Isso reduzirá significativamente o tempo de melhoramento e agregará valor ao produto nacional. Em um futuro não tão distante, a carne brasileira de origem zebuína poderá ser apresentada por dois diferenciais, uma carne macia e magra. Ao contrário da carne argentina, de origem taurina, que, apesar da palatabilidade, tem muita gordura e não é recomendada para o dia-a-dia.

No entanto, para que o Brasil perca o estigma de ter uma carne barata e de baixa qualidade, há muito a ser feito. Atualmente, os EUA inseminam 12% de suas vacas de corte. Já o Brasil insemina apenas 3%. Além disso, enquanto o mundo industrializa 260 milhões de doses de sêmen, a industrialização brasileira não passa de 4,5 milhões de doses. Neste sentido, Jovelino Mineiro ressalta a importância dos programas de melhoramento desenvolvidos junto com os criadores. Segundo ele, só com conhecimento o Brasil conseguirá valorizar o seu produto. “A Argentina exporta um terço do volume embarcado pelo Brasil, mas consegue obter metade da receita das exportações do Brasil”, diz. Resultado de um investimento de R$ 380 milhões, o Laboratório da Carne é uma ferramenta para certificar que o melhoramento genético feito no campo está resultando em melhoria na carne. “Com os resultados obtidos no laboratório, os criadores vão poder estabelecer sistemas de produção voltados à obtenção de carne de qualidade superior”, diz Luiz Artur Loyola Chardulo, coordenador geral do Laboratório.