O aumento no nível de chuvas nos Estados Unidos, que deve desencadear prejuízos à safra norte-americana, traz sinais de recuperação aos preços internacionais das commodities agrícolas. No Brasil, o maior estado produtor de soja, Mato Grosso, terá a ação do judiciário estadual para mediar as dívidas do setor e melhorar o acesso ao crédito, a fim de fomentar o avanço na produção do grão no ciclo de 2015/2016.

Durante o lançamento do 10º Circuito Aprosoja, realizado em Cuiabá (MT) na noite da última quinta-feira (09.07), o coordenador do Núcleo de Conciliação do Poder Judiciário Mato-grossense, juiz Hildebrando da Costa Marques, anunciou a parceria entre o Tribunal de Justiça do estado e a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT) durante a expedição que percorrerá municípios produtores. Autoridades políticas regionais e federais, como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, compareceram ao evento.

“Fizemos uma parceria com a Febraban [Federação Brasileira de Bancos] e o tribunal conseguiu a autorização para mediar as dívidas dos agricultores direto com as instituições financeiras. Acompanharemos o circuito e os produtores poderão nos levar seus débitos durante os eventos”, explicou o juiz.

A medida vem para facilitar o planejamento financeiro do setor, visto que os bancos estão mais restritos na concessão de financiamentos e captar recursos para custeio da safra é uma das principais preocupações do agricultor neste momento. “Nosso principal temor continua sendo a disponibilidade de crédito”, enfatiza o presidente da Aprosoja-MT, Ricardo Tomczyk.

Crédito e custos
Em entrevista, Tomczyk conta que o montante anunciado pelo Ministério da Agricultura durante a divulgação do Plano Safra 2015/2016 começou a chegar aos bancos, porém, a quantidade de garantias exigidas pelas instituições aumentou – além dos juros. Se na última temporada o penhor de bens era aceito no processo de concessão, agora é necessária também uma hipoteca, por exemplo. O aporte de R$ 30 bilhões a juros de livre mercado, para que se alcançasse o volume total de R$ 187,7 bilhões, é outro fator que tem onerado as operações.

“As tarifas fixadas são de 8,75% ao ano, mas não é possível financiar 100% da safra com elas. Dependendo do produtor, a relação entre juros fixos e livres fica em 60% e 40%, respectivamente. Em contrapartida, já vimos taxas de mercado que chegam até 18%”, destaca o presidente da associação. Vale ressaltar que na época da divulgação do Plano Safra, o secretário de política agrícola do Ministério, André Nassar, disse que a média das tarifas de livres ficaria em torno de 14%.

O superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea), Otavio Celidonio, diz que a projeção de aumento para a área de soja nesta temporada é de 1,8%, paralelo a um incremento no desembolso do agricultor.

“A despesa só com insumos, que na última safra era de R$ 1.480 por hectare subiu para R$ 1.843, por exemplo. Para pagar esta conta, serão necessárias cerca de 36 sacas de 60 quilos de soja”, estima o especialista. Se considerados os custos totais – insumos, máquinas, terra, administrativo, etc. – o gasto salta para R$ 2.869 e precisa de 55 sacas para fechar a conta.

Mesmo com ligeiros sinais de recuperação no mercado, a formação de custos teve o incremento da alta do dólar. No setor, a preocupação é que a comercialização aconteça durante um eventual recuo na moeda norte-americana, o que acarretaria uma receita menor em reais. Fonte: DCI