A revolução digital passa a modernizar o crédito rural. Desde de julho, é oficialmente permitido pelo Banco Central o uso do sensoreamento remoto para a fiscalização das propriedades. Invés de fiscais, os bancos passam a observar as fazendas com o uso de satélites, veículos aéreos não tripulados (Vants) ou drones. Mas há quem se adiantou. “Há cerca de quatro anos, já usamos as imagens de satélite”, afirma Carlos Aguiar Neto, diretor de Agronegócios do Santander. “E vamos ir além”. Até o final do ano, o banco quer ampliar seu campo de visão. Não basta saber apenas sobre a área onde estão as culturas financiadas, mas entender toda a lógica da produção da propriedade. Segundo Aguiar Neto, isso garante menos risco ao banco e maior transparência ao produtor. Além disso, o serviço de imagens digitais vai acelerar e baratear o processo.

Visão geral: a ideia de Aguiar Neto, do Santander, é diminuir o risco das operações ao ampliar o alcance das imagens das fazendas (Crédito:Luisa Santosa)

O Santander se adiantou porque viu que essa tecnologia tinha tudo para agregar mais poder a sua atuação no campo. Dono de uma carteira de crédito rural de R$ 14,65 bilhões, o banco tem visto esse montante crescer. Entre os anos de 2016 e 2017, a alta foi de 44%, indo para R$ 9,61 bilhões. Hoje ele oferece taxas que podem variar de 7,5% ao ano a 14% ao ano, com recursos obrigatórios e livres, linhas do BNDES e Funcafé, além de títulos do agronegócio como Cédula do Produtor Rural (CPR). À frente dessa corrida digital, o banco colhe bons frutos como a agilidade de mensuração da lavoura avaliada, o acompanhamento do histórico da área cultivada e as informações dos produtores reunidas num mapa, na tela do computador. “Conheço mais a área de cultivo da fazenda do que o dono dela”, diz Aguiar Neto.

Para o executivo Sério Rocha, sócio fundador da paulista Agrotools, empresa especialista em sensoreamento digital no campo, é a partir dessa transparência observada pelo Santander que as relações entre produtor e banco vão melhorar. “Existe um verdadeiro apagão de informações no campo”, diz. “Isso faz com que o plantar e o colher se torne uma atividade de alto risco.” Além de mais transparentes, as operações tenderão a ser mais baratas, segundo Cláudio Filgueiras, chefe do departamento de Regulação, Supervisão e Controle das Operações do Crédito Rural do Banco Central. A estimativa é que cada instituição financeira desembolse até R$ 80 milhões por ano para desenvolver o trabalho de fiscalizações físicas nas propriedades. Com o uso das imagens, esse custo pode cair em até 65%. “Com um custo menor, melhora a gestão do crédito rural para o banco”, diz Filgueiras.