Há quase dois anos, este senhor ao lado, o administrador de empresas Sérgio Barbieri, diretor da usina de etanol Usimat, de Campos de Júlio, em Mato Grosso, município a 600 quilômetros da capital Cuiabá, tenta acabar com um mal que mina o desempenho da gestão nas usinas de cana-deaçúcar: a paradeira da entressafra, entre os meses de dezembro e abril, período em que não há um único colmo de cana para ser esmagado. Nesse período, praticamente todas as usinas desligam suas caldeiras. Mas, nadando contra a maré, nas duas últimas safras da cana, a Usimat não paralisou suas caldeiras nos quatro meses críticos provocados pela falta de matéria-prima. “A decisão foi muito simples”, diz Barbieri. “Tapamos o buraco da entressafra da cana com a produção de etanol de cereais.”

No ano passado, a DINHEIRO RURAL esteve em Campos de Júlio para acompanhar a produção da primeira safra de combustível de milho, uma novidade no mercado brasileiro de etanol. Nessa entressafra, além de retomar a produção de etanol de milho, a Usimat incluiu mais um grão no cardápio do biocombustível: o sorgo granífero. Com os dois cereais, a usina processou 11,6 milhões de litros de etanol, que foram vendidos no varejo, a postos de abastecimento do próprio  Mato Grosso. Para chegar a esse volume, o processamento total de cereais foi de 31,5 mil toneladas, das quais 20 mil eram de milho e 11,5 mil, de sorgo. Segundo Barbieri, esse volume de grãos ainda foi considerado uma fase experimental, mas a etapa está encerrada. “Estamos nos preparando para processar,  a partir de novembro, entre 80 mil e 85 mil toneladas de cereais”, diz.

A usina considera a fase experimental encerrada porque conseguiu definir como vai ser a gestão do negócio. O início da produção de etanol da entressafra será com milho e, na sequência, entra o sorgo, ambos fornecidos por produtores da região de Campo de Júlio. “Muitos agricultores preferem vender a safra na região para fugir do alto custo do frete, principalmente se for para exportação”, diz Barbieri. Também foi possível chegar a uma produção média que compensa o custo por litro, um dos entraves para quem não tem cereais na porta de casa. O milho e o sorgo renderam uma média de 370 litros de etanol por tonelada de grão, volume muito próximo à meta inicial do projeto, que era de 400 litros por tonelada  E ainda deixa de bônus o farelo, subproduto do esmagamento dos grãos. “O farelo é um alimento nobre na ração animal”, afirma Barbieri. A usina pode comercializar o farelo por até R$ 400 a tonelada na época em que falta pastagens no Centro-Oeste, entre maio e setembro. Cada tonelada de cereal rende 200 quilos de farelo.

O exemplo da Usimat pode inspirar outras iniciativas no Estado. No mês passado, o presidente-executivo da União Brasileira do Biodiesel, o exministro da Agricultura (Mapa) Odacir Klein, pediu ao governo, durante reunião realizada em Brasília, uma linha de crédito para a implantação de outras usinas flex em Mato Grosso. “A atual safra de milho no Estado deve ser de 76 milhões de toneladas”, diz Klein. “É possível pensar em etanol.” Na reunião também estava o secretário de Política Agrícola do Mapa, Neri Geller. Para ele, o Brasil pode ter um desempenho sustentável e com menor custo nesse setor. Os técnicos do Mapa se comprometeram a conversar com diretores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sobre essa nova linha de crédito. O custo para construir uma usina de etanol é estimado em R$ 230 milhões.