Todos os dias, a fábrica do Laticínio Gonçalves Salles, em São Sebastião do Paraíso, no sul de Minas Gerais, recebe 55 mil litros de leite e até 90 mil quilos de creme de leite, processados por laticínios parceiros na região. Essa matéria-prima será transformada em produtos como manteiga, queijos e doce de leite de uma das marcas mais tradicionais no País: a Aviação. Para atender a essa demanda, a empresa trabalha com quase 150 produtores, que estão em um raio de até 50 quilômetros de sua unidade de transformação, e se tornou referência nacional, principalmente, no controle de qualidade.

O bom desempenho levou o Gon–çalves Salles, comandado pelo CEO Geraldo Alvarenga, a ser o destaque no setor de LATICÍNIOS no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2015. Em 2014, a receita da empresa cresceu cerca de 18%: foram R$ 151 milhões, ante R$ 127 no ano anterior. E não deve parar por aí. A partir de 2016, a terceira geração da família do Gonçalves Salles, que está no comando da empresa, dará início à construção de uma nova fábrica em São Sebastião do Paraíso. Como todas as decisões que envolvem essa companhia quase centenária – a mudança na embalagem da Aviação levou 93 anos para acontecer e, mesmo assim, é quase imperceptível –, a expansão precisou de 15 meses para ser aprovada. O projeto original recebeu inúmeras modificações. A primeira ideia era aumentar em 50% a atual produção de 700 toneladas por mês de manteiga e investir R$ 25 milhões. Agora, ficou acertado que a produção será triplicada e o investimento vai para R$ 50 milhões. O novo orçamento prevê a compra dos melhores equipamentos importados e mudanças industriais que garantam redução de custos e ganhos de produtividade. “A nova geração no comando está impulsionando a qualidade”, diz Antonio José Xavier, sócio-fundador da AEX Consultoria, especializada em gestão de qualidade e técnicas em laticínios. “Assim, o que era bom, fica melhor.”

De acordo com o vice-presidente da empresa, Roberto Rezende Pimenta Filho, a nova fábrica vai proporcionar um salto para o Gonçalves Salles. A manteiga Aviação poderá ser exportada e outros produtos deverão ganhar mercado no Brasil. “Ainda temos uma exportação muito tímida”, diz Pimenta Filho. “Como o mercado brasileiro é grande, ainda não damos conta de atender a demanda de todo mundo.”  

O Brasil possui quase um milhão de produtores de leite, dos quais cerca de 50 mil obtêm de seus rebanhos acima de 500 litros, diariamente. “O leite ainda é um produto que compete com a carne, em rebanhos de produção mista”, afirma Xavier. “Mas, hoje a exigência da indústria aumentou, com a inclusão de tecnologia para ter uma matéria-prima de alta qualidade”. Nos últimos anos, os laticínios vêm promovendo uma seleção maior e mais rigorosa de seus fornecedores. No Gonçalves Salles, por exemplo, a certificação passa por uma inspeção, para verificar as condições de higiene e manejo, e uma coleta de leite para análise em laboratório, além da certificação com os históricos de qualidade. “Nosso processo ficou mais rígido há cerca de cinco anos”, diz Marina Portinari, chefe do laboratório de análise clínicas do Gonçalves Salles, que coordena o trabalho de sete profissionais. “Foi um serviço que exigiu parceria com os fornecedores e o desenvolvimento de mais tecnologia.”


Parte essencial nesse processo são os caminhoneiros que coletam o leite nas fazendas. Eles recebem treinamento do laticínio para que todo o processo seja verificado e nenhuma contaminação por bactérias atinja a matéria-prima. São verificados desde o tanque de armazenamento, que deve estar em baixa temperatura – cerca de 4ºC, o que inibe a multiplicação de microrganismos – até a aplicação de testes simples para evitar que leite fora dos padrões prejudique todo um transporte de cerca de cinco mil litros, por veículo. “A coleta bem feita garante a chegada de um leite de ótima qualidade no laticínio”, afirma Marina. Antes de entrar na área de produção, esse leite é submetido a uma nova bateria de testes no laboratório, onde são comprovadas a pureza (deve estar sem antibióticos, por exemplo) e a quantidade de gorduras e proteínas, que garantem um bônus de cerca de 10% para os produtores.