Aos 28 anos de idade, o economista Alexandre Plassa, dono da Tubos Ipiranga, empresa de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, especializada em condutores de aço para construção pesada, decidiu ser esportista saltando obstáculos a cavalo. A escolha pelo hipismo aconteceu quando Plassa viu uma propaganda da hípica da cidade, oferecendo uma semana de aulas grátis. Até aquele momento, os animais faziam parte de lembranças dos tempos de criança e das viagens com a mãe, que era apaixonada por passeios a cavalo. Quatro anos depois das primeiras aulas, Plassa já era um competidor de primeira linha, com inúmeros prêmios obtidos em torneios de salto na categoria dos atletas amadores. Mas ele não ficou somente nas competições. O empresário que criou a Tubos Ipiranga em 1996, e tem entre seus clientes empresas como a Petrobras, comprou um haras em Itu, no interior de São Paulo, e hoje é dono de um dos 16 cavalos da raça brasileiro de hipismo que estão disputando vagas para a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.

Quando decidiu se dedicar ao esporte, Plassa queria ser um competidor de primeira linha, ainda que fosse amador. Todos os dias, o empresário saía da sede da Ipiranga, às 18 horas, e treinava exaustivamente até a meia-noite. “Aos 29 anos comecei a competir”, diz. “E competição é como um bichinho que te morde: cada vez você quer ir além do que já conquistou.” Plassa exibe como o mais importante troféu uma medalha de ouro conquistada no Visa Indoor 2004, torneio realizado na Hípica Paulista, em São Paulo, no qual saltou com seu cavalo 1,1 metro. Na época, a vontade de competir era tão grande que nem o casamento fez Plassa parar com os treinos noturnos e as competições em fins de semana, em cidades do interior paulista, além de torneios no Rio de Janeiro e no Paraná. Mas, aos 31 anos, com o nascimento da filha Ana Carolina, Plassa teve de fazer uma escolha e passou a ficar em casa. “Não treinar significa cair, por isso saí das competições”, diz. Ana Carolina tem hoje 8 anos de idade e, como o pai, é apaixonada por montaria. No haras de Itu, a menina é dona de um pônei negro que a acompanha por todo lado, à espera de um mimo. Mas os olhos de Ana estão sempre grudados nos cavalos do pai, animais que monta apenas sob guarda. 

“Dentro de dois anos, Ana começará a treinar para competições”, diz Plassa. “Aí, iremos nós dois nos divertir em torneios.” Ao lado do pai, agarrada em uma de suas pernas, a garotinha balança a cabeça em sinal de aprovação. 

O haras de Itu, que passou a se chamar Ipiranga, a exemplo da fábrica de tubos, foi adquirido em 2001. Na época, Plassa andava à procura de um lugar próximo de São Bernardo do Campo e que fosse de fácil acesso. “Foi amor à primeira vista. Vi o haras em um sábado e na quinta-feira o negócio já estava fechado.” A propriedade pertencia a Rubens Ermírio de Moraes, o mais novo dos cinco filhos do empresário Antonio Ermírio de Moraes, um dos controladores do grupo Votorantim, que naquele ano era o principal cliente da Tubos Ipiranga. “Foi fácil fechar o negócio”, diz Plassa. “Estava quase tudo pronto no haras, mas parado.” Ao entrar na propriedade, o empresário construiu uma pista de treino e investiu na formação dos pastos para produzir feno de grama coast cross, uma planta desenvolvida no Estado da Geórgia, nos Estados Unidos, que é muito palatável, macia e altamente nutritiva. 

O cuidado com a infraestrutura se justifica porque o projeto para o haras nunca foi encher a área com animais de qualquer calibre. Ao contrário: desde o início Plassa decidiu investir em cavalos atletas,com potencial para disputas de provas hípicas. Nesse tempo, nasceram cerca de 20 animais, dos quais quatro foram vendidos por R$ 750 mil. Por ano, nascem apenas três cavalos. “Nunca pensei em quantidade, mas em animais superiores”, diz Plassa. “A receita está dando certo para mim: a propriedade se paga e ainda me divirto.”

Atualmente, o plantel é de 18 animais. Entre eles está Aachen, da Ipiranga, considerado o Neymar do haras, por estar na disputa por uma vaga na equipe de cavalos atletas que participarão dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Aachen é filho da égua Vieira, um xodó do haras que, aos 11 anos, está em sua terceira cria. No ano passado, Aachen foi classificado para a segunda fase do Projeto Olímpico Rio 2016 para Cavalos Novos BH, uma parceria da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo de Hipismo (ABCCH) e da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), iniciada em janeiro deste ano. Até o mês de julho, quando sairá a lista dos escolhidos para a terceira fase, Aachen será acompanhado e monitorado em provas e treinamentos clínicos, juntamente com os demais animais classificados. O projeto termina em julho de 2015.

Por ser a estrela da casa, atualmente Aachen é montado somente por seu treinador, Luís Gustavo Godinho, advogado graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie e aprovado na OAB, em 2000, mas que jamais vestiu um terno para defender uma causa. Nascido em São Roque (SP), município com muitos haras e chácaras de hospedagem de animais, Godinho começou a competir no hipismo rural na década de 1990, aos 11 anos. O hipismo clássico entrou em sua vida aos 17 anos. “O hipismo rural é divertido, mas é uma modalidade praticada só no Brasil”, diz. “No clássico, a história é outra.” No haras Ipiranga, onde trabalha desde que Plassa assumiu a propriedade, além de acompanhar de perto tudo que se refere a Aachen e montá-lo em competições, Godinho é responsável pela triagem, pela avaliação e pelo treinamento de todos os animais. Em geral, depois dos cavalos domados, Godinho leva pelo menos um ano para colocá-los em competição. “Isso é só para estrear, pulando obstáculos de dez centímetros”, diz Godinho. “Um cavalo está maduro, como chamamos os animais atletas, com cerca de quatro anos de treino, em geral aos 8 anos de idade.” 

De acordo com Godinho, no caso de Aachen, que iniciou sua vida esportiva há pouco tempo e que terá sete anos na Olimpíada, o ideal seria pelo menos mais um ano de treino. “Não há um padrão, mas os grandes cavalos que disputam Olimpíadas têm acima de 10 anos”, diz. Por isso, Godinho acredita em um futuro promissor, visando mais uma Olimpíada, em 2020, para o jovem Aachen, um cavalo que tem como características força, respeito pelos obstáculos e montabilidade – termo inventado pelos treinadores para designar animais fáceis de serem conduzidos. “Olhe o Baloubet du Rouet, montado por Rodrigo Pessoa, que refugou nos Jogos Olímpicos de Sydney e perdeu o ouro que era dado como certo”, lembra Godinho. “Quatro anos depois, em 2004, foi campeão olímpico em Atenas.” Para Plassa, que olha Aachen como mais uma de suas apostas certeiras, a simples indicação a uma vaga em 2016 já vem sendo motivo de comemoração. “Aachen é um sinal de que estamos no sentido certo da criação”, diz o empresário. “Então, vamos em busca de outros do mesmo calibre.”