Imagine ter de tomar uma decisão de plantio e controlar o andamento de uma safra inteira baseado numa pilha de papéis com dados estatísticos, como apontamentos dos controles de aplicação de insumo, utilização de mão de obra, abertura de ordens de serviço e levantamento fitossanitário, tudo escrito à mão. Não precisa ser um especialista no assunto para saber que dar cabo de uma missão como essa seria impossível sem debruçar-se por dias e noites sobre esses documentos. Pedro Valente, diretor de divisão agro, do Grupo André Maggi (Amaggi), sediado em Rondonópolis, em Mato Grosso, que o diga. Até o ano passado, a gestão da lavoura do Grupo era feito dessa maneira. “Era um processo muito demorado e muitas vezes baseado em informações imprecisas”, diz Valente. “Isso aumentava a chance de se tomar uma decisão equivocada e ter gastos desnecessários.” O Grupo André Maggi administra, apenas na divisão agro, 218,7 mil hectares para a agricultura, com os cultivos de soja, milho e algodão, além de pecuária e área de reflorestamento. Na última safra, o Grupo composto pela Amaggi Exportação e Importação, Divisão Agro, Hermasa Navegação da Amazônia e Divisão Energia, que empregam quatro mil funcionários, movimentou cerca de US$ 4 bilhões e comercializou 4,4 milhões de toneladas de grãos.

Além de coordenar quatro mil funcionários, e de olho na otimização da gestão da produção agrícola, Valente decidiu apostar em tecnologia. Desde 2010, ele e os funcionários vêm trocando informações e dados para aperfeiçoar o aplicativo de automação dos controles, que hoje já é utilizado com eficiência em tablets. Até agora o Grupo investiu mais de R$ 300 mil no desenvolvimento do software e na aquisição de tablets, com telas de dez polegadas, equipados com GPS. De acordo com Ricardo Moreira – gerente de controle de produção de uma das fazendas do Amaggi, a Tucunaré, com 44 mil hectares, em Sapezal (MT) –, o aplicativo de controle permite, por exemplo, a rastreabilidade na infestação de pragas e doenças que atingem as lavouras. “Isso aumenta a precisão nas ações de controle”, afirma Moreira.

Além disso, o tempo de inserção das informações no banco de dados, que levava cinco dias, passou a ser feito diariamente, e o uso de papel caiu cerca de 50 mil folhas por safra, uma vez que os dados são inseridos diretamente no sistema – foram distribuídos tablets para 120 funcionários da fazenda. “Com isso, registramos até agora uma redução de horas de máquinas em operação, e de combustível”, diz Valente. “A produtividade da lavoura também melhorou.” Da temporada 2011 para a 2012, a soja passou de 54,5 sacas para 56,1 sacas por hectare, o milho, de 68,8 sacas para 106,5, e o algodão, de 231,9 arrobas por hectare para 240,5 arrobas por hectare.

Com os tablets a tiracolo, os funcionários, monitorados via satélite, anotam em tempo real as condições da lavoura e registram os pontos críticos. Eles ainda podem, por exemplo, fotografar e gravar mensagens de voz em cada ponto de talhão que necessite de alguma aplicação de insumo. “Além dos controles agrícolas, eles têm acesso a alguns documentos que auxiliam nas atividades”, diz Moreira. “Eles acessam os mapas das fazendas, manuais de máquinas agrícolas, procedimentos de saúde e segurança no trabalho e ambiental.” Segundo ele, com a coleta de dados através do tablet, os responsáveis por tomar decisões recebem do aplicativo um balanço de tudo o que foi registrado, ou seja, os chamados indicadores operacionais. “Tomo as minhas decisões com mais segurança e certo de que os dados apresentados estão precisos”, afirma Valente. Até chegar a esse nível de coleta de dados, de acordo com o diretor, os funcionários passaram por um treinamento de mais de 100 horas.

Com o investimento em tecnologia de ponta, o Grupo Amaggi passou a contar com inúmeras certificações. Afinal de contas, controlar o uso de insumos e melhorar a qualidade de trabalho dos funcionários respeita o quesito sustentabilidade. Em 2011, nada menos de 22 unidades receberam a certificação ISO 14001, renovada no ano passado pela ABS Quality Evaluations, empresa que audita o sistema de gestão ambiental. Outro certificado adquirido foi o Pro Terra Standard. Em 2012, a produção de 1,3 milhão de toneladas de soja pelo Grupo, adquirida de 1.200 fornecedores, foi certificada. Esse volume representa 31% do total de soja certificada no mundo. O Grupo André Maggi também se tornou a primeira empresa com atuação no agronegócio, no mundo, a receber a certificação por produzir soja de acordo com os princípios e critérios da Round Table on Responsible Soy. No ano passado, a Agropecuária Maggi recebeu o selo do Instituto Algodão Social, nas Fazendas Tucunaré, Itamarati e Água Quente, em Mato Grosso. Esse selo atesta a correta aplicação da legislação trabalhista rural, das normas de segurança do trabalho e de proteção ao meio ambiente, incluindo o incentivo à prática de ações sociais no campo.