Se fosse necessário eleger uma palavra para definir a grife francesa Hermès, seria “elegância”. Uma das marcas mais desejadas do mundo, símbolo de exclusividade e de sofisticação, a empresa fundada em 1837 por Thierry Hermès, nascido na Alemanha, filho de pai francês e mãe alemã, prima pela sobriedade e passa ao largo da ostentação que costuma conduzir suas concorrentes diretas. Tanta tradição, que a faz ignorar as tendências e seguir uma cartilha própria, não a impede de aliar, em sua extensa linha de produtos, tecnologia e inovação, o que enlouquece os consumidores mais exigentes do planeta. Mas a alma da célebre maison da rua Faubourg Saint-Honoré, em Paris, ainda está nas suas origens, segundo o CEO Patrick Thomas. “Nós nascemos como uma selaria”, diz Thomas. “Nosso fundador desenvolveu selas e arreios que foram premiados como os mais belos do mundo.” Para celebrar as origens, a grife lançou mais uma sela, a Hermès Cavale, durante o concurso de salto internacional Saut Hermès 2013, entre 12 e 14 de abril, no Grand Palais, na capital francesa.

Segundo Marion Bardet, diretora do departamento de equitação da grife, um dos pontos altos do novo item de selaria da Hermès é o conforto, tanto para a montaria quanto para o cavaleiro. Tudo por causa do equilíbrio de seus pontos de pressão. “Normalmente, uma sela demora de três a seis meses para ficar completamente adaptada”, afirma Marion. “Na Hermès Cavale, a sensação de ajuste e acomodação é praticamente imediata.” Ela foi projetada pelo seleiro e mestre artesão Laurent Goblet, que contou com a consultoria do premiado cavaleiro Simon Delestre. Os dois se esmeraram no design ergométrico do assento, que distribui com perfeição o peso do cavaleiro no lombo e nas espáduas do cavalo e no ajuste das pernas. “Eu preciso de uma sela que se funde com o cavalo”, disse Delestre. “Um selim que se encaixa bem  desempenha um papel importante para evitar choques e melhorar os resultados.”

Outra característica importante de uma sela é a qualidade de seu couro. A Hermès Cavale é produzida em couro de bezerro e pode ser de salto e adestramento – também para amadores, mas é produzida apenas sob encomenda. “Cada sela é única”, afirma Marion. Em 2013, até o momento, foram confeccionadas 500 unidades, 100% produzidas manualmente por um único artesão, que assume o produto do início ao fim. Como recebem uma numeração, quando voltam para algum reparo ou manutenção, são endereçadas ao expert que a concebeu. Por toda essa exclusividade, há um custo: o valor inicial da sela é de E 5,2 mil. Os brasileiros também poderão conferir a nova peça durante a 2a Copa Hermès, que será realizada nos dias 25 e 26 de maio, na fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, no interior de São Paulo.

A relação da grife francesa com a equitação brasileira é íntima e antiga. Começou com Nelson Pessoa – que atualmente treina o colombiano Daniel Bluman, um dos cavaleiros parceiros da marca – e se estendeu para seu filho, Rodrigo Pessoa, que inspirou, inclusive, a sela Hermès Brasília. A marca tem, hoje, dez cavaleiros parceiros, para os quais presta apoio técnico e material. Em resposta ao investimento, as vendas de artigos de couro e selaria aumentaram 12% em 2012 e duas novas oficinas foram abertas na França. No total geral, a maison teve um faturamento de E 3,48 bilhões, o que resultou em um lucro operacional de E 1,1 bilhão, um aumento de 26% em relação ao ano anterior. Seu valor de mercado reflete sua posição proeminente no mundo do alto luxo: nada menos de E 10,5 bilhões.

A história da Hermès se confunde com o universo equestre. Quando o seleiro Thierry Hermès abriu sua oficina em Paris para vender acessórios em couro, começou com baús para carruagens, selas, rédeas, estribos, botas e luvas. Em 1880, o filho de Thierry, Charles-Émile Hermès, assumiu o negócio e passou a vender selas para a aristocracia. Foi com o advento do automóvel que a Hermès se reinventou. Daí vieram as bolsas e carteiras, a coleção feminina, lenços, gravatas, malas de viagens, perfumes e tantos outros produtos.