Roberto Jaguaribe, presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) fala sobre os projetos para 2018

No comando da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o embaixador Roberto Jaguaribe tem algumas prioridades para 2018 e o agronegócio é uma delas. Em entrevista exclusiva à DINHEIRO RURAL, ele diz que a sua missão é estreitar ainda mais as relações comerciais com os países asiáticos, principalmente com o mercado chinês, hoje o principal destino de todas as exportações brasileiras. A Apex, que também possui projetos para incentivar outros setores, como máquinas e equipamentos, moda, tecnologia e saúde, quer atrair recursos estrangeiros para logística e infraestrutura, considerados setores críticos para o campo. Sanar problemas desse tipo pode levar ao aumento da participação do agro no comércio internacional, que já responde por US$ 90 bilhões, 45% das exportações totais do País. Jaguaribe também fala de programas para melhorar a imagem do País no Exterior e como facilitar o acesso a mercados.

Dinheiro RURAL – O sr. acredita que possa ocorrer uma onda de investimentos estrangeiros no País, agora que a economia começa a dar sinais de recuperação?

Roberto JAGUARIBE – Sim. Hoje, toda a equipe da Apex está conectada com órgãos do governo federal para trazer investidores ao País, em especial para processos de concessão em parcerias público-privadas. Como o governo está comprometido com o controle fiscal, certamente isso facilitará a entrada de investidores externos, ou mesmo brasileiros. A agricultura é o segmento mais afetado pela falta de infraestrutura logística e de transporte, e esses recursos vão beneficiar diretamente o setor. Essa é uma prioridade, mas também estamos interessados em outros segmentos, como recursos para financiamento, seguro e aquisição de máquinas e de implementos.

Porto seguro: a China é o maior comprador de commodities do País, entre elas a soja, mas tem potencial para comprar muito mais (Crédito:Orlando Kissner)

RURAL – Quais os desafios do agronegócio ao acessar mercados internacionais?

JAGUARIBE – As principais dificuldades estão nas barreiras técnicas, sanitárias e fitossanitárias, porque são de difícil combate. E hoje, além do protecionismo que vigora no setor agrícola, e que prejudica o avanço dos negócios, há ainda os problemas de imagem agravadas após a Operação Carne Fraca e a delação dos executivos da JBS, fatos ocorridos no ano passado. Mas o agronegócio está na mira da Apex-Brasil, porque é um setor com alta competitividade global e que ainda possui um grande potencial de exportação a ser explorado.

 

RURAL – Como melhorar a imagem do País?

JAGUARIBE – Nós temos algumas ações nessa linha. A mais recente foi a criação do Conselho do Programa de Imagem e Acesso a Mercados do Agronegócio Brasileiro (Pam Agro), lançado em dezembro. Dentro de um contexto mais amplo – tanto para o agro, como para qualquer outro setor –, há o projeto Be Brasil, que trabalha a imagem do País e tem como mensagem central “seja sustentável, competitivo, diversificado e incluso”. Esses são alguns valores em evidência no mercado internacional que queremos capitalizar.

RURAL – Há alguma parceria estratégica para desenvolver ações desse tipo?

JAGUARIBE – Sim, os programas em parceria com setores representativos do agronegócio formam a base dessas ações. O Pam Agro, por exemplo, é o resultado do esforço conjunto entre o governo e o setor privado. Além dos ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores, também fazem parte a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Este é um programa no qual a Apex jogou todas as fichas e está depositando muitas esperanças. Os investimentos estão estimados em R$ 7,5 milhões para aproximar os vários setores da economia. A ideia é discutir estratégias comerciais para aumentar a participação dos produtos brasileiros no mercado externo e todas as cadeias precisam se posicionar. Nesse início de 2018, o projeto está voltado, principalmente, para o mercado asiático. Foi justamente para dar fluxo a programas desse tipo que no ano passado a Apex criou a gerência de agronegócio. Hoje, há 16 projetos e 130 ações para promover o setor.

 

RURAL – Qual o montante de recursos da Apex que está indo para o agronegócio?

