A adesão ao seguro agrícola está aumentando gradativamente no Brasil, com uma maior oferta de modalidades e de cobertura. No ano passado, foram comercializadas 101,8 mil apólices, um rescimento superior a 60% ante as 63 mil apólices emitidas em 2012. “Mas ainda há uma grande dificuldade do produtor em entender o que é um seguro”, diz Bruno Kelly, professor da Escola Nacional de Seguros, do Rio de Janeiro. “Além disso, no Brasil, o seguro ainda é visto como custo adicional, e não como um investimento na lavoura.” De acordo com o professor Kelly, para mudar essa cultura é preciso educar o produtor, já que contratar um seguro rural não é uma tarefa das mais simples. A primeira lição é que o agricultor não deve aceitar a primeira apólice oferecida. “Ele precisa estudar a sua produção, avaliar as necessidades da fazenda e contabilizar os riscos para tomar a melhor decisão”, afirma Kelly. 

O passo fundamental para a tomada de decisão, segundo ele, é entender as principais modalidades de seguro e suas indicações, para não comprar gato por lebre (veja quadro). “Além disso, cada seguradora tem regras próprias e as coberturas são muito flexíveis”, diz Kelly. Existem no mercado seguros específicos contra granizo, por exemplo, que cobrem apenas os danos causados pela chuva de pedra e geralmente são contratados por produtores de maçã, na região Sul do País. Outras apólices servem a intempéries como seca, vendaval, chuvas excessivas, queda de raio, geada e, por serem mais completas, acabam custando mais caro. 

Segundo Aline Arruda Milane, analista de produtos de seguros rurais do grupo segurador Banco do Brasil e Mapfre (BB-Mapfre), a modalidade mais contratada atualmente é a de produção, por agricultores de soja e milho. Essa modalidade leva em conta a perspectiva de colheita e o que realmente foi tirado do campo, indenizando prejuízos físicos, com o valor financeiro atribuído às sacas perdidas. “Cada seguradora pode se basear num referencial diferente e estipular um teto de produtividade”, diz Aline. Segundo ela, nesse caso deve-se observar se o teto proposto está de acordo com as expectativas do agricultor. “O ideal é
que o agricultor contrate um seguro condizente com a média histórica de produtividade de sua fazenda.” 

Outra apólice que vem ganhando espaço no mercado é a qualitativa, indicada à proteção da produção de frutas e hortaliças, já que nessas culturas a qualidade do produto influencia fortemente a remuneração do produtor. Por isso, a recomendação é que se observe cuidadosamente os critérios e requisitos seguidos pela seguradora. “É complexo mensurar a qualidade”, afirma Aline. “O produtor deve prestar atenção se os critérios de avaliação de perda de qualidade são parecidos com aqueles utilizados pelo mercado.” 

Na modalidade de seguros agrícolas, o menos conhecido no mercado, por ser recente no País, é o de renda ou rendimento. Há apenas dois anos ele vem sendo oferecido pela BB-Mapfre. “Esse seguro é o mais completo, porque cobre as perdas quantitativas causadas por um evento climático, mas também garante a receita do produtor”, declara Aline. Chamado de BB Seguro Agrícola Faturamento, ele tem como eferência a produção estimada de uma lavoura e os preços futuros das commodities na Bovespa. “Quando os preços caem, a seguradora automaticamente abre o processo de sinistro”, diz Aline. “É uma boa opção para quem não tem familiaridade com o mercado futuro.” 

Da mesma forma que novos produtos estão chegando ao mercado, também há novas companhias ingressando nesse segmento. É o caso da canadense Fairfax, que há cerca de dois anos oferece seguro para cavalos de raça e, agora, vai investir pesado no seguro agrícola. No mês passado, a Fairfax iniciou a comercialização de apólices de produtividade para a soja nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. No próximo ano, a seguradora vai oferecer seguro para frutas e outros grãos, como o milho. “Além disso, vamos lançar a modalidade de seguro de garantia de receita em 2016”, revela Fabio Damasceno, gerente de gronegócio da Fairfax. 

VALOR COMPAT ÍVEL Para os especialistas, é fundamental que o produtor forneça à seguradora o máximo de informações sobre sua produção. Isso é o que vai garantir que o produtor pague por uma apólice 
de valor compatível com o seu risco e tenha, de fato, toda a segurança desejada. Caso ele não forneça todos os dados, possivelmente a seguradora vai se basear em estatísticas do IBGE. De acordo com Damasceno, a informação é o segredo do negócio. “Se o produtor tiver uma base de dados confiável, conseguimos precificar corretamente para fazer uma cobertura mais customizada”, diz ele. 

Outra dica dos especialistas se refere à comunicação entre as partes. Após a contratação do seguro, o produtor precisa manter um contato transparente com a seguradora. “Às vezes, ocorre algum problema climático, mas o produtor fica na dúvida se haverá perda e só comunica na hora da colheita”, afirma Aline. “Isso dificulta o trabalho do perito.” Segundo ela, o ideal é que o produtor esteja preparado para receber o
pessoal que vai fazer as vistorias e comunicar imediatamente à seguradora qualquer ocorrência que ameace a lavoura. Para negociar bem, Damasceno recomenda sempre que possível uma ação coletiva. “Através de uma associação ou cooperativa, é possível ter vantagem na negociação, com descontos ou benefícios na contratação do seguro.”