O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca esta semana na capital federal com missões importantes, como definir o grupo de trabalho que irá preparar a próxima gestão do Ministério da Defesa e bater o martelo sobre o texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que irá abrir espaço fiscal para o Bolsa Família de R$ 600 e outras promessas sociais do petista. Inicialmente a previsão era que o presidente eleito retornasse a Brasília nesta terça-feira, 22, mas ele passa por uma recuperação de uma cirurgia de retirada de lesão na laringe e sua assessoria diz que a ida para Brasília pode ficar para a quarta-feira, 23.

A cirurgia de Lula também vai adiar alguns anúncios, como a escolha do grupo de trabalho da Defesa. Na semana passada, o ex-ministro Aloizio Mercadante, um dos coordenadores da equipe de transição, disse que a ideia era anunciar os integrantes do grupo temático nesta segunda-feira, 21, mas agora a previsão é de que a divulgação aconteça na terça. “O presidente fez uma pequena intervenção cirúrgica, ficou para amanhã”, declarou Mercadante ao Estadão.

O grupo que vai fazer a ponte com os militares é o último a ser definido pela equipe de transição para o futuro governo Lula. Na semana passada, Mercadante reconheceu em entrevista coletiva que há um “problema institucional” envolvendo os militares, mas ressalvou que não espera dificuldade para o governo eleito construir uma boa relação.

“É uma instituição secular, organizada, diagnóstica, não tem maiores preocupações em relação a essa agenda. Pode ter algumas questões pontuais. Tem um problema institucional, o lugar das Forças Armadas, a relação com a Constituição, mas isso não é propriamente um tema do grupo de trabalho. Eu acho que não tem nenhuma dificuldade e nós faremos uma boa solução”, afirmou.

Os militares foram próximos da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL) e tiveram intensa participação no seu governo, comandando não só o Ministério da Defesa, mas pastas como Minas e Energia e Saúde. Com o protesto de bolsonaristas, que estão acampados de quartéis pedindo a anulação da eleição de Lula, as Forças Armadas adotaram uma postura dúbia. No dia 11 de novembro, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica declararam serem a favor do direito de manifestação, mas pregaram contra “excessos”.

Ex-ministros da Defesa, o senador Jaques Wagner, Nelson Jobim e Celso Amorim fizeram uma interlocução com os militares durante a campanha eleitoral. Na semana passada, Wagner também disse que conversa com Raul Jungmann e Aldo Rebelo, outros ex-titulares da pasta, mas evitou dizer se eles farão parte da equipe de transição.

Aliados do PT tem defendido que a definição do ministro da Defesa seja uma das primeiras a serem anunciadas. A avaliação é que a definição de um porta-voz para a área ajudaria a construir um diálogo com os militares, poderia servir para acalmar os setores mais radicais e jogaria as discussões sobre a área para “o futuro”, evitando que os atuais comandantes das três Forças Armadas e o atual ministro da Defesa ditassem os rumos.

Além da definição na Defesa, Lula também tem sido cobrado a anunciar o nome do ministro da Fazenda. O presidente eleito já disse que iria começar a anunciar os ministros quando voltasse da viagem que fez para a COP-27, mas ainda não há previsão de anúncio oficial. Desde o começo da campanha, Lula deixou claro que irá escolher um político para comandar a economia em seu governo. Entre os cotados estão integrantes da cúpula do PT que intermediaram conversas com a agentes do mercado no período eleitoral, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, o senador eleito Wellington Dias e o deputado Alexandre Padilha.

A escolha do ministro é vista como essencial por líderes no Congresso para que a PEC da Transição avance. A equipe de transição já apresentou um anteprojeto, mas ele ainda vai ser modificado após sugestões da cúpula do Poder Legislativo antes de começar a tramitar oficialmente.

Sem uma coordenação clara, a equipe da economia na transição e a ala política que negocia o texto da PEC tem trabalhado separadas. A falta de unidade na área ficou evidente quando o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega chegou a anunciar que o indicação de Ilan Goldfajn para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) poderia ser revista. Ilan assumiu o Banco Central após o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e sua indicação ao BID foi feita pelo governo de Jair Bolsonaro. Mesmo com a posição de Mantega, o PT recuou e deu aval para ele disputar. No domingo, 20, quando Ilan foi eleito, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) o parabenizou e disse que fazia isso em nome de Lula.

Em entrevista a jornalista Miriam Leitão, do jornal O Globo, Alckmin afirmou que Lula irá anunciar gradualmente o nome dos ministros. “Posso falar por minha experiência, já fui quatro vezes governador. Vai anunciar aos poucos. Não é uma coisa fácil”, declarou. O vice-presidente eleito, que também comanda a equipe de transição, disse também que a montagem dos ministérios deverá ter início nesta semana. “Não é fácil montar um governo, ter governabilidade. Mas o presidente Lula, agora voltando (de viagem), vai se debruçar na questão dos ministros e começar a anunciar”, disse.

Para esta semana também estão previstas reuniões entre os grupos temáticos da transição as equipes dos ministérios de Bolsonaro. Na terça-feira, 22, o grupo de trabalho do desenvolvimento social, comandado pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), irá se reunir com o ministro da Cidadania, Ronaldo Bento. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também deve receber o senador Humberto Costa (PT-PE) e o deputado Alexandre Padilha para debater sobre a transição para a área.