O americano Jim Collins, conhecido mundialmente por seus estudos sobre gestão, vendeu mais de dez milhões de livros nos últimos 25 anos. São de sua autoria os clássicos “Empresas Feitas para Vencer” e “Feitas para Durar”, obras que têm sido leitura obrigatória de toda a diretoria da Champion Saúde Animal, com sede no município goiano de Anápolis. A indústria, que oferece soluções para o combate de parasitas em bovinos, equinos e ovinos, como carrapatos, moscas e vermes, segue à risca os ensinamentos do escritor americano, segundo o qual “as empresas não se destacam só pelo que fazem, mas, sobretudo pelo que escolhem não fazer”. “Nós somos conservadores, tomamos todas as decisões com os pés no chão”, diz Gustavo Sette da Rocha que, além de diretor de operações, é neto do fundador da empresa, Uriel Franco da Rocha, médico veterinário e professor da Universidade de São Paulo entre as décadas de 1950 e 1980. O caminho escolhido pela Champion tem dado resultado. Em 2015, pelo segundo ano consecutivo a companhia é a vencedora do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL na categoria AGRONEGÓCIO DIRETO – PEQUENAS EMPRESAS. O posto foi conquistado ao somar a maior pontuação em Gestão Financeira e em Gestão Corporativa, ao lado de empresas do mesmo porte no setor do agronegócio, como a Trevo Alimentos, de Sete Lagoas (MG), a Milhão, de São Paulo (SP) e a Stival, de Campo Largo (PR), todas do ramo de nutrição animal, além da CRI Genética, central de inseminação artificial com sede em São Carlos (SP). “É uma honra mais uma vez sermos a empresa de destaque”, diz Rocha.

O executivo, hoje com 39 anos e filho do atual presidente da Champion, Flávio Alves da Rocha, vem sendo preparado para assumir o cargo máximo da companhia. Formado em publicidade e especializado em administração, sua contribuição na consolidação da empresa começou em 2010, ano em que foi implantado um novo sistema de gestão. Antes disso, ele trabalhou por uma década na área de estratégia de comunicação no Itaú Unibanco. A principal mudança na gestão foi o estabelecimento de regras claras, com metas de desempenho definidas para a equipe de 193 funcionários. “Fizemos o que é certo, cada colaborador que supera a sua meta tem uma bonificação diferenciada”, afirma Rocha. “É o melhor caminho para reconhecer o esforço de quem se dedicou.”

Com as mudanças promovidas por Rocha, nos últimos cinco anos a empresa tem crescido acima da média de seu segmento. Enquanto o setor de saúde animal avançou 4% mundialmente, a Champion deu um salto de 30% e faturou R$ 80 milhões.  No ano passado, por exemplo, a indústria global faturou US$ 23,9 bilhões, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan). Para 2015, um período economicamente conturbado, no qual a maior parte das empresas apertou o cinto para não fechar as contas no vermelho, a empresa goiana projeta um avanço de 10%, com faturamento de R$ 88 milhões. “Estamos passando por este momento de crise sem maiores dificuldades por causa de nossa gestão sólida e bem estruturada”, afirma Rocha.


Sem estresse: misturados a ração, os antiparasitários  da Champion evitam o desgaste dos animais no
manejo, eliminando o necessidade de vacinação

Na fórmula adotada pela Champion, a principal estratégia de gestão financeira foi a de não acumular dívidas, pagando as contas sempre à vista e em algumas situações até antecipadamente. Para o economista e consultor Eduardo Peres, sócio-proprietário da Global Trevo Consulting, de São Paulo, especializada na reestruturação financeira de pequenas e médias empresas, a Champion é um modelo de gestão. “Boa parte das empresas não têm disponibilidade de dinheiro em caixa devido à má administração, sem relação com o que ocorre no mercado”, afirma Peres. Com as contas sempre no azul, além de estar blindada contra os momentos de baixa, a Champion tem um poder maior no momento de negociar com os seus fornecedores. Com a política de antecipar os vencimentos, de acordo com o consultor, a empresa deve obter descontos superiores a 5%, índice que hoje é praxe no mercado. “Nestas condições, negociar descontos nas compras de insumos é mais rentável que qualquer fundo de investimento disponível atualmente”, diz Peres.

NOVOS RUMOS – Com as contas em dia, neste ano a Champion foi em busca de novos mercados. Em 2015, pela primeira vez, foi exportado aos Estados Unidos o principal produto da empresa, um antiparasitário chamado Difly. Segundo Rocha, embora as exportações sejam pequenas, cerca de US$ 700 mil, elas mostram uma evolução e um caminho rumo a um mercado estimado em US$ 11 bilhões, o maior do mundo em saúde animal. “Com essa experiência, nossa meta é continuar a expansão no exterior”, diz Rocha. “Mas sem descuidar do mercado interno.” Em 2014, a receita do setor de saúde animal no País foi de US$ 1,1 bilhão.

Para ganhar agilidade no comércio de produtos, a Champion inaugurou em setembro, um escritório em Campinas, no interior paulista. É o primeiro fora de Goiás e tem um propósito bem definido. De acordo com Wesley Oliveira, diretor comercial da empresa, com esta unidade na qual estão 15 funcionários e que até abril deve totalizar 50, entre técnicos, agrônomos e veterinários, a Champion vai estreitar sua relação com grandes clientes que residem na região e resolver um problema muito recorrente: a escassez de mão de obra qualificada. “O projeto com esta unidade é reforçar as vendas, ampliando a assistência veterinária no campo”, diz Oliveira. “E essa assistência aos donos e administradores de fazendas, que tomam as decisões estratégicas do que vai para o campo, precisa ser bem de qualidade.”