E m menos de um ano, o setor de agroquímicos e sementes foi chacoalhado por uma onda de fusões e aquisições. A primeira foi entre as americanas Dow Agrosciences e DuPont, em dezembro de 2015. Depois, foi a vez da suíça Syngenta ser comprada pela estatal China National Chemichal (ChemChina). Agora, aconteceu o que o mercado esperava: a gigante americana de sementes e biotecnologia Monsanto, presente em 67 países, foi engolida pela alemã Bayer, empresa que atua nas áreas farmacêutica e agroquímica em 77 nações. O negócio foi fechado por US$ 66 bilhões, no mês passado.  “As companhias unidas se tornarão uma líder em inovação”, afirma Liam Condon, membro do conselho global de administração da Bayer e presidente da divisão de CropScience. “Ela será capaz de aproveitar os mais recentes avanços nas áreas biológica, química e de pesquisa para desenvolver soluções integradas que atendam aos consumidores.”

Diante deste novo cenário, o que os produtores querem saber é se pagarão mais por esses insumos. A questão divide especialistas. “É a maior preocupação dos agricultores”, diz Reginaldo Minaré, consultor de tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Hoje, as sementes respondem por até 20% dos custos, de acordo com a cultura e o tipo de produto. Já os defensivos, respondem por até 22% dos gastos no campo. 


Acordo permite que a Bayer amplie sua participação no agronegócio, que passa a responder por 49% da receita Werner Baumann,
CEO da Bayer Ag ( à esq) e Hugh Grant, CEO da Monsanto ( à dir)

Para Flávio Hirata, consultor de agronegócios da Allier Brasil, essa concentração no mercado, ampliada com a aquisição da Monsanto pela Bayer, não é boa notícia para o produtor. “Quanto menos empresas disputam espaço no mercado, menores serão as opções para o produtor”, diz Hirata. “Com isso, existe a perspectiva de que os preços aumentem.” Já o professor da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Eduardo Dalto, não acredita neste cenário. Ele afirma que, embora as principais empresas do setor tenham se unido, ainda há uma concorrência significativa no agronegócio. “Aumentar preços não é uma boa ideia neste cenário.”

Aurélio Pavinatto, CEO da SLC Agrícola, empresa que cultivou 377 mil hectares na safra 2015/2016 em seis estados, afirma que toda concentração de empresas de insumos é desfavorável ao agricultor, por reduzir a concorrência. No entanto, diz que o resultado desse movimento de mercado também pode ser positivo para o campo. “Se essa união das empresas trouxer um incremento nas opções de tecnologia para o produtor, ele poderá ser beneficiado”, diz Pavinatto. “Agora as empresas poderão oferecer soluções mais integradas.”

COMPRA  A aquisição da Bayer se dá em um momento no qual a Monsanto registra queda de faturamento de 37,1% no trimestre fiscal encerrado em 31 de maio, com lucro de US$ 717 milhões no mundo. No começo deste ano, a empresa havia anunciado a intenção de demitir 3,2 mil funcionários, 16% dos postos de trabalho que mantém em todo o mundo, até 2018. O quadro contribuiu para o grupo Bayer colocar em prática o plano de ampliar a sua participação no agronegócio. Com a aquisição da Monsanto, o setor passa a responder por 49% das vendas da gigante química alemã, ante 30% até então. A compra deve ser concluído até o final de 2017, tempo no qual o negócio será avaliado por órgãos antitruste de mais de 30 países. 

No Brasil, as regulações não devem enfrentar barreiras porque as empresas possuem portfólios com poucos pontos de sobreposição. Resolvido esse passo, a Bayer passa a ser a maior fornecedora de insumos do setor do agronegócio no Brasil, liderando o mercado de defensivos, com 22% das vendas. O País tem a maior demanda global por esses produtos, com movimento de US$ 9,6 bilhões em 2015, valor equivalente a 17,5% da receita mundial. Em relação às sementes, as empresas não revelam a participação no mercado. Mas o Brasil é o terceiro maior comprador global, com um movimento US$ 4 bilhões, do total de US$ 44,4 bilhões gerados em negócios no mundo.


“Quanto mais empresas disputam o mercado, menores as opções do produtor ” Flávio Hirata,  consultor de agronegócios
da Allier Brasil

A Monsanto se tornou uma cereja no bolo da Bayer justamente por ser a líder em sementes, especialmente as geneticamente modificadas, posto conquistado com o lançamento da soja “Roundup Ready” em 1998, tolerante ao herbicida glifosato.
A liderança foi consolidada com o lançamento da soja Intacta RR2, em 2014, que também passou a ser resistente a insetos. No Brasil, 95% da soja e 88% do milho cultivados são transgênicos. Não por acaso, no ano passado,a Monsanto faturou US$ 1,7 bilhão no País, no mundo foram US$ 15 bilhões. Para a Bayer, o Brasil é o principal mercado. Em 2015, a área de Crop Science faturou US$ 1,8 bilhão (R$ 7,4 bilhões) por aqui, crescimento de 37% em relação ao ano anterior. No mundo, foram US$ 11,3 bilhões (R$ 44,5 bilhões).