A tendência de estabilidade na produção de milho americano, combinada com safrinha brasileira cheia e a consequente queda nas cotações, colocou a comercialização brasileira do grão no mercado interno e externo em banhomaria. No entanto, conforme a colheita do cereal avançar neste mês, especialmente no Paraná e em Mato Grosso, líderes da produção nacional, esse cenário morno muda para o setor. Mas, se o mercado vai ferver ou esfriar, isso ainda é incerto. Tudo dependerá de como o clima vai se comportar daqui para a frente e de qual será o apetite mundial pelo cereal. Para Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola, empresa produtora de commodities, de Porto Alegre, a comercialização do milho brasileiro deve seguir a toada de 2013. No ano passado, o País exportou 26,6 milhões de toneladas de milho, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). “A demanda externa existe”, diz Pavinato. “A questão é colocar o nosso milho nos portos.” Ainda de acordo com Pavinato, que espera uma produtividade superior a 110 sacas de milho por hectare, nos 37 mil hectares cultivados pela SLC em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Maranhão, o empenho do governo federal em garantir o preço mínimo através dos leilões Prêmio para o Escoamento de Produto (Pep) e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) é fundamental para a comercialização. “Os preços internacionais e do mercado interno estão caindo e, por isso, aposto em um cenário semelhante ao do ano passado”, diz Pavinato.“Vamos precisar exportar. O estímulo para isso está nas mãos do governo.” De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), o Japão, a China e alguns países da União Europeia têm preferência pelo milho brasileiro e, com isso, tendem a movimentar as exportações do País. 

Para Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado, empresa de consultoria agrícola, de Porto Alegre, as cotações de milho no mercado interno chegaram à última semana de junho pressionadas pela expectativa de safrinha cheia no País e pelo quadro favorável de desenvolvimento das lavouras americanas. “A estimativa de produzir quase 44 milhões de toneladas de milho nesta segunda safra é um fator adicional de pressão ao mercado”, diz Molinari. “Mesmo esse volume sendo inferior aos 45,2 milhões de toneladas colhidas no ano passado.” A queda no preço médio do milho, desde março, quando a saca de 60 quilos estava acima de R$ 23, foi de 12%. Na penúltima semana de junho, a média de preços da saca ficou abaixo de R$ 20. No contraponto, cotações mais baixas do cereal, de acordo com o analista, favorecem cadeias como a avicultura, por exemplo, que registram estabilidade nos custos de produção. 

O início de colheita incerto e tímido em junho se deve às fortes chuvas que assolaram o Paraná (ainda não estão contabilizadas eventuais quebras de produção) e à alta umidade do cereal em algumas regiões de Mato Grosso, especialmente a sudeste. Nas próximas semanas, a colheita tende a ter seu ritmo acelerado. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Paraná deverá produzir 9,96 milhões de toneladas de milho safrinha e Mato Grosso, 16,42 milhões de toneladas. Até a última semana de junho, o Estado mato-grossense já havia despejado no mercado quase 900 mil toneladas do cereal.