Nos últimos anos, a produção agrícola brasileira cresceu em ritmo acelerado. Tanto que a safra atual, de 184 milhões de toneladas de grãos e fibras, congestionou as estradas que levam aos principais portos exportadores, entre eles o de Santos e o de Paranaguá. O que não cresceu nos últimos anos foi a capacidade de estocagem das lavouras brasileiras. Isso deve começar a mudar, com a liberação de R$ 5 bilhões para financiar armazéns privados e de R$ 500 milhões para modernizar e ampliar as instalações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No total, serão R$ 25 bilhões nos próximos cinco anos para financiar silos – com juros subsidiados e prazo de 15 anos para pagamento. “Vamos suprir toda a deficiência de armazenagem”, prometeu o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, no lançamento do Plano Agrícola e Pecuário 2013/2014, no dia 4 de junho, no Palácio do Planalto, em Brasília.

De fato, a capacidade de estocagem de produtos agrícolas deve aumentar bastante nos próximos anos. Hoje, para a safra 2012/2013, os armazéns brasileiros podem guardar apenas 144 milhões de toneladas de grãos, o que obriga com frequência os agricultores a venderem sua produção ou parte dela, logo após a colheita, impedindo-os de escolher um momento de melhor preço. Para Adriano Mallet, da Agrocult, consultoria especializada em treinamento em armazenagem, de Novo Hamburgo (RS), o que se espera no País é uma mudança de cultura. “O produtor sempre teve o hábito de terceirizar a armazenagem, porque, para ele, o conceito de agricultor é só aquele indivíduo que planta”, diz. “Mas o armazém é o cofre do produtor.” Segundo um estudo realizado por Mallet, caso os investimentos não ocorram, ou permaneçam no ritmo dos últimos anos, na safra 2022/2023 a defasagem entre a produção e a capacidade de guardá-la será de 84 milhões de toneladas. Hoje é de 36 milhões.

Com o novo financiamento, o governo pretende aumentar a capacidade de estocagem em 40 milhões de toneladas nos próximos anos. “É a única maneira de amenizar o problema de logística no curto prazo”, diz o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues e coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas. “Construir ferrovias, estradas e portos é mais demorado que construir silos.” Glauber Silveira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), afirma que o plano anunciado pelo governo tem aspectos positivos, mas os problemas de logística ainda permanecerão na safra 2013/2014. “Os gargalos são complexos”, diz. “Mas os armazéns podem ajudar muito a organizar a saída do produto nos portos.” No País, a capacidade de embarque de grãos ao Exterior é estimada em apenas oito milhões de toneladas por mês. “Não dá para mandar mais que isso, porque congestiona os portos.”

Para a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), as medidas devem surtir efeito em pouco tempo. “De imediato, era o plano que precisávamos”, diz Kátia. A CNA participou da elaboração do plano, que também vai destinar um volume maior de dinheiro para o financiamento do plantio da safra 2013/2014 e ampliar as verbas do seguro rural. O total de recursos chega a R$ 136 bilhões, 18% mais do que na safra anterior. Desse montante, R$ 97,6 bilhões serão para custeio e comercialização e R$ 38,4 bilhões para investimento, incluindo máquinas e equipamentos. Aumentaram também os recursos para subvenção do seguro, de um volume de R$ 400 milhões, no ano passado, para R$ 700 milhões, neste ano. “O Brasil comporta tanto um agronegócio pujante quanto uma agricultura familiar que cresce”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff. A participação da presidenta na elaboração do plano mereceu elogios do ministro. “Foram mais de 20 horas de reuniões e a presidenta surpreendeu pela forma como conhece a agricultura”, afirmou Andrade.

Com a agricultura familiar, o governo foi ainda mais generoso. O volume de recursos aumentou 77% em relação ao ano passado, para um total de R$ 39 bilhões. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) terá R$ 21 bilhões, R$ 3 bilhões a mais do que no plano anterior, com juros que variam de 0,5% a 3,5% ao ano. O plano inclui, ainda, um projeto de lei, enviado ao Congresso, criando a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). O órgão será vinculado à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e vai coordenar as políticas do setor e disseminar tecnologias para fomentar a produtividade. “Queremos que mais produtores possam produzir mais com menor ou mesma área”, disse Dilma. Inicialmente, o trabalho será focado nas cadeias de bovinos de corte e leite. “Temos uma produção razoavelmente baixa e que pode aumentar muito”, disse o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas.