O passatempo preferido do zootecnista Jorge Espanha é pegar uma bike e sair por aí. E não é de hoje. A bicicleta é sua companheira desde os tempos de estudante. Ela, inclusive, o levou ao casamento. Até hoje, Espanha se lembra de uma pedalada de 35 quilômetros com a namorada e atual mulher, em Nazaré Paulista, cidadezinha montanhosa próxima à capital paulista. “Quase perdi o fôlego”, diz ele. “Cheguei estourado no fim da trilha.” Fôlego, aliás, tem sido condição importante na carreira de Espanha, presidente da subsidiária brasileira da Zoetis, que nasceu da transformação da antiga divisão de saúde animal da Pfizer numa nova empresa, separada dos seus negócios de saúde humana. Num mercado concorrido como o brasileiro, construir a subsidiária da Zoetis vai exigir muita inspiração e transpiração do executivo.

Presente em 11 países, a nova companhia é dona de uma receita global de US$ 4,2 bilhões. O volume equivale a 23% do comércio mundial desse segmento, que tem entre as gigantes nomes como Bayer, MSD, Merial e Elanco.

No mês passado, terminado o “período de silêncio” da nova companhia, que fez sua oferta pública de ações em fevereiro, na Bolsa de Nova York, Espanha explicava, de seu escritório localizado no oitavo andar de um edifício na marginal do rio Pinheiros, em São Paulo, como a Zoetis vai se comportar de agora para a frente. “A área de saúde animal era mais um negócio, em meio a tantos outros da Pfizer”, diz o executivo. “Fora do grupo, o setor de saúde animal terá melhores oportunidades para crescer.”

No País, o setor de saúde animal faturou R$ 3,6 bilhões em 2012, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), um crescimento de quase 50% em cinco anos. Desse total, 60% da receita provém do comércio de produtos para ruminantes, basicamente bovinos. Aves e suínos detêm um fatia de 15% cada um, e os animais de companhia, 10%. Para Emílio Carlos Salani, diretor de operações do Sindan, a expectativa de crescimento para 2013 está acima de 5%. “A indústria farmacêutica animal tem focado cada vez mais no conceito de gestão e isso alavanca os negócios”, diz Salani. “Perceber o que o cliente necessita não é uma tarefa fácil, mas o dueto tecnologia-serviço é um modelo irreversível para a indústria.”

Hoje, a Zoetis atende diretamente a 7,5 mil fazendas no País, com uma equipe de 270 veterinários, agrônomos e zootecnistas. Além disso, possui cerca de mil canais de venda, entre distribuidores e revendas. “Temos desde clientes do porte da BRF, Marfrig, Aurora e Pif Paf até pequenos criadores de gado leiteiro”, diz Espanha. No ano passado, a empresa fechou uma parceria com a Embrapa para estudar 12 marcadores moleculares para o gado gir leiteiro, entre eles, maior produção de leite, gordura e proteína. “O leite necessita de muita tecnologia e é um prato cheio para o setor de saúde animal”, afirma Espanha. No gado de corte, a companhia foi uma das primeiras a mapear o genoma da raça nelore, desde 2008, em busca de características de maior produtividade, como maciez da carne, por exemplo.

No mundo, o investimento da Zoetis, que mantém dois centros de pesquisa – um nos Estados Unidos e outro na Índia –, está acima de US$ 350 milhões por ano. Estão incluídas nesse montante parcerias com universidades, como as que ocorrem no País. Com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Jaboticabal, por exemplo, já foram desenvolvidos medicamentos específicos para  o gado brasileiro. “O desenvolvimento de pesquisa no País começou em 2007, como uma estratégia de negócio”, diz Espanha. “E vamos continuar.”