Quando se fala na produção de massas e pães, no Brasil, um tema recorrente é a dependência externa em relação ao principal ingrediente, o trigo. A despeito do crescimento do cultivo nacional,
nos últimos anos, o Brasil está longe da autossuficiência na oferta dessa matéria-prima. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento, nas últimas seis safras, a produção média de trigo foi de 5,7 milhões de toneladas, enquanto a média do consumo brasileiro foi de 10,7 milhões de toneladas do produto. Para atender os mais de 200 moinhos, o País importou 7,2 milhões de toneladas de trigo, em 2013, oriundas de países como os Estados Unidos e a Argentina. Dependentes das importações, as empresas do setor precisam enfrentar o duplo desafio de lidar com o câmbio e com a oscilação dos preços internacionais dessa commodity. Num segmento marcado por incertezas, a palavra-chave que vem garantindo o sucesso da paulista Anaconda é prudência. “Estamos sempre de olho nos preços do trigo, e não operamos em hipótese nenhuma com empréstimos bancários”, diz o presidente José Honório de Tófoli. Graças a esse perfil cauteloso, a Anaconda conseguiu um bom desempenho financeiro no ano passado e con- quistou o prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2014 no setor Moinhos, Massas e Pães.

Dona de dois moinhos, em São Paulo e em Curitiba, com capacidade total para processar duas mil toneladas de trigo por dia, a Anaconda registrou um faturamento de R$ 558,6 milhões em 2013. Um dos destaques em seu balanço foi o avanço de 40,5% do lucro líquido, que passou de R$ 61,6 milhões, em 2012, para R$ 86,6 milhões. “ A administração financeira extremamente conservadora é uma vantagem competitiva da empresa, que só trabalha com recursos próprios”, afirma o presidente. “Há mais de cinco anos temos como  meta manter uma margem Ebitda acima de 20%.” Segundo ele, a companhia espera fechar 2014 com receitas de R$ 615 milhões. 

Para De Tófoli, um dos diferenciais da Anaconda é a gestão do fornecimento de trigo. Quando os preços indicam uma tendência de alta, a empresa eleva seus estoques; com o mercado estável, o armazenamento é suficiente para abastecer a Anaconda por dois meses. Por fim, quando há tendência de preços mais baixos, a empresa vai às compras com maior frequência e reduz o estoque para um mês. “E só compramos com pagamento à vista, para fugir de variações cambiais e das oscilações dos preços do trigo”, diz. Por isso, segundo ele, é fundamental ter dinheiro em caixa. “A companhia sempre mantém um capital de giro adequado, de acordo com as suas necessidades.” 

Outra preocupação é o investimento em tecnologia e pesquisa. A Anaconda modernizou as suas operações, com um investimento de R$ 20 milhões na troca de equipamentos do moinho paranaense, em 2013, e de outros R$ 18 milhões, neste ano, na unidade de São Paulo. O presidente afirma que a empresa se dedica ao desenvolvimento de farinhas de trigo especiais e está de olho no segmento de food service, que engloba padarias, pizzarias, restaurantes, pastelarias, docerias e rotisserias. “Fornecemos farinhas para clientes específicos e nichos de mercado voltados para a alimentação fora do lar”, diz De Tófoli. “Vamos continuar trabalhando com muito foco, em busca de resultados ainda melhores.”