Há cerca de 6 mil anos, cansados de se exporem a ferroadas e acidentes para extrair o mel de colmeias construídas em topos de árvores e em toda a sorte de lugares de difícil acesso, os egípcios começaram a criar abelhas em potes de barro ao lado de suas casas. Queriam mais praticidade para conseguir aquela importante fonte de açúcar e que, de quebra, também era a matéria-prima para a principal bebida alcoólica da época. E, assim, de forma quase casual, começava a atividade de apicultura no mundo. No Brasil, a história é ainda mais curiosa. O início data de 1839, quando o padre Antônio Carneiro trouxe abelhas europeias para o País com o único objetivo de usar a cera para produzir velas religiosas, mas só evoluiu em 1956. Naquele ano, chegaram à região Sudeste os primeiros lotes de abelha africana. Ao escaparem do apiário, a espécie se acasalou com as abelhas europeias, originando a abelha africanizada, base da apicultura nacional que começou a ser formada na década de 1970.

Em 2019, a produção nacional ultrapassou 46 mil ton

ATIVIDADE RENTÁVEL Com preço para exportação ultrapassando R$ 14 o quilo, apicultores estão motivados a elevar produção (Crédito:Istock)

Mesmo diante do potencial para produzir mel de alta qualidade dada a variedade da flora nacional, a apicultura brasileira está longe de ser expressiva no mercado global. De acordo com os dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em 2019 o Brasil ocupava a 12a posição no ranking global, quadro que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) quer mudar. A entidade tem investido no fomento às exportações do produto e seus derivados, como o de cera para a Coreia do Sul. Durante seminário virtual sobre oportunidades de vendas ao exterior destinado exclusivamente a apicultores, a coordenadora de Promoção Comercial da CNA, Camila Sande, afirmou que a meliponicultura é um setor prioritário desde o início do Projeto AgroBR, realizado em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). “Nosso objetivo é qualificar os produtores e facilitar o acesso a mercados internacionais, reduzindo o número de intermediários no processo.”

Os esforços internos se juntaram à conjuntura macro vivida pelo mundo desde o início da pandemia. Para Renato Azevedo, diretor da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), a crise sanitária provocou o aumento do consumo do produto na rotina das famílias. “O mel também está muito ligado à imunidade, então observamos uma demanda crescente”, afirmou. Os resultados logo apareceram. Nos primeiros cinco meses de 2021, as exportações da mercadoria movimentaram US$ 87,2 milhões, valor que representa 88% do total realizado nos doze meses de 2020 (US$ 98,3 milhões). O aumento exponencial na receita obedece à antiga lei de mercado regulado pela relação entre oferta e demanda. “As exportações cresceram muito mais que a produção, então isso causou uma enorme valorização da mercadoria”, afirmou Azevedo. O valor para a negociação do quilo do mel, que em maio do ano passado foi de US$ 1,99, neste ano alcançou US$ 3,49, alta de 75%.

Em volume, a exportação do mel brasileiro alcançou 25,5 mil toneladas de janeiro a maio de 2021, mais da metade das 45,6 mil toneladas no total de 2020, segundo a Abemel. A combinação de alta demanda e aumento da rentabilidade agradou o setor, como afirmou Carlos Alberto Domingues, que já foi apicultor e hoje é diretor-executivo da Supermel, empresa exportadora da mercadoria. “Com o quilo do mel ultrapassando R$ 14 o produtor conseguiu pagar o custo de produção, que é de mais ou menos R$ 6 o quilo”, disse. De acordo com o Censo Agropecuário de 2017 do IBGE, o País possui mais de 100 mil apicultores ou estabelecimentos agropecuários produtores de mel, com 2,1 milhões de colmeias.

“É um mercado promissor, ainda mais porque a apicultura requer pouco investimento comparado com outras atividades agrícolas” Tarciano Santos da Silva Prodapys (Crédito:Divulgação)

OPORTUNIDADE Diante do cenário positivo, as exportadoras aproveitaram para fazer bons negócios. Nos primeiros cinco meses deste ano a Prodapys exportou 5 mil toneladas de mel in natura, somando US$ 16,9 milhões, salto de 346% em faturamento em relação ao mesmo período do ano passado, provando a vocação apícola que o Brasil tem. Para Tarciano Santos da Silva, diretor de exportação da empresa, o mercado é promissor. “A apicultura requer pouco investimento comparado a outras atividades agrícolas.” Além disso, afirmou, “é ambientalmente correta, pois para produzir você tem que estar junto com a natureza.”

Para o diretor da Supermel, o Brasil só não tem mais presença global por falta de produto. “O mercado tem oportunidades desde que se aumente a produção nacional. Hoje não usamos nem 50% da capacidade que temos”, afirmou Domingues. Quem sabe agora, com a demanda internacional crescente e a busca por hábitos mais saudáveis pelos brasileiros, o País não esteja diante da grande oportunidade para os atuais e futuros apicultores.

É de casa

Abelhas sem ferrão em espaço urbano

Jataí, mandaçaia, mandaguari, uruçu, tiúba, jandaíra. Essas são algumas das espécies de abelhas sem ferrão espalhadas por várias partes do mundo. Chamadas de meliponíneos, e diferente das espécies com ferrão, é possível criá-las dentro de casa. Para Fabricia Soriani, responsável técnica da Pronatu, laboratório de produtos naturais à base de mel e própolis localizada em Pariquera-Açu (SP), e criadora há três anos das espécies jataí e mandaçaia, o interesse veio de encontro com a preocupação com o meio ambiente. “Por eu trabalhar na área, vi que havia um grande receio com a diminuição da comunidade de abelhas. Então decidi contribuir com a propagação delas aqui na minha região, e o melhor, sem colocar ninguém em risco”, afirmou. Atualmente, Fabricia possui quatro caixas, sendo duas de cada espécie, instaladas na garagem de sua casa. “Dedico cerca de 15 minutos por semana para verificar se está tudo bem com elas”, disse. Uma boa oportunidade para quem quer ficar mais próximo da natureza e se beneficiar de um mel caseiro.