A matéria-prima do perfume preferido de Marilyn Monroe, o Chanel nº 5, tem origem no pau-rosa, árvore encontrada desde o sul do México até a Floresta Amazônica. De tão aficionada pelo produto, ela chegou a escandalizar a sociedade americana ao declarar que a única coisa necessária para dormir eram duas gotas de perfume. Pois bem, a essência que tanto cativava a atriz é o linalol, substância que responde pelas notas florais dos perfumes da alta perfumaria, podendo funcionar também como fixador. Até pouco tempo atrás, a única fonte de linalol era o óleo de pau-rosa, árvore atualmente ameaçada de extinção em decorrência da extração do linalol. Mas uma nova fonte da substância foi encontrada. O responsável pela descoberta é o pesquisador Nilson Borlina, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Desde 1998 estudando plantas com alto teor de linalol, em 2001 ele chegou à conclusão de que o manjericão era a mais interessante por conta de características agronômicas, entre elas o crescimento rápido. Nesta época, José Roberto Gonçalves, empresário de Votuporanga, ficou interessado em iniciar a fabricação do produto e entrou em contato com Borlina. Assim, surgiu a Linax Comércio de Óleos Essenciais, que teve recentemente seu linalol de manjericão aprovado pela Givoudan, gigante francesa de comercialização de fragrâncias. “Por enquanto, atendemos pedidos pontuais e estamos negociando contratos de longo prazo com a Givoudan e outras multinacionais do setor”, diz Gonçalves.

O interesse da iniciativa privada fez a pesquisa conseguir financiamento do Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para a segunda fase do projeto: a micropropagação do manjericão em laboratório de cultura de tecidos, que viabilizou a produção comercial das mudas, fornecidas pela Linax aos produtores parceiros. “Isto é fundamental, pois trata-se de uma variedade específica de manjericão, que apelidamos no IAC de Lampião”, explica Borlina. No cadastro da empresa, há 15 agricultores situados em um raio de 30 quilômetros e prontos para iniciar o plantio quando requisitados. No momento, apenas três foram acionados. “À medida que vamos fechando os contratos, ativamos os nossos produtores. Isso depende da demanda do mercado”, diz Gonçalves. Mas a atividade tem se mostrado uma atraente fonte de renda. Dependendo da forma de manejo, o produtor pode ter de três a cinco colheitas anuais. O número é expressivo, já que a Linax paga US$ 15 por quilo de óleo de manjericão e a produtividade média por hectare é de 50 quilos de óleo. Provar para a indústria que a eficiência do linalol de manjericão (98% de pureza) era a mesma do de pau-rosa foi o obstáculo inicial da Linax. Agora seu desafio é a parte de comercialização. “Queremos transformar esta etapa em uma terceira fase da pesquisa, já que a Fapesp tem várias parcerias no Exterior, o que facilitaria o nosso trabalho”, diz Gonçalves. Hoje em dia, a Linax, que também comercializa destilarias, tem capacidade de produzir duas toneladas de linalol por ano, trabalhando em um turno de dez horas. A extração da substância é um processo que começa na folha de manjericão. A partir dela, tira-se o óleo bruto, que é enviado à indústria de fracionamento para que o linalol seja isolado. Esta fase é terceirizada por exigir equipamentos de valor muito elevado. Apesar disso, o preço final do produto compensa. Um quilo de linalol é vendido na faixa de US$ 160 a US$ 220. Não é à toa que Gonçalves faz planos de expansão. A idéia é criar pólos regionais, em que o produtor, orientado pela Linax, opere a destilaria para extração do óleo, o que funcionaria como uma espécie de franchise agrícola. O planejamento está feito, agora só falta a confirmação dos contratos.