Desde que o engenheiro agrônomo Eduardo Estrada Whipple se tornou o presidente da alemã Bayer Crop Science para o Brasil e a América Latina, uma das maiores companhias de agroquímicos do mundo, em 2014, ele vem sendo visto como um grande revelador de talentos brasileiros para toda a empresa. Em 2015, por sua indicação, o engenheiro florestal Fábio Sgarbi saiu da posição de gerente de tratamento de sementes para liderar a área global de biotecnologia da empresa, nos Estados Unidos. Whipple também está por trás da transferência do engenheiro agrônomo André Kraide Monteiro para Singapura, de onde passou a comandar o marketing da multinacional na Ásia e no Pacífico. “Acredito que um dos grandes méritos do líder é saber quantos outros líderes ele é capaz de criar”, diz Whipple. Pela lista do executivo, apenas no ano passado ele ajudou a promover o talento de 24 profissionais da companhia, que em 2015 faturou no mundo      € 10,2 bilhões em seus negócios agrícolas. No ano passado, a Bayer foi a campeã em Gestão Corporativa na categoria Agronegócio Direto, no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL.

Não foi por acaso que o desenvolvimento de pessoas se tornou uma das principais marcas de Whipple. Ele, que nasceu na Guatemala, é filho de um pequeno agricultor de café e seringueira. Foi a partir de 1982, quando cursava agronomia e produção de alimentos na Universidade Politécnica do Estado da Califórnia, em San Luis Obispo, nos Estados Unidos, que começou a descobrir o interesse por comandar equipes.  “Na época, a faculdade se tornou uma grande fazenda para mim”, diz o executivo. Os alunos tinham de fazê-la produzir da melhor forma e por um ano e meio Whipple esteve no comando da equipe dos cultivos de abacate e de citros. “Foi a partir dessa experiência que tudo começou.” Mais tarde, no final da década de 1980, o talento foi aprimorado em cursos de mestrado e de MBA na Thunderbird School of Global Management, no Estado do Arizona.

De acordo com Whipple, as especializações lhe deram a base necessária para se tornar um administrador global. Em 1999, o executivo já liderava a gerência de marketing e desenvolvimento de produtos da suíça Syngenta, em Bogotá, na Colômbia. No Brasil, ele chegou em 2009 para liderar os negócios de nutrição humana e estratégia corporativa do laboratório farmacêutico holandês DSM. “Foram anos de muita experiência em gestão de equipes. Na época, eu era desafiado a balancear as competências de cada um, para realizar um trabalho em conjunto.” Whipple afirma que é uma arte combinar o desenvolvimento profissional de um grupo com as suas tarefas. “É crucial traçar um mapa de onde você quer chegar, a médio e longo prazos, porque é necessário tempo para desenvolver um profissional que comece a colher resultados para a empresa”.

Ele começou a trabalhar na Bayer em março de 2013, um ano antes de se tornar o número um dos negócios agrícolas da companhia para a América Latina, que hoje possui 2,3 mil funcionários, quatro indústrias e 11 centros de pesquisas. A empresa, que nesse mesmo ano havia começado a desenvolver o programa Superação, baseado em líderes inspiradores, ganhou um aliado de peso com a sua chegada.  “A iniciativa serve para fomentar o espírito de colaboração”, diz Whipple.  “É uma estratégia para acelerar a implantação de políticas da companhia”. Se o executivo, o programa ajuda a enxergar melhor os potenciais talentos do agronegócio que estão ao seu redor. Por exemplo, talentos forjados na última década em instituições de excelência, como nos cursos de agronomia da Universidade de São Paulo, ou de engenharia, na Universidade de Campinas. “As multinacionais importavam muitos profissionais, vindos de grandes faculdades internacionais”, diz ele. “Hoje, o quadro se inverteu.”

Para o professor Luiz Megido Tejon, doutor em ciência da educação e coordenador do Núcleo de Agronegócio da Escola Superior de Propaganda e Marketing, os cenários político e econômico brasileiro também ajudaram a moldar as competências dos atuais profissionais do setor. Isso interessa globalmente as empresas, que, cada vez mais, abrem espaço aos brasileiros. “São profissionais mais criativos e capazes, porque precisaram desenvolver um forte poder de adaptação às situações que mudam muito rapidamente”, afirma Megido.Whipple afirma que as empresas brasileiras ligadas à produção de alimentos também têm se tornado referência em gestão, por causa do peso delas na economia. “Não conheço outro país em que a agropecuária represente em torno de 25% do Produto Interno Bruto. Nos Estados Unidos, por exemplo, o campo significa apenas 7% de toda a economia.”