Seja para começar bem o dia, para adoçar o paladar depois do almoço ou para acompanhar o lanche da tarde, o café é parte essencial da rotina do brasileiro. De acordo com a mais recente publicação Análise do Consumo Alimentar, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o produto é o número um nos itens mais consumidos pela população. Considerado uma paixão nacional, o café parece não ter sido abalado pela crise econômica dos últimos dois anos. Enquanto as vendas no varejo seguem desaquecendo, o comércio da bebida cresceu 4%, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), além da expansão de 20% de produtos diferenciados. Um deles, o recente mercado dos grãos premium, tem projeção de crescimento de 15% ao ano, até 2019. “Apesar de ser mais caro, o mercado de café premium se manterá sólido, pois os consumidores querem mais qualidade”, diz Nathan Herszkowicz, presidente da Abic.

Quem aproveitou para pegar carona nessa onda de crescimento foi o Grupo Três Corações, empresa de origem nordestina, criada em 1959 por João Alves de Lima, e que hoje é uma joint venture com a companhia israelense Strauss de alimentos e bebidas. Liderada pelo potiguar Pedro Lima, 50 anos, um dos sete filhos de João Alves, a companhia encerrou 2014 com um faturamento de R$ 2,7 bilhões e estima para 2015 seguir no mesmo ritmo, com cerca de R$ 3 bilhões em receitas. O grupo detém 22% do mercado interno de café industrializado, estimado em 22 milhões de sacas.  “O que tem nos fortalecido é o foco da companhia no consumidor”, afirma Lima. “E isso nos faz criar produtos mais inovadores e de melhor qualidade.”  Pelo desempenho alcançado, o Grupo Três Corações ficou em primeiro lugar no setor CAFÉ no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2015.

Para conquistar os apreciadores de um café mais refinado, a empresa destinou R$ 30 milhões em investimentos, que estão sendo utilizados neste ano e em 2016, para fixar no mercado as linhas premiuns com as marcas 3Corações e TRES. De acordo com o executivo, esses cafés especiais têm potencial para fidelizar ainda mais os consumidores, garantindo maior credibilidade ao grupo. “A busca do consumidor, por um café mais elaborado e pela experiência do produto, aumentou”, diz Lima. “Enxergamos também a possibilidade de expansão para outros países da América do Sul.”

O caminho para a diferenciação por qualidade vem sendo preparado em paralelo com outras ações. Em 2014, uma delas foi a aquisição da marca paranaense Café Itamaraty. Assim, já são 16 marcas no portfólio da Três Corações, entre elas Pimpinela, Kimimo, Santa Clara e os refrescos Frisco. Outro investimento realizado nos dois últimos anos foi a inserção da empresa no mercado de máquinas de café e de bebidas quentes, como chás e chocolates. Antes dominado pela Nespresso, da suíça Nestlé, o Grupo Três Corações tem obtido sucesso nesse nicho. A meta de vender 100 mil máquinas em 2014 foi dobrada, registrando 200 mil unidades comercializadas. Em 2015, o feito se repetiu com 400 mil unidades. “Nosso desempenho foi surpreendente, pois achamos que o número de máquinas vendidas cairia, por conta da crise econômica,” diz Lima. “Mas ela se manteve em crescimento. Em vez de comprar carros e outros bens duráveis, as famílias optaram pelo café.”

Para dar suporte ao segmento de máquina de bebidas quentes, que já conta com 2% de participação no mercado nacional de café, a companhia começou a investir cerca de R$ 100 milhões, em 2014, para construir uma fábrica em Montes Claros (MG). Da linha de produção, que entrará em operação no segundo semestre do próximo ano, sairão dez milhões de cápsulas por mês, em uma primeira etapa. “Queremos levar a praticidade e qualidade com um preço justo”, diz Lima. “As máquinas de bebidas quentes e nossas cápsulas proporcionam isso.”