O mercado de proteína animal passou por uma série de reveses ao longo de 2018. No começo do ano, a Rússia iniciou um bloqueio a carne suína. Em abril, 18 frigoríficos foram proibidos de exportar carne de avies para a União Europeia. A greve dos caminhoneiros, no fim de maio, foi mais um incidente a afetar o setor. Depois de um longo silêncio, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) decidiu vir a público para se pronunciar sobre essas questões.“Essa suspensão da União Europeia era algo impensável”, afirma Francisco Turra, ex-ministro da Agricultura e presidente da ABPA. “Além disso, perdemos 40% do mercado internacional de carne suína.” Mesmo assim, a visão da associação não é pessimista. No caso da carne suína, por exemplo, Turra ainda observa oportunidade para crescer em novos destinos. “Isso já aconteceu este ano”, diz Turra. “China, Hong Kong aumentaram expressivamente as importações. Abrimos recentemente o mercado para a Coréia do Sul e estamos em diálogo com o México.”

“Essa suspensão da União Europeia era algo impensável” Francisco Turra, presidente da ABPA (Crédito: Kelsen Fernandes)

As apostas são em manter o diálogo com países que estão despontando para o setor. No acumulado de janeiro a julho deste ano, a China importou 89,3 mil toneladas de carne suína, três vezes mais do que no mesmo período do ano passado. Hong Kong, que é o atual líder de compras dessa proteína animal, comprou 99,2 mil toneladas no acumulado deste ano, 18,6% a mais ante o resultado de janeiro a julho de 2016. É esse movimento que sustenta a produção de carne suína, que deve chegar a 3,8 milhões de toneladas até o fim do ano, representando 1% a mais sobre 2016. Mesmo abrindo novos mercados, as exportações devem cair até 12%, ficando próximo a 620 mil toneladas. A produção de aves, por sua vez, deve ter uma queda de até 2%, encerrando o ano em 13 milhões de toneladas. As exportações também deve apresentar uma redução de 3%, atingindo 4,3 milhões de toneladas. “Perdemos grande parte do mercado de carne suína, mas conseguimos nos recuperar”, diz Ricardo Santin, vice-presidente e diretor de mercados da ABPA. “Isso está mostrando que o Brasil é muito capaz de se tornar menos dependente da Rússia.”

A associação não perdeu as esperanças de retomar o relacionamento comercial com a Rússia, que foi a grande responsável pelo crescimento da vendas de carnes suínas brasileiras na virada do século. Em 2001, a exportação dessa proteína animal chegou a atingir uma receita de US$ 373,7 milhões por 274,7 mil toneladas embarcadas, um pouco mais do que o dobro do ano anterior. De lá para cá, foram 16 bons anos de comércio. O Brasil já chegou a exportar 403,3 mil toneladas de carne suína para a Rússia, em 2005. Em 2017, no último ano de embarques maciços ao país, foram 259,4 mil toneladas. O bloqueio veio como resposta a uma retaliação ao Brasil. Segundo Turra, a intenção do país era vender trigo e pescados ao Brasil. Como as negociações não vingaram, eles esperaram o momento apropriado para declinar das importações da carne suína brasileira. “Fomos pegos de surpresa”, diz Santin. “Ninguém acreditava que a Rússia seria autossuficiente em carne de aves e, agora, em carne suína.”