A alta de 20% do dólar, desde o início do ano, deve minimizar a queda nas cotações das principais commodities agrícolas, como a soja e o milho, no mercado internaional, e elevar a lucratividade dos produtores brasileiros. Com isso, os agricultores que ainda aguardavam uma reação nos preços dos grãos para vendê-los podem, enfim, conseguir valores um pouco melhores que os obtidos no começo do ano. Um cenário como esse não era visto no Brasil desde 2009, quando o dólar chegou à casa dos R$ 2,50. “Naquele momento, os preços dos grãos estavam mais baixos que os valores históricos e, ainda assim, os produtores tiveram uma boa renda”, diz Fábio Silveira, diretor de Pesquisa Econômica da consultoria paulista GO Associados. “Agora, com os preços acima da média histórica, não tem como o agricultor não ganhar dinheiro.”

Silveira acredita que o dólar deve permanecer em patamares entre R$ 2,35 e R$ 2,45 até dezembro, o que pode elevar a taxa média do câmbio para R$ 2,18 neste ano. Em 2012, a taxa média foi de R$ 1,95. “Essa valorização do dólar trará fôlego ao exportador que trabalhava com a margem de lucro apertada”, diz Silveira. Para ele, o produtor rural brasileiro não tem do que reclamar agora, já que a alta do dólar diminuiu o prejuízo causado pela queda na cotação internacional do grão. No mês passado, a cotação da soja estava na casa dos US$ 35, queda de 14%, se comparada aos US$ 40 obtidos em julho do ano passado. Em reais, no entanto a perda foi menor, de 12% (de R$ 83 para R$ 73 no mesmo período), graças à desvalorização do câmbio. Quando comparado aos valores atuais da soja, com os R$ 45 da média histórica, o ganho é expressivo: 62%.

O resultado desse dólar mais forte na balança comercial do agronegócio deve ser positivo, afirma José Vicente Ferraz, diretor técnico da consultoria Informa Economics FNP, com sede na capital paulista. Para ele, os valores das exportações não devem crescer muito, mas a quantidade embarcada produzirá um saldo final mais elevado do que o registrado no ano passado. Nos primeiros sete meses do ano, o agronegócio brasileiro exportou 83,1 milhões de toneladas, montante 17% superior aos 70,8 milhões de toneladas do mesmo período, em 2012. Em valores, de janeiro a julho deste ano, o País conseguiu US$ 58,8 bilhões, alta de 10% ante os primeiros sete meses do ano passado. “Os produtos brasileiros ganharam mais competitividade no mercado internacional, por causa da desvalorização cambial”, diz Ferraz. “Vamos exportar mais.”

Mas nem tudo é positivo com a alta do dólar para o Brasil. Com a valorização da moeda americana, a expectativa é de aumento dos custos de produção, já que grande parte dos insumos, como fertilizantes e agroquímicos, é importada. Segundo Alexandre Figliolino, diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), esse aumento dos custos deve afetar o bolso do agricultor somente na próxima safra, uma vez que os insumos desta safra já foram adquiridos. “Na safra 2013/2014 os produtores ficarão com as margens de lucro mais apertadas”, afirmou Figliolino. Isso, é claro, se não houver uma nova rodada de desvalorização cambial no próximo ano.

Além da alta dos custos, a queda nos preços das commodities no mercado internacional pode prejudicar a rentabilidade do setor. Segundo Élcio Bento, analista da consultoria gaúcha Safras & Mercado, depois de o milho e a soja terem experimentado dois anos de altas cotações, por conta de quebra de produção nos principais países produtores, a tendência é de recuo nos preços no próximo ano. “Os produtores precisam começar a pensar nesta safra o que farão na próxima”, diz Bento. “Senão perderão dinheiro.”