JAGUARIBE – Não temos isso definido, apesar da importância do agronegócio para o País. Mas a nossa ação tem levado a uma expansão das exportações, e isso medimos pelo desempenho das empresas apoiadas pela Apex. Em 2017, as vendas externas de produtos das empresas ligadas à entidade foram de US$ 61,9 bilhões, o equivalente a 28% de participação nas exportações totais brasileiras. No ano passado, foram investidos US$ 1,6 bilhão em 17 novos projetos e em 38 eventos, em todas as áreas de atuação da entidade. Os destaques foram as ações na China, nos Estados Unidos e na Espanha. No Brasil, as parcerias ocorreram com os ministérios do Trabalho, da Indústria e do Comércio, da Agricultura e dos Transportes, Portos e Aviação Civil.

RURAL – Além das commodities de destaque, como soja, milho e proteína animal, como a Apex tem atuado em mercados mais sensíveis e que exigem um trato diferenciado?

JAGUARIBE – No caso das frutas, um setor importante, a Apex já tinha projetos, mas decidiu trabalhar de forma mais agressiva e criou, também em dezembro do ano passado, o projeto setorial Abrafrutas. A iniciativa reúne a Apex, a CNA e a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados, entidade que responde por 80% das frutas frescas exportadas pelo Brasil. Além de missões de negócios e da defesa de interesses do setor, estão previstas ações em 2018 e 2019 na Fruit Logística, uma das mais importantes feiras do setor, realizada em Berlim, na Alemanha. Também vamos participar de eventos destinados aos distribuidores de frutas na Europa, no Oriente Médio e na Ásia. A expectativa é que a receita com as exportações de frutas brasileiras chegue a US$ 1 bilhão anual em 2019, ante US$ 870 milhões no ano passado.

Marketing: a participação de entidades como a Abiec, em feiras internacionais, tem atraído um público cada vez mais interessado no País

RURAL – Pela dinâmica do agro brasileiro, há outros setores a serem considerados como potenciais exportadores?

JAGUARIBE – Acredito que a aquicultura seja uma área de interesse para o comércio internacional. O Brasil é o país mais bem posicionado para ser o maior produtor de peixe do mundo, pela abundância de água doce e salgada, e pela disponibilidade de alimentos. Por isso mesmo, a Apex reuniu todos os órgãos relevantes e está iniciando um grande programa para incentivar a produção e a exportação de pescados. Mas, além de competência tecnológica e logística, precisamos criar mecanismos ambientalmente seguros. Uma empresa de consultoria já foi contratada para um estudo sobre esse mercado.

 

RURAL – Nesse ambiente de tantos projetos, há algum mercado considerado prioritário para o Brasil?

JAGUARIBE – Não descartamos nenhuma possibilidade, tanto que para 2018 definimos 22 mercados prioritários, que incluem países de todos os continentes. Mas a Apex tem um olhar especial sobre a China, um país investidor de grande relevância no Brasil e no mundo. Em 2017, por exemplo, o mercado chinês foi o principal destino das exportações das empresas associadas. No total, o valor das vendas ao país asiático foi de US$ 11,2 bilhões, bem à frente dos Estados Unidos, o segundo colocado, com US$ 7,7 bilhões. Há demanda certa na China. Por que, por ser um mercado gigantesco, ela quase sempre compromete toda a sua produção para atender o consumo interno. Soma-se a isso o crescimento projetado da população, principalmente o da classe média, que deve consumir ainda mais, principalmente proteína animal. É nesse contexto que o Brasil se insere como fornecedor estratégico. Em relação a outros mercados estamos interessados nos países árabes e em investidores tradicionais, como Estados Unidos, Japão e Europa. Além disso, estamos de olho nos fundos soberanos, como os de Singapura e nos países do Golfo Pérsico.

 

RURAL – O sr. tem acompanhado o movimento das startups brasileiras?

JAGUARIBE – Sim e acredito no potencial dessas empresas em vários segmentos, inclusive do agronegócio. Também acredito muito nas startups de serviços. Elas podem interessar ao mercado externo. De olho nesse setor, no final de 2017, a Apex lançou o StartOut Brasil, programa de internacionalização de startups. Para facilitar o acesso global, o projeto financia viagens e realiza a capacitação dessas empresas. A iniciativa foi realizada junto com os ministérios da Indústria e Comércio Exterior e com o de Relações Exteriores, mais o Sebrae e a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores. O primeiro grupo de empresas selecionadas embarcou para Paris em dezembro. Neste ano, os destinos são Berlim, Miami e Lisboa.