Um lote com cerca de 400 bovinos nelore, na fase de recria em pasto rotacionado, está submetido a uma rotina diária de consumo médio de 300 gramas de um suplemento mineral, batizado de “proteico águas”. Esses animais, que ganham peso num ritmo de 800 gramas por dia, ocupam hoje 80 hectares da fazenda Liberdade do Mato Dentro, em São Luiz do Paraitinga, no interior paulista, propriedade de 1,8 mil hectares do pecuarista Ricardo Oliveira Lima. Elementos como fósforo, cálcio, zinco e muitos outros ingredientes que compõem os suplementos minerais são essenciais para o bom desenvolvimento de um animal e fazem parte da rotina da pecuária brasileira há pelo menos duas décadas. A grande novidade, iniciada por Oliveira Lima e ainda praticamente desconhecida pela legião de mais de cinco milhões de pecuaristas brasileiros, é fornecer esses elementos baseados na pecuária de precisão, um conceito similar na agricultura ao utilizar a informação para dar à terra aquilo que ela necessita, na medida exata para produzir mais e melhor. “Ministramos o produto da forma certa, medimos o consumo dos animais e o seu desempenho”, diz Oliveira Lima. “Se a tecnologia não fizer parte da rotina diária, não funciona.”

Para ele, a pecuária de precisão pode fazer a diferença entre fechar a conta no azul ou no vermelho. É o que pensam, também, muitos especialistas da área: quem quiser ganhar dinheiro na pecuária deve produzir mais quilos de carne por hectare/ano, aumentando a eficiência da fazenda. A propriedade de Lima, que possui um rebanho total de 2,2 mil animais, abate por ano uma média de 950 bovinos, mas sem adicional por arroba por causa do capricho na dieta dos animais. “Produzo uma boiada precoce e bem terminada”, diz o pecuarista. “Com um bom rendimento de carcaça, sempre consigo preços máximos do boi.” Enquanto o desfrute na fazenda de Lima é superior a 40%, a média nacional gira em torno de 20%. “Gestão é o calcanhar de aquiles da pecuária”, diz Oliveira Lima. “Numa atividade tão conservadora, organização e planejamento são fundamentais.”

Para o agrônomo Sérgio Morgulis, diretor da Minerthal, tradicional fabricante de suplemento alimentar para bovinos de corte e leite, que faturou R$ 30 milhões em 2012, Oliveira Lima é um gestor de dar inveja a muito fazendeiro. Morgulis o considera um dos melhores pecuaristas atendidos pela fabricante, que tem 40 anos de mercado e deve vender 30 mil toneladas do produto em 2013. “Essa é uma fazenda onde a suplementação dá ótimos resultados”, diz Morgulis. A idade média de abate do rebanho é de 22 meses, mas Lima já produziu superprecoces de 14 meses. Os bezerros são desmamados aos 240 quilos e as fêmeas, aos 220 quilos, com uma taxa de prenhez de 90%. Para o pecuarista, vários fatores combinados garantem a produtividade, mas a suplementação mineral de precisão é um item entre os primeiros da lista. “Estou aberto a expandir o uso da tecnologia sempre que o custo-benefício permitir”, afirma Lima. Na fazenda Liberdade do Mato Dentro, os animais  consomem uma média de 65 quilos de suplemento mineral por ano, bem acima da média nacional estimada pela Minerthal, de apenas dez quilos por animal/ano.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram), a busca por produtividade na pecuária deveria ampliar as vendas nos próximos anos, mas esse mercado ainda oscila bastante. O setor vendeu 3,4 milhões de toneladas em 2012, um recuo de 23% em relação ao comercializado em 2011, que foi de 4,5 milhões de toneladas. “Este ano esperamos aumentar as vendas em até 11,5% e recuperar parte do que perdemos em 2012”, diz Elizabeth Chagas, diretora-executiva da Asbram. Atualmente, a entidade tem 68 associadas, entre elas nomes como Bellman, HJ Baker, Matsuda, além da Minerthal. “O Brasil ainda é um país onde a suplementação mineral é vista como custo e não como geradora de lucros”, diz Elizabeth. “Mas ela é a maneira mais econômica de levar a mais alta tecnologia para o campo.”

Para a pecuária de precisão da fazenda Liberdade do Mato Dentro funcionar, Oliveira Lima fornece todos os dados da propriedade à Minerthal, que faz um planejamento com indicações de produtos e recomendações de uso e depois acompanha a sua aplicação. Segundo Morgulis, o trabalho leva em conta inúmeros fatores, entre eles a taxa de ocupação dos pastos e a sua qualidade, além da quantidade de chuvas e do índice de fertilidade do rebanho. “É preciso saber exatamente como o fazendeiro produz e, a partir daí, as metas fixadas por ele geram uma demanda nutricional específica”, diz o diretor da Minerthal. O representante técnico Luiz Edgar Gambini, que acompanha cerca de 80 pecuaristas de São Paulo, conta que o trabalho começa na análise de solo e nos dados técnicos que o fazendeiro dispõe. “Não adianta ter uma suplementação de ponta se o pasto não tiver qualidade”, diz Gambini. “Cada fazenda tem uma necessidade, damos ao gado só aquilo que falta no pasto.”

Segundo Morgulis, o problema é que a suplementação mineral ainda é feita de maneira indiscriminada. “Muitas vezes, o gado consome além da conta, o pecuarista gasta mais e a suplementação não surte o efeito desejado”, diz. “A maior parte dos problemas de suplementação acontece da porteira para dentro.” Morgulis calcula que, dos atuais dois mil clientes atendidos pela empresa, apenas 20% realizam a suplementação mineral de precisão. “É necessário intensificar a divulgação da tecnologia”, diz.

Há cinco anos, a Minerthal mantém uma parceria com a Embrapa Arroz e Feijão, unidade localizada em Santo Antônio de Goiás, para testar a eficiência dos suplementos. A empresa fornece o produto a 110 animais por ano, que participam do Teste de Desempenho de Touros Jovens a Pasto da Embrapa, desenvolvido em conjunto com a Associação Brasileira de Criadores de Zebu. “Com o projeto, testamos e comprovamos a tecnologia”, diz Fernando Schalch Júnior, gerente técnico da Minerthal. O teste faz parte do Programa de Integração Lavoura-Pecuária (PILP), numa área de 52 hectares. Desde que foi criada, em 2008, a meta da prova é que animais desmamados aos oito meses, com cerca de 230 quilos, alcancem os 540 quilos, 15 meses depois. Segundo Schalch Júnior, essa meta tem sido superada desde o início da parceria. “No ano passado, a média de peso dos animais com 23 meses foi de 570 quilos”, diz. A média diária de ganho de peso foi de 200 gramas, durante a seca, e de um quilo, no período de chuvas. “Isso tudo, aproveitando ao máximo a qualidade do pasto e o potencial genético dos animais.”