A produção brasileira de milho cresceu em um ritmo alucinado nos últimos cinco anos. A combinação do uso de mais tecnologia, aliada ao aumento da área cultivada, ampliou a safra de 57,4 milhões de toneladas, em 2010/2011, para 84,6 milhões de toneladas, na safra 2014/2015, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O crescimento foi de 47%. Mas, mesmo nesse passo firme, a oferta do cereal não tem sido suficiente para atender um mercado interno faminto e a uma demanda externa crescente. “Precisaríamos de pelo menos 100 milhões de toneladas para atender a demanda”, afirma Alysson Paolinelli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). “Porém, não acredito que chegaremos sequer a 82 milhões de toneladas nesta safra.”

Até o início de abril, a previsão da Conab para a safra 2015/2016 era repetir o mesmo desempenho da safra anterior.  Mas a chuva em excesso no Rio Grande do Sul e a falta dela no Centro-Oeste ao longo de abril podem colocar por terra essa expectativa. Desde o início do ano, a falta do cereal tem se agravado porque a colheita da primeira safra de milho, realizada de fevereiro a meados de abril, foi de 27,5 milhões de toneladas, um recuo de 8,5% em relação à primeira safra do ano anterior. A segunda safra, que começa a ser colhida somente em junho, está prevista em 57 milhões de toneladas, se tudo correr bem. “Esse cenário de incertezas pode prejudicar as exportações e a produção de proteína animal”, afirma Paolinelli.


Impacto: o alto preço do milho está afetando os nossos resultados 
Mário Lanznaster, da Aurora Alimentos

Maior exportador de aves e quarto maior exportador de suínos, animais que têm 70% da alimentação composta pelo cereal, o Brasil consome 48 milhões de toneladas para alimentá-los. Isso significa mais da metade da atual produção. Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), diz que os produtores têm sofrido com a escassez de milho no mercado. “Em média, a demanda pelo cereal tem aumentado 10% ao ano”, afirma Turra. “Mas a oferta aos produtores não acompanhou esse ritmo.” Na atual safra, as granjas e as agroindústrias estão encontrando um concorrente mais forte que o habitual: o mercado externo favorável. A desvalorização do real frente ao dólar tornou o milho brasileiro competitivo lá fora. No ano passado, o Brasil exportou 29,1 milhões de toneladas de milho, 40,2% acima do que em 2014, segundo o Ministério da Agricultura. No segundo semestre, quando houve grande fluxo de exportação, a cotação do cereal nos portos brasileiros era de US$ 150 a tonelada, ante US$ 165 do cereal americano embarcado no Golfo do México. Para Enilson Nogueira, da consultoria Céleres, de Uberlândia (MG), o cenário de 2016 deve manter-se favorável às exportações, principalmente a países como Japão, China e Vietnã. “A previsão é que o Brasil consiga vender 28 milhões de toneladas neste ano, mas o viés é de demanda em alta”, afirma Nogueira.


Para longe: uma maior competitividade no mercado externo fez com que embarques aumentassem 40% em um ano

O resultado dessa equação não poderia ser outro: o preço de referência utilizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para o mercado interno foi às alturas. Em abril, depois de aumentar 77,3% em um ano, a saca do cereal chegou ao valor médio de R$ 48,95 em Campinas (SP), o maior desde 2008. No Estado de Santa Catarina, a cotação foi ainda mais longe, chegando a R$ 53 a saca.  Para o presidente da Abramilho só há um caminho: é preciso estimular o mercado onde há demanda. “Se não houver um incentivo permanente à produção, o problema sempre se repetirá”, diz Paolinelli. Em Santa Catarina, por exemplo, que demanda por cinco milhões de toneladas anuais, mas produz apenas a metade, uma saída começa a ser desenhada. O governo estadual quer estimular os produtores a ampliar em 100 mil hectares a área de produção na safra 2016/2017, passando para 440 mil hectares. A proposta das cooperativas catarinenses é pagar R$ 38 pela saca do grão na próxima safra. O valor é menor que o atual, mas está R$ 9 acima do valor médio da safra passada. Para o presidente da Federação da Agricultura de Santa Catarina, José Zeferino Pedrozo, a adesão dos produtores dependerá dos custos de produção. “Se compensar, apoiaremos a medida.” Mário Lanznaster, presidente da cooperativa Aurora Alimentos, de Chapecó, que no ano passado faturou R$ 7,7 bilhões, diz que o projeto é um alento para um ano que considera perdido . A despesa mensal da cooperativa com a compra de milho é de R$ 89 milhões. Com o acordo, o gasto cairia para R$ 69 milhões, uma economia de  R$ 20 milhões. “O alto preço do milho está afetando os nossos resultados”, diz Lanznaster. “Em 2015 crescemos 3,5%, mas neste ano a expectativa é de 0,5%”. Os sete mil cooperados da Aurora utilizam 90 mil sacos de milho por dia, para alimentar 1,2 milhão de suínos e 34 milhões de aves.