Agronegócio direto | conglomerado

U m dos setores mais difíceis do agonegócio é o sucroenergético, que sofre com a falta de uma política de longo prazo. Uma esperança é o RenovaBio – Biocombustíveis 2030, que vai criar uma estratégia para o etanol. Mesmo nesse cenário adverso, algumas empresas têm conseguido bons resultados, por meio de uma eficiente gestão financeira. Um bom exemplo é a Biosev, segunda maior processadora de cana-de-açúcar do mundo, controlada pela gigante francesa Louis Dreyfus Company, que faturou US$ 65 bilhões no ano passado. Já a receita da companhia brasileira, foi de R$ 6,8 bilhões, um crescimento de 9% comparado aos R$ 6,2 bilhões do ano anterior. “A receita líquida excluindo os efeitos contábeis do hedge da dívida em moeda estrangeira foi de R$ 7,1 bilhões na safra 2016/2017”, afirma Rui Chammas, presidente do grupo. “Esse desempenho se deve ao aumento dos volumes vendidos de etanol e açúcar, além dos maiores preços dessas commodities.” O incremento da comercialização de outros produtos, como levedura, melaço em pó, ração animal e energia, também ajudou a elevar o faturamento. Com esse resultado, a Biosev foi a campeã da categoria Agronegócio Indireto – Conglomerados, no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2017, além de ser a vencedora em Gestão Financeira.

É examente a gestão financeira que tem feito toda a diferença no desempenho da companhia. “A Biosev avança no seu projeto empresarial comprometida com a disciplina financeira”, diz Chammas. “Isso se traduz, principalmente, no alongamento do perfil do endividamento e na busca da redução da alavancagem.” Na safra passada, a dívida bruta da companhia passou de R$ 6,7 bilhões para R$ 6,2 bilhões, uma de redução de 6,3% frente ao ciclo anterior. Não somente por isso, segundo executivo, mas porque, ao mesmo tempo, a empresa combinou qualidade de ativo biológico com unidades industriais, confiabilidade operacional e eficiência de processos para ter o menor custo de produção. Com essa estratégia e a capacidade de rolagem dos compromissos bancários de curto prazo, a Biosev chegou ao final da safra com uma posição adequada de caixa de R$ 1,5 bilhão. “Esse valor é equivale a 80% dos vencimentos de curto prazo, que são de R$ 1,2 bilhão.”

Três pilares: Para Luiz Pretti, presidente da Cargill, empresa que faturou R$ 33,8 bilhões em 2016, preocupação com as pessoas, fazer a coisa de forma correta e ambição para crescer são os pilares que motivam a companhia a ampliar os negócios e a se destacar em gestão corporativa (Crédito:Marco Ankosqui)

Além da geração de caixa livre positiva, de modo sustentável, a empresa está atenta ao fortalecimento da estrutura de capital. “Incorporamos à nossa cultura organizacional a forma sistemática de identificar oportunidades de economia ou de uso mais racional dos recursos financeiros”, afirma. Essa forma de atuar, segundo Chammas, tem permitido identificar ações para melhorar os custos e tornar a produção mais competitiva. Para ele, as práticas mais adequadas para se administrar um negócio são a disciplina financeira e a excelência operacional, somadas à inteligência de mercado para fazer a leitura estratégica e antecipar os movimentos que possam impactar o negócio. “Assim, minimizamos os riscos e criamos oportunidades para alcançar um melhor retorno.”

A Biosev adquiriu sua primeira unidade no Brasil em 2000 e hoje possui 11 usinas nos principais polos agroindustriais do setor sucroenergético do País, como Ribeirão Preto (SP) e Mato Grosso do Sul. A capacidade de processamento anual é de 36,4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e 1,3 mil gigawatts/hora de energia elétrica renovável gerada a partir da queima do bagaço de cana e outras biomassas. Na safra 2016/2017, a moagem da empresa foi 31,5 milhões de toneladas, ante 31 milhões de toneladas no ciclo anterior, um aumento de 1,9%. A produção de açúcar foi de 1,9 milhão de toneladas, um incremento de 11,5% comparado a 1,7 milhão de toneladas na safra 2015/2016. Já a produção de álcool, caiu 8,2%, de 1,2 milhão de metros cúbicos para 1,1 milhão de metros cúbicos.

Para ser a melhor em Gestão Corporativa, a Cargill, sexta colocada entre as 500 MAIORES EMPRESAS DA DINHEIRO RURAL 2017, tem como princípio valorizar as equipes de trabalho. “Para uma empresa de 152 anos e que está em cerca de 60 países não existe cinza”, afirma Luiz Pretti, presidente da companhia no Brasil. “É branco ou preto, certo ou errado.” Em 2016, a subsidiária brasileira faturou R$ 33,8 bilhões com a venda de grãos, óleos e gorduras, amidos, adoçantes, cacau e chocolate, ante R$ 32,1 bilhões no ano anterior, um crescimento de 0,7%. A receita ficou atrás somente da matriz americana, que foi de US$ 110 bilhões.

Segundo o executivo, a gestão corporativa está no DNA da Cargill, uma das grandes líderes em processamento de alimentos. “Nesses 52 anos de Brasil, isso tem sido incorporado e transmitido a todos os seus dez mil colaboradores no País”, diz. Preocupação com as pessoas, ética e ambição para crescer são os três pilares da Cargill, de acordo com Pretti. “Isso é o que motiva a empresa a ampliar os seus negócios e a se destacar em gestão corporativa”, diz.

Para isso, no ano passado, foram investidos R$ 775 milhões em infraestrutura e na ampliação das unidades de processamento de soja, em Três Lagoas (MS). Em seis anos, os aportes totalizaram R$ 3,8 bilhões. Nesse período, os setores contemplados foram infraestrutura, logística, portos, armazenagem e inovações. A capilaridade é outra aposta da empresa que tem 192 armazéns e transbordos, 22 fábricas em 17 Estados, seis terminais portuários e dois centros de inovação. Em 2016, a empresa também cresceu nos segmentos de nutrição animal, com receita líquida de R$ 737 milhões, atomatados, com R$ 531 milhões, e food service, com R$ 174 milhões.

Outro negócio que tem dado um bom retorno financeiro é a Alvean, joint venture entre a Cargill e a Copersucar, com participação de 50% de cada companhia, e que faturou no ano passado R$ 28,3 bilhões, ante R$ 26,3 milhões em 2015. Em outubro, Pretti assumiu por dois anos o cargo de chairman da Alvean, que é responsável pela comercialização de 35% do volume de açúcar no mercado mundial, o equivalente a dez milhões de toneladas. “A ideia é manter o ritmo de crescimento e de expansão do grupo”, diz o executivo. Na ponta da agulha, estão os investimentos de R$ 400 milhões que serão concluídos até o fim deste ano na expansão dos terminais de Santarém e Miritituba, ambos no Pará, e o transporte no Rio Tapajós. “Também estão nos planos, aquisições no setor de food service.”