Gergelim, linhaça, chia, amendoim, gelatina, e também abacate, maçã, melão.Organizados assim, parecem até uma lista de compras, mas na verdade são alguns dos itens da nova pauta de exportação brasileira. Juntos às commodities tradicionalmente embarcadas como soja, milho, algodão e proteína animal, compõem uma balança comercial que trouxe do exterior US$ 100,8 bilhões em receita em 2020. Fruto de um trabalho liderado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de abril de 2019 até março de 2021, exatas 130 novas oportunidades para produtos brasileiros foram abertas no mercado internacional. Do total, 64 estão na América do Norte; 49, na Ásia; 16, na África; e uma na Oceania, segundo a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI). Entre alguns destaques que chamam a atenção estão a castanha de baru enviada para a Coreia do Sul, mudas de coco, para a Guiana, e castanha do pará, para a Arábia Saudita.

US$ 70,3 milhões valor faturado com exportações de gergelim

Uma das negociações de sucesso ocorreu em janeiro de 2020, quando a Índia abriu seu mercado para o gergelim brasileiro. O volume passou de 3,1 mil toneladas em 2018, somando US$ 3,6 milhões, para 72 mil toneladas no ano passado, totalizando US$ 70,3 milhões. De acordo com Gustavo Hauck Rizzo, produtor da semente e presidente da Agrograins, empresa de comercialização e exportação de grãos situada em Canarana (MT), a demanda deve crescer. “Há cinco anos fui em uma feira e pude ver a dimensão do mercado. Hoje, tenho clientes que solicitam 100 mil toneladas.” A empresa é responsável por comercializar o gergelim de mais de 70 agricultores e parceiros, que juntos produzem algo entre 10 mil e 15 mil toneladas por ano. Em 2020, o grupo contribuiu com 3 mil do total de toneladas embarcadas. Para este ano, a meta é 10 mil toneladas. “Planejamos destinar mais de 90% da produção para o mercado internacional”, afirmou Rizzo.

Para levar pequenos e médios produtores ao mercado internacional e capacitá-los, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com a Apex, lançou, em março de 2020, o projeto Agro.Br. Gratuito, já conta com mais de 700 inscritos e é destinado a quem quer começar a exportar ou para quem já exporta e deseja aprimorar o processo, pois vencer a burocracia requer conhecimento. “Vemos uma demanda grande no mercado internacional por produtos não tradicionais. Mas as barreiras tarifárias mais altas dificultam o processo, assim como as fitossanitárias”, disse Lígia Dutra, diretora de Relações Internacionais da CNA. Para Edson Veiga Jobim, apicultor e fundador da Zunn Mel e Derivados, em São Gabriel (RS), o projeto ajuda a potencializar a venda ao capacitar os produtores para atender à demanda internacional. “Em 2020, exportamos 80 toneladas de mel, e neste ano pretendemos ultrapassar 100 toneladas. Ainda temos muito a explorar.”

O processo de expansão não é simples. O planejamento exige estudos de mercado realizados com auxílio dos adidos agrícolas expatriados, que avaliam critérios como o hábito de consumo e o potencial do produto no local. “A partir dos dados, contatamos os produtores via associações setoriais, e então começamos a programar a exposição dos produtos em feiras, além de organizar as missões empresariais”, disse Jean Marcel, diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos (DPR) da SCRI/ Mapa. Mas os esforços compensam. Ainda que no começo os volumes enviados aos portos pareçam quase irrisórios diante das grandes commodities, o potencial de expansão se prova com o tempo.