São Paulo, 9 – Com a estratégia anunciada nesta segunda-feira, 9, a Marfrig está apostando todas suas fichas no mercado de carne bovina. Essa estratégia contempla a compra do frigorífico norte-americano National Beef e a venda da Keystone, subsidiária da empresa nos Estados Unidos voltada à produção de carne de frango. A Marfrig espera concluir as duas operações ainda neste semestre.

Embora tenha aprovação unânime do Conselho de Administração, segundo o CEO da Marfrig, Martin Secco, a companhia ainda precisa da aprovação de órgãos antitruste e também do BNDES, hoje o segundo maior acionista da empresa com 33,7% de participação, atrás apenas dos controladores (35%). A expectativa do executivo é de que o banco estatal, que tem dois assentos no colegiado, aprove a compra. Para os executivos da empresa, a reação positiva do mercado nesta segunda-feira é um fator favorável a essa possível aprovação. As ações ordinárias da empresa chegaram a subir quase 20% nesta manhã na B3.

“Nossa decisão é de colocar o foco no negócio bovino”, disse o CEO da Marfrig, Martin Secco, durante coletiva com jornalistas nesta manhã em São Paulo. A norte-americana National Beef abate 12 mil cabeças de gado por dia – o que deve elevar o abate diário total da Marfrig para 35 mil cabeças – e realiza parcerias com pecuaristas locais para a aquisição de bovinos. Por ano, segundo Secco, esses criadores parceiros entregam cerca de 700 mil cabeças para a National Beef, todas provenientes de confinamentos. “O boi é mais caro do que o (do mercado) spot ou de outros acordos, mas é mais rentável. É uma associação de ganha-ganha”, disse Secco. O executivo acrescentou que pretende explorar esse modelo de negócio nas operações da empresa na América do Sul, inclusive no Brasil.

Além da associação com criadores, Secco ressaltou, ainda, o acesso a importantes mercados globais importadores de carne bovina que a Marfrig deve ganhar com a National Beef, caso do Japão. “Devemos entrar no Japão também pelo Uruguai nos próximos meses”, disse, citando esperar que o mercado dos EUA à carne bovina in natura brasileira seja reaberto ainda neste semestre.

O CFO da empresa, Eduardo Miron, afirmou que a Marfrig está apostando na bovinocultura em um momento de ciclo positivo – quando a oferta tende a crescer por questões de sazonalidade – tanto nos Estados Unidos e América do Sul.

Para realizar a compra da National Beef, de cerca US$ 1 bilhão, a Marfrig realizou dois empréstimos com o Rabobank. “Temos uma parceria de longa data com o banco”, disse Miron. Posteriormente, a empresa pretende sanar esses empréstimos com a venda da Keystone e atingir uma alavancagem de 2,5 vezes até o fim deste ano.

Questionado sobre a possibilidade da venda da Keystone não ocorrer, Miron disse que a empresa deve se manter com um nível de alavancagem confortável, mas que acha difícil que a operação não tenha sucesso. “A venda da Keystone não é algo difícil. Ela tem um histórico fantástico e os ativos são interessantes. Vemos players dentro e fora dos EUA que se beneficiaram dessa operação. A nosso ver a probabilidade da não execução da venda é extremamente baixa”, disse Miron.