Quem nunca imaginou largar tudo para o ar e ir viver em uma ilha? E apostar em um visual alternativo, calçar chinelos o dia todo, ter uma horta, uma pousada e, de quebra, ganhar dinheiro? A ideia que para a maioria das pessoas não passa de sonho, ao empresário José Maria Sultanum foi providencial. Há 21 anos, Zé Maria, como é mais conhecido, trocou a correria da cidade do Recife pelo arquipélago de Fernando de Noronha.

Na época, Zé Maria vendeu sua parte nos negócios da família que estavam sob o seu comando, na rede pernambucana de supermercados Secos & Molhados. “Troquei alguns milhões de reais por um milhão de dias em qualidade de vida”, diz. Mas, mesmo na ilha, ele não perdeu o faro de empresário. Hoje, além da boa vida que leva, Zé Maria é dono de pousada, restaurante, supermercado, agência de turismo, locadoras de buggy e barco, e também é produtor rural.

Administra tudo isso deitado em uma rede com vista para o mar. “Aos 35 anos, quando decidi me mudar para Fernando de Noronha, o que eu queria era pescar, receber os amigos e cozinhar”, diz Zé Maria, hoje com 56 anos. “Voltei a ser empresário porque uma coisa acabou puxando a outra.”

O arquipélago de 21 ilhas, ilhotas e rochedos vulcânicos, que pertence ao Estado de Pernambuco, é um dos santuários ecológicos mais importantes do mundo. Desde 2001, a Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco) classifica o local como Patrimônio Cultural da Humanidade. É em Fernando de Noronha que está o ponto de observação de golfinhos mais regular do planeta.

O insight de viver nesse santuário rendeu ao empresário a fama de ser o dono da pousada mais desejada do lugar, a pousada Zé Maria, e de ser o segundo maior produtor de sementes de pimenta do Brasil.

A produção surgiu graças aos dotes culinários de Zé Maria. Para ele, sempre que um prato pede um toque especial, a solução é acrescentar alguma espécie de pimenta. “Dou até aulas de gastronomia, mas nunca li uma receita”, diz.

Atualmente, Zé Maria pesquisa 548 tipos de sementes de pimentas para cruzamento das variedades e as troca entre produtores de todo o mundo. Em 28,5 hectares, 50 mil plantas produzem oito toneladas das frutas por mês, entre elas a biquinho, decheiro, malagueta, dedode-moça, chapéu-de-bispo e cumari, e exóticas como a mexicana jalapeño e a caribenha hababero. No total são cultivados 80 tipos em Fernando de Noronha, ou simplesmente Noronha, para os íntimos.

Zé Maria conta que a sua produção de pimentas começou no entorno de sua casa, ao lado do Morro do Pico, um dos cartõespostais da ilha e ponto mais alto do arquipélago. Todas as vezes que os amigos chegavam para apreciar suas receitas, ele corria para o quintal para se abastecer de pimentas fresquinhas. Foi por conta de tantas visitas que a sua casa se tornou uma pousada com 14 bangalôs, porque somente podem receber hóspedes os locais registrados junto à administração da ilha.

“No início, eu nem cobrava nada”, diz. “Os amigos deixavam o quanto queriam.” Com o tempo, a pousada se transformou em um negócio. Foi assim também com as pimentas. Atualmente, no cardápio do restaurante da pousada 80% dos pratos levam a sua picante assinatura.

No plantio próximo à pousada são cultivados dois mil pés de pimenta. O restante da plantação está em duas fazendas, uma em Paratibe, na região metropolitana de Recife, e outra em Pedra de Fogo, na Paraíba. As pimentas são vendidas em conserva e sortidas, nos Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. O quilo sortido varia de R$ 15 a R$ 20. “Tenho sorte nos negócios”, diz Zé Maria. “Essa é uma boa faixa de preço.”

Segundo a Embrapa Hortaliças, há uma demanda crescente por pimenta no Brasil. O mercado é estimado em R$ 80 milhões, por ano. Esse cenário tem impulsionado o aumento do cultivo no País, que conta com uma área de cerca de dois mil hectares, sempre em pequenas propriedades. Hoje, os principais Estados produtores são Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul. Além da pimenta, Zé Maria completa o seu roçado com uma horta orgânica e hidropônica, de onde saem 46 produtos, como alface, rúcula, agrião, cebolinha, coentro, tomate, chicória e salsa. Tudo para deixar satisfeitos os mais de 80 hóspedes que recebe por vez em sua pousada, com diárias que variam, em baixa temporada, de R$ 600 a R$ 1.850 por pessoa. Nas horas vagas, ele ainda se dedica à pescaria, atividade que também rendeu um outro negócio.

O Festival Gastronômico da Pousada Zé Maria oferece nas noites de quarta e sábado um bufê com mais de 50 opções de pratos. A maioria é à base de peixe e pescados, preparada por ele mesmo. “Peixe é mais uma de minhas paixões”, diz Zé Maria. “Nunca pesquisei mercado. As coisas aconteceram naturalmente.”