São Paulo, 6 – A queda nos preços do trigo foi uma das principais justificativas dadas pela M. Dias Branco para explicar a redução de 2,6% na receita líquida do quarto trimestre de 2017, de R$ 1,363 bilhão, quando comparada ao faturamento obtido no mesmo período de 2016. Em teleconferência com analistas sobre o resultado financeiro da empresa, o diretor de Novos Negócios e Relações com Investidores, Fabio Cefaly, disse que o preço médio de itens como o trigo provocou queda na média de valores das massas, farinhas e farelos no trimestre. Com isso, o chamado “efeito preço” ficou negativo em R$ 34 milhões.

O vice-presidente de Investimentos e Controladoria da companhia, Geraldo Luciano Mattos Júnior, acrescentou que também há um fator sazonal no desempenho dos três últimos meses de 2017. “Os negócios de massas e biscoitos tradicionalmente desaceleram no fim do ano e passam a crescer no início”, lembra. O ritmo de recuperação da economia, no entanto, pode ter contribuído para o resultado negativo do setor, pois “está bem mais lento” do que a empresa esperava. “Em outros momentos de crise brasileira, a retomada foi mais rápida”, disse o executivo, e consequentemente o reflexo no consumo das famílias era mais ágil.

Na mesma linha da receita, o lucro líquido da M. Dias Branco foi 14,5% menor no quarto trimestre, ante igual intervalo de 2016, a R$ 201,9 milhões. No acumulado do ano passado, o lucro da companhia ficou em R$ 844,3 milhões, resultado 7,6% maior que o do período anterior.

Após este desempenho, a empresa está aplicando um reajuste médio de 4% no valor do portfólio de produtos, em razão do aumento nas despesas operacionais.

“Temos uma perspectiva de preços maiores no trigo e estamos fazendo repasses, aplicando novas tabelas, cujos resultados devem ficar visíveis nos demonstrativos do segundo trimestre deste ano. Os custos estão mais elevados e acreditamos que será possível fazer os reajustes para manter o nível do produto que trabalhamos”, afirma Mattos.

Questionado por participantes sobre o reflexo da seca na Argentina, maior fornecedor do trigo importado pelo Brasil, Cefaly destacou que as condições do país vizinho podem contribuir para “termos mais espaço para o aumento de preços” internos.

Investimentos

O plano da M. Dias Branco para 2018 é crescer de forma acelerada nas regiões Sul e Sudeste. Já em 2017, a empresa, que tem sede no Ceará, ressaltou o aumento de 1,5 ponto porcentual no market share de outras regiões fora do Nordeste, para 30,2% da receita do ano, ante 28,7% de participação em 2016. Uma das estratégias para atingir a meta de crescimento é a conclusão de um moinho de trigo em Bento Gonçalves (RS), que deve entrar em operação ainda em 2018.

“Estamos fazendo investimentos em infraestrutura, logística e marketing para alavancar os resultados nessas regiões. Até o momento, as despesas de vendas estão um pouco acima do que vemos no Nordeste, principalmente com armazenagem, mas acreditamos que isto será normalizado ao longo do ano”, explica Cefaly.

Sobre as expectativas com a compra da Piraquê, o vice-presidente disse que a empresa optou por se posicionar apenas após a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). No fim de janeiro, a M. Dias Branco divulgou a aquisição da Piraquê, avaliada em R$ 1,550 bilhão. A empresa fluminense de 65 anos fabrica massas, biscoitos, salgadinhos e refrescos e, entre outubro de 2016 e setembro de 2017, registrou receita líquida total de R$ 717 milhões. No mês passado, a M. Dias Branco adiantou ao Broadcast Agro (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) que espera ganhar participação em outras regiões do País após a compra da Piraquê.