Nunca antes, na história deste país, tanto milho brasileiro pipocou no Exterior. Desde o ano passado, tirando proveito da quebra de mais de 100 milhões de toneladas da safra americana, o Brasil está vivendo o seu momento de fama como fornecedor do grão. Na safra 2011/2012, o País produziu 72,9 milhões de toneladas, dos quais 22,3 milhões foram embarcados para o Exterior, o maior volume de milho exportado até hoje pelos produtores nacionais, rendendo receitas acima de US$ 5,2 bilhões. “Não podemos ficar muito otimistas”, diz Paulo Molinari, consultor da Safras & Mercado, de Porto Alegre. “Os americanos devem reconquistar o mercado internacional, com uma safra recorde neste ano.” Mas tudo indica que os produtores brasileiros não vão recuar na produção. O sétimo levantamento de safra realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apresentado em abril, mostra que a produção de milho no País deve crescer pelo menos 6% na safra 2012/2013, totalizando 77,5 milhões de toneladas do cereal. Por um lado, essa postura é positiva, pois ajuda o Brasil a se fixar como um fornecedor global. Por outro, o excedente pode acabar comprometendo a renda dos agricultores, ao depreciar as cotações do cereal.

No ano passado, os principais compradores do milho brasileiro foram o Japão, a Coreia do Sul e o Irã. “Com a quebra americana, o Brasil exportou para todos os grandes mercados mundiais e, especialmente, para o Oriente Médio”, diz Molinari. Além deles, a China, o segundo maior consumidor mundial de milho, ainda não é um grande comprador, mas gera uma expectativa para o futuro. Em 2012, a China importou 79,9 mil toneladas do milho brasileiro, batendo seu recorde de compras do Brasil. Em abril, o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, informou que a estatal chinesa BBCA vai investir US$ 320 milhões na construção de uma usina no Estado, para processar 600 mil toneladas de milho por ano, a partir de 2015.

Mesmo assim, as consultorias especializadas no agronegócio advertem: o mercado do milho poderá passar por turbulências nos próximos meses. Os Estados Unidos esperam uma grande safra, com produção superior a 370 milhões de toneladas, e provavelmente retomarão o posto de maior exportador mundial, embarcando cerca de 35 milhões de toneladas do grão. Além disso, a Argentina e a Ucrânia vão continuar brigando pelo mercado internacional, com exportações da ordem de 18 milhões e 12 milhões de toneladas de milho, respectivamente. Com isso, o Brasil deve exportar menos de 15 milhões de toneladas, de acordo com a previsão de analistas, como o professor Lucilio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP. “Além disso, o Brasil tem um consumo interno limitado a uma média de 52 milhões de toneladas”, diz Alves. “O excedente de milho nesta safra, que será superior ao do ano passado, pode trazer problemas para os produtores.”

Segundo Glauco Monte, consultor da INTL FCStone, no escritório em Campinas (SP), o maior problema é a tendência de queda dos preços do cereal. No ano passado, houve picos de até R$ 35 a saca de 60 quilos. Na BM&F, no final do mês passado, o preço para outubro era de R$ 23. “Tudo indica que teremos preços mínimos abaixo do custo de produção”, diz Monte. “No segundo semestre, podemos ter uma pressão em busca de intervenção do governo para escoar a produção, como incentivo às exportações, por exemplo.” Para Molinari, da Safras & Mercados, o problema é que, com preços no mercado interno em queda, o Brasil é ainda menos competitivo para exportar. “Os gargalos logísticos atrapalham a concorrência com os Estados Unidos e com a Argentina”, diz. Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), concorda com os consultores. “Enquanto os EUA gastam entre US$ 6 e US$ 12 para exportar uma tonelada do grão, o produtor brasileiro paga até US$ 100”, diz Paolinelli. “Nosso milho é imbatível em qualidade e preço. O problema que tira a competitividade brasileira é a logística.”