São Paulo, 24/12 – A oferta restrita de leite no segundo semestre e a reação no consumo interno contribuíram para impulsionar as cotações do leite pago ao produtor este ano. Com isso, desde janeiro até novembro – pagamento mais recente -, o preço médio nacional calculado pela Scot Consultoria subiu 41%. Já em relação a igual intervalo do ano passado, a Scot informa que a alta foi de 20,2%. A média considera 18 Estados produtores de leite no País.

“A produção permaneceu enxuta, influenciada pelo clima, e a concorrência acirrada entre as indústrias fez os preços subirem”, descreve a Scot em sua “Carta Leite”, assinada pela analista de mercado Sonia Honigmann. “Por esse motivo também as importações de lácteos após julho cresceram, diminuindo a concorrência entre as indústrias.”

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Ainda conforme a Scot, a falta de chuvas nas regiões produtoras afetou tanto a produção de grãos – encarecendo custos – quanto a disponibilidade de pastagens. “Na comparação entre 2019 e 2020, os custos da atividade cresceram ao longo dos meses, puxados principalmente pelas altas nos custos dos alimentos concentrados, como milho, soja e algodão”, cita a analista. De acordo com o levantamento da Scot, o farelo de soja em São Paulo, por exemplo, ficou 22,5% mais caro na média de janeiro a dezembro ante igual período de 2019. Já o milho em grão se valorizou 38%.

Entretanto, mesmo pressionado pelos custos, o produtor ainda conseguiu rentabilidade, em função do aumento do preço do leite pago ao pecuarista, diz a consultoria.

Já para novembro e dezembro – em relação ao leite captado em novembro e pago em dezembro -, a tendência é de estabilidade de preços, em razão da oferta ajustada e das condições de clima e de preços de insumos, “diferentemente padrão de comportamento da oferta de leite no campo nos meses em questão”.

Em relação às margens de lucro, estas deverão ficar apertadas no médio prazo, com a queda prevista nos preços do leite pago ao produtor nos próximos pagamentos, que serão feitos em período de safra, e insumos ainda em patamares elevados. De todo modo, mesmo sob esta perspectiva, deve haver aumento na produção leiteira do País, em razão da queda do câmbio, que reduz custos de produção, e do aumento de chuvas, principalmente no fim deste ano e no primeiro bimestre de 2021.

“Dessa forma, o viés é de baixa no mercado do leite até fevereiro/março de 2021”, cita a Scot. “No entanto, a pressão deverá ser mais amena nesta safra.” Além disso, a consultoria projeta que para o ano que vem é esperado um preço médio do leite acima do registrado em 2020. No entanto, alerta para os custos de produção, que poderão cair comparativamente com 2020, mas ainda assim se manterão em patamares mais altos que em anos anteriores.

Já do lado da demanda, acredita-se numa recuperação do cenário macroeconômico no ano que vem, ainda que existam muitas incertezas quanto aos fatores como a pandemia (segunda onda/vacinação), fim do auxílio emergencial e recuperação da economia mundial, que podem prejudicar a oferta e demanda de lácteos. “Há ainda uma previsão de forte crescimento da demanda na Ásia, o que é bom para as exportações brasileiras em geral”, conclui a Scot.