O rodeio no Brasil está mais do que consolidado. Em 2013, serão cerca de 500 competições, com pelo menos 30 milhões de pessoas envolvidas, entre peões, profissionais da área e público das arenas. No entanto, as provas realizadas com cavalos, desde o surgimento do esporte no País, em 1947, não são com equinos de linhagem própria para rodeio. Os cavalos chucros são selecionados a esmo, em plantéis de diferentes raças, conforme a aptidão natural que têm para pular. É praticamente o mesmo que procurar uma agulha num palheiro. Talvez isso explique por que os touros, animais naturalmente mais reativos, têm sido, há algumas décadas, a bola da vez nas arenas do País. Para mudar esse cenário e, de quebra, abrir as portas para o peão brasileiro competir de igual para igual nos Estados Unidos, onde os equinos possuem genética própria para o esporte, os sócios da Pro Horse, Henrique Duarte Prata – pecuarista, criador de quarto de milha e presidente do Hospital do Câncer de Barretos – e Leandro Baldissera – agrônomo e campeão internacional nas modalidades americanas de rodeio sela e bareback –, investiram quase R$ 2 milhões em 2009, na compra de 43 cavalos e éguas da raça bucking horse para serem recriados no Brasil. Agora, os 90 potros nascidos dessa primeira leva estão prontos para, no mínimo, derrubar em menos de oito segundos aqueles que se atreverem a encará-los. A tropa fica no rancho Nossa Senhora de Guadalupe, que pertence a Prata, em Barretos, a 440 quilômetros da capital de São Paulo.

O plantel, que atingiu a idade ideal para competir, entre 3 e 4 anos, nem bem deixou as baias e já deve valer entre US$ 6,3 milhões e US$ 9 milhões. “Foi a paixão por cavalos e por rodeio que nos fez investir e buscar animais nas arenas do Canadá e Texas”, diz Baldissera. De acordo com ele, boa parte dos animais adultos trazidos dos Estados Unidos saiu da fazenda do criador e competidor americano Chris Harris, filho de um senador do Texas. A ideia de criar uma tropa de bucking horse nacional é para participar de pelo menos três rodeios ao mesmo tempo. A Pro Horse foi fundada em 2007 pela dupla paulista de cowboys, para estimular a participação dos peões brasileiros nas modalidades americanas, com cursos teóricos e práticos. A empresa já colocou nos rodeios do País mais de 100 competidores. Prata, que deixou de competir há alguns anos, faz questão de apadrinhar todos eles.

A primeira safra brasileira de potros bucking horse foi originada de cruzamentos feitos com cavalos puladores canadenses,  os chamadosmustangs, com as raças puro-sangue inglês e quarto de milha. O novo plantel, de grande porte, temperamento rebelde e agressivo deixaria até o falecido John Wayne embasbacado. Ainda hoje, além de o americano Wayne ser fonte de inspiração para a maioria dos cowboys do mundo, em seus filmes ele dispensava os dublês para se aventurar no lombo dos cavalos selvagens. “Pelo menos os peões do País estão boquiabertos”, diz Prata. “Agora, queremos vê-los participando de uma final nos Estados Unidos. E quem sabe daqui a alguns anos, teremos uma Calgary Stampede no Brasil.” A Calgary Stampede é o maior rodeio profissional mundial, realizado em Alberta, no Canadá.

Foi essa a proposta que fez Prata e Baldissera importarem os bucking horse, inclusive os famosos garanhões americanos Canadian Storm, campeão com mais de 400 filhos competidores, e Toungh N Tango, campeão potro do futuro, no Canadá, além da égua Black Mama, que estava invicta nos rodeios americanos. “Para trazê-los ao Brasil chegamos até a fretar um avião 747”, diz Baldissera. No mês seguinte à chegada dos animais, para avaliar o impacto que causariam no País, os sócios realizaram, em Barretos, o rodeio Desafio do Bem, para angariar fundos para o Hospital do Câncer. E deu certo. Além do sucesso dos puladores americanos, o evento arrecadou R$ 250 mil. O resultado disso também foi a venda de 20 desses cavalos a organizadores de rodeios na África. “Chegou a vez de os filhos de Tango e Canadian mostrarem a que vieram”, diz Baldissera.

Os potros nasceram através de transferência embrionária, com as éguas quarto de milha no papel de barrigas de aluguel, algo que muitos criadores considerariam um tiro no escuro ou, no mínimo, uma loucura. Afinal de contas, as éguas puras de origem de Prata não valem menos de R$ 20 mil cada uma. Algumas delas, que deram vida à nova raça, estão avaliadas em R$ 200 mil. “Acreditamos que esses animais não serão apenas bonitos e grandiosos”, diz Prata. “A genética americana fará deles grandes puladores.”

Para testar a potência dos bucking horse brasileiros, os sócios utilizaram, até agora, apenas bonecos de metal presos à sela. Até hoje, nenhum peão arriscou-se a entrar no brete com um desses. “Parte dos animais deve estrelar já em agosto, no maior rodeio do País, em Barretos”, diz Baldissera. Daí para diante, cada animal deve participar, em média, de dez competições por ano. De acordo com Baldissera, isso representa um trabalho anual de alguns minutos para o cavalo. No restante do tempo eles poderão pastar livremente e degustar os diferentes tipos de gramíneas existentes no rancho, como a coast cross, massai e tifton. Além de, é claro, beber água fresca e descansar debaixo de muita sombra.