No município gaúcho de Garibaldi, com apenas 35 mil habitantes, uma família de imigrantes italianos tem chamado a atenção de moradores e turistas.

Orgulho Rosângela Lazzari teve a maior produção de toda
a Cooperativa Garibaldi. Foram 20 mil quilos de uva (Crédito:Divulgação)

Há 18 anos, Odete Bettú Lazzari, 69, transformou o porão de sua casa num ambiente aconchegante para quem quiser saborear pratos que resgatam a tradição gastronômica da sua família. Trata-se da Osteria Della Colombina. Do cardápio, constam delícias como a polenta brustolada com queijo e salame, a sopa de capeletti e o nhoque a três queijos com molho de linguiça fresca. Para completar o clima, o ambiente é rústico, com chão batido, parede de tijolos aparentes e decorado com fotos e móveis antigos. A beleza do lugar não se resume à cozinha. Toda a propriedade é um verdadeiro ponto turístico. Dá para ver de perto a criação de pequenos animais, passear pelos pomares e, o mais importante, conhecer os parreirais de uvas. É justamente essa plantação que recebe a maior parte da atenção e do carinho da família Lazzari. Ali, eles investem na produção biodinâmica da fruta.

“As bebidas biodinâmicas estão em alta na Europa. Por isso, decidimos testar o produto no mercado nacional” Oscar Ló,
presidente da Cooperativa Garibaldi (Crédito:Divulgação)

Esse trabalho foi iniciado em 2016, por Rosângela Bettú Lazzari, 45 anos, filha de Odete e agricultora. “Em meados de 2008, comecei a converter toda a produção agrícola da propriedade em orgânica”, conta Rosângela. “Agora, passamos para outro nível.” Ela e outros dois produtores da região são os responsáveis pela nova linha de espumantes, batizada de Astral, da Cooperativa Vinícola Garibaldi, sediada no município e que faturou R$ 155 milhões no ano passado, 16% acima de 2017. Os três produtores estão certificados para produção biodinâmica.

EXÓTICA Difundida pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner na década de 1920, a agricultura biodinâmica segue as mesmas normas da orgânica, sem o uso de insumos químicos, como defensivos e fertilizantes. E vai além, com a aplicação de soluções homeopáticas nas culturas e a integração de todas as atividades agrícolas da fazenda. “Percebo que, com o tempo, a lavoura vai entrando em equilíbrio”, diz Rosângela. “Não sendo tão necessária a aplicação dos produtos homeopáticos”. A agricultora, que antes fazia até 12 aplicações, afirma que, hoje, mal chega à metade disso. A biodinâmica é considerada uma vertente nova e exótica da agricultura, porque guia as datas certas de plantio, de colheita e de outras atividades dentro da lavoura por um calendário astronômico agrícola. Há quem garanta, por exemplo, que o vinho pode ter um sabor diferente simplesmente pelo fato de as uvas serem colhidas no dia certo.

Em alta Este ano, a Garibaldi deve produzir 17 milhões de litros de bebidas derivadas da uva, como espumantes, vinhos e sucos (Crédito:Divulgação)

Foi sob esse novo conceito de produção que saiu a safra de 300 quilos da uva chardonnay, variedade vitivinícola e específica para a produção de espumantes, da Cooperativa Garibaldi.

A expectativa para a safra atual, que termina em abril, é de 700 toneladas (alta de 133%). “A chardonnay é uma jóia rara no nosso parreiral. Exige trabalho constante e muita dedicação”, diz Rosângela. “Mas vale a pena. Esse estilo de agricultura está transformando toda a nossa propriedade.” Além da chardonnay, a produtora cultiva as variedades isabel e bordô, em cerca
de 1,5 hectare. O projeto é uma forma de agregar mais valor à produção, segundo o presidente da Garibaldi, Oscar Ló. Variedades comuns, como isabel e bordô, são pagas ao produtor pelo preço médio de R$ 1,03 o quilo. Na produção biodinâmica, o preço salta para R$ 1,7 o quilo (65% mais caro).

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Já o quilo da chardonnay comum sai por cerca de R$ 3, enquanto a biodinâmica custa 50% mais: R$ 4,5. “Sabemos que esse tipo de bebida biodinâmica está em alta na Europa. Por isso, decidimos testá-la no mercado nacional”, diz Oscar Ló. “Estamos aproveitando que muitos produtores da região estão convertendo sua produção em orgânica.” Atualmente, dos 400 produtores associados à Cooperativa Garibaldi, vinte são orgânicos e entregam 320 mil quilos por safra. Para a safra 2019, a Garibaldi espera receber 23 milhões de quilos de uva, 15% a mais em relação ao período anterior. Isso poderá render 17 milhões de litros de bebidas derivadas da uva, entre espumantes, vinhos, sucos, frisantes e filtrados.

Além do espumante, na nova linha da cooperativa serão produzidos também o suco tinto de uva biodinâmica. A safra colhida em 2017 foi de 30 mil quilos de uvas, rendendo 700 garrafas de 750 mililitros de espumantes e 12 mil litros de suco. Um
negócio que pode render R$ 300 mil. A expectativa para a próxima leva de espumantes é de que sejam produzidas duas mil
garrafas. De todos os cooperados, Rosângela Lazzari foi quem forneceu mais uvas à Garibaldi. De suas terras, saíram nada menos do que 20 mil quilos da fruta. “Estou no caminho para produzir ainda mais”, declara. “As pessoas estão se interessando cada vez mais numa alimentação saudável, livre de química. Por isso, apostamos na agricultura biodinâmica.”