A supersafra de grãos aconteceu, embora menor do que a esperada. Mais uma vez, o aumento do volume de produção e a alta das cotações internacionais da soja garantirão a renda do produtor brasileiro.

Está confirmado: a supersafra brasileira deve ficar em 188,7 milhões de toneladas, montante apenas 0,7% maior que o da safra anterior. a expectati-va inicial era de uma colheita superior a 193 milhões de
toneladas, segundo a ?????Companhia nacional de abastecimento (Conab). Mas os produtores brasileiros não terão nada a reclamar, de acordo com os analistas de mercado, já que a tendência de preços continua altista para a soja, compensando uma possível queda nos valores do milho. “a quebra de safra no brasil não será um desastre para o produtor e até poderá ajudá-lo”, diz João birkhan, diretor da consultoria matogrossense Sim Consult. “Principalmente para a soja, que já está valorizada.”

Segundo Birkhan, entre janeiro e março do ano passado, a cotação da saca de 60 quilos de soja, embarcada 30 no porto paranaense de Paranaguá, estava, em média, em R$ 63. no mesmo período deste ano, os preços já ultrapassavam a casa dos R$ 72 por saca, uma valorização de 14%. O consultor afirma que a principal responsável pela quebra de safra de grãos no País foi a soja, afetada pela seca nos estados da região Sul e pelo excesso de chuva que atingiu Mato Grosso durante a sua colheita. Mesmo assim, o brasil deve colher a sua maior safra do grão com 85 milhões de toneladas, 5% a mais que no ano passado. “Acredito que a demanda chinesa pela soja continuará crescente”, diz Birkhan. “Com isso, podemos registrar no segundo semestre, período de entressafra, os maiores preços já vistos no País.”

Já a consultoria gaúcha Safras & Mercado vê o futuro com mais reservas. de acordo com o consultor Luiz Fernando Gutierrez, a prova de que o segundo semestre não será tão “bom” assim pode ser vista nos preços da soja no mercado futuro. Quem vendeu, em março, a oleaginosa no mercado de Chicago para setembro obteve preços na casa dos R$ 64 por saca, valor 12% mais alto que os US$ 57 vistos no ano passado para as mesmas condições. “não acredito em valores recorde, diz Gutierrez. nada, porém, que desanime os produtores. “Mas ainda assim os valores da soja estão muito vantajosos, e com certeza trarão lucros ao agricultor.”

Ao contrário da soja, que deve se beneficiar da conjunção de uma produção crescente e preços mais elevados, a produção e os valores do milho seguem em queda no mercado nacional. Segundo o último relatório da Conab, a colheita brasileira do cereal deve situar-se em 75 milhões de toneladas, resultado 7,8% menor que os 81 milhões de toneladas obti- das no ano passado. Mesmo assim, os preços do milho no mercado interno estão abaixo dos valores praticados em 2013. no primeiro trimestre eles não ultrapassaram a casa dos R$ 29 por saca, enquanto no ano passado os valores eram de R$ 33. de acordo com Steve Cachia, analista internacional de commodities da Cerealpar, e Curitiba (PR), a principal razão para esse enfraquecimento nas cotações do cereal é a retomada da produção dos estados unidos, estimada em 360 milhões de toneladas. “Os americanos vão inundar o mercado com milho”, diz Cachia. “E o Brasil ainda pode ter mais uma quebra com parte do milho planta- da fora da janela ideal.”

Para ele, a melhor saída para o produtor de milho preservar sua margem de lucro é segurar a produção e tentar vender na entressafra para consumo no mercado interno. Segundo Cachia, nesse período o mercado brasileiro acaba pagando um pouco melhor pelo produto e o custo do frete não é tão alto, o que poderia ampliar a margem de lucro do produ- tor. “o produtor terá dinheiro em caixa por causa da soja”, diz ele. “Então, se ele segurar o milho, pode- rá vender depois com mais lucro.”

Saindo do cenário das grandes commodities agrícolas, a expectativa para os produtos essenciais para a cesta básica brasileira, como o arroz e o feijão, é de preços mais baixos, por conta dos aumentos no volume colhido nesta safra, o que aliviará a pressão sobre os índices inflacionários. Segundo Francisco olavo de Souza, gerente da área de avaliação e levantamento de safra da Conab, a produção de arroz está quase 10% superior à do ano passado, chegando a 12,7 milhões de toneladas. Já o feijão terá uma produção 20% maior, passando de 2,8 milhões de toneladas para 3,4 milhões. “acredito que esses dois itens ajudarão a controlar a inflação, pois estarão mais baratos para o consumidor”, diz Souza.