O produtor Sérgio Linck, da região de Sapezal, no bioma amazônico, está feliz. Em mãos, ele carrega uma espiga de milho, até porque a soja que outrora plantou já está colhida e comercializada. A rotação de cultura é, segundo ele, uma importante ferramenta para a conservação do solo. Mas a sua felicidade vai além das lavouras que neste ano colheram bons resultados. Ele faz parte de um seleto grupo de agricultores que utiliza as melhores práticas agrícolas numa região acusada de promover desmatamentos irregulares. Por isso, se diz “blindado” contra qualquer tipo de acusação, seja por agressão ao meio ambiente, seja por qualquer tipo de problema envolvendo questões trabalhistas e sociais nos 1,6 mil hectares que cultiva com soja e milho. Seus passos são vigiados de perto não só por grupos ambientalistas, mas também por empresas como Maggi, Cargill, Bunge e ADM, que financiam e compram toda a produção de soja da região. Quem andar fora da linha, além de não vender seus produtos, não consegue acessar as linhas de crédito colocadas à disposição por essas grandes trades. Essa é a moratória da soja, um movimento conjunto entre produtores e empresas que decidiu transformar problemas em soluções. “Aqui, fazemos tudo certo”, comemora Linck. E há motivos para acreditar nessa afirmação.

Segundo relatório apresentado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), desde que a moratória da soja foi implantada, o índice de desmatamento no bioma amazônico caiu a praticamente zero. Para o presidente do Grupo Maggi, Pedro Jacyr Bongiolo, um dos idealizadores da moratória da soja, antecipar-se a possíveis ataques externos foi uma necessidade. O Grupo faturou em 2007 US$ 1.7 bilhão e plantou 190 mil hectares. “Quando vimos que outras empresas estavam sofrendo ataques por questões socioambientais, achamos por bem ser proativos para que nosso negócio não fosse contaminado”, explica. Num dos mais recentes e inusitados episódios, produtores do Centro-Oeste foram acusados por ativistas europeus do Greenpeace de fornecer produtos oriundos de zonas ilegais, justamente do bioma amazônico, para a fabricação de rações. O problema é que esses alimentos, segundo os ambientalistas, serviriam para engordar os frangos utilizados pela gigante do fast-food McDonald’s em todo o mundo. Conclusão: alardeou-se um boicote à rede de sanduíches. Politicamente corretos, porém pouco informados, os europeus ameaçaram rejeitar a matéria-prima oriunda do Brasil. “Fomos até a Europa conversar com a diretoria do McDonald’s sobre estas questões ambientais e quando voltamos estabelecemos um contato direto com o Greenpeace, que já possuía uma lista de reivindicações para o setor”, diz Bongiolo. Segundo ele, a moratória constava nesta lista.

Num primeiro momento, conta, houve protestos por parte dos produtores contra a ação considerada “radical”. Mas em pouco tempo, os agricultores estavam engajados no sistema, conforme explica o produtor Sérgio Linck. “A moratória da soja tem a ver com responsabilidade e tem todo o meu apoio”, diz. “Temos uma cultura de não valorizar as questões ambientais, mas hoje as exigências neste sentido são muito grandes”, avalia.

OMBRO A OMBRO: O produtor Sérgio Linck, comemora (esq.) os bons resultados do programa ambiental que mantém com Pedro Jacyr Bongiolo (dir.) presidente do Grupo Maggi, do Mato Grosso