O cientista político Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice, uma consultoria de Brasília, diz que, em 2022, o centro deve ser decisivo mais uma vez para o resultado das eleições. Mesmo que um candidato da chamada “terceira via” não decole, segundo Aragão, o centro deve ser o fiel da balança, como em eleições anteriores. Nesta entrevista, ele fala também que é preciso reduzir a tensão política e buscar o consenso, “que sempre trouxe resultados positivos”. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Em 2022, o Brasil está entrando de novo num período eleitoral com um cenário político e econômico complicado. Em sua visão, o que acontece? Por que o Brasil fica “patinando” e não consegue deslanchar?

Há uma série de motivos. A gente vem de uma situação fiscal complicada há alguns anos, que talvez seja um dos grandes impeditivos para o País crescer. Hoje, a credibilidade internacional do Brasil é baixa, o que afeta o fluxo de investimentos externos, apesar de o País ainda ser um destino relevante. Além disso, passamos por uma pandemia brutal e o ambiente político está muito agressivo. No Brasil, as soluções sempre vieram do consenso político, até porque não tem como ser diferente. O Brasil é politicamente muito fragmentado e tem um Congresso que ganhou força nos últimos anos. Ainda assim, houve imensos avanços. Eu não compro a ideia de que tivemos uma “década perdida”. Acredito que o Brasil é muito pior do que deveria ser, mas melhor do que parece.

Que avanços são esses que o sr. mencionou?

Houve uma série de medidas de modernização nos últimos anos, como a reforma da Previdência, o teto de gastos, que, apesar de ter sido “furado”, ainda é melhor do que nada, a reforma trabalhista, o novo marco do saneamento, a Lei do Gás e a PEC do Mar, que podem trazer muitos investimentos para o País. Só que as boas notícias são constantemente soterradas pelas más. A maioria das boas notícias que aconteceram no Brasil nos últimos anos tem impacto estrutural. Demora para produzir efeitos. Enquanto tudo isso está acontecendo, as notícias conjunturais são muito ruins e causam desconfiança no mercado. No meio de todos esses avanços, tivemos uma crise fiscal forte, uma pandemia que desarranjou o País e muita tensão política.

Como o País pode superar essa tensão política?

É preciso buscar o consensualismo, que sempre trouxe resultados positivos. Até as vitórias eleitorais dependem do centro. O que fez o Bolsonaro ganhar em 2018 não foi o bolsonarismo. Foi o centro. O bolsonarismo o colocou em pé. Mas a vitória veio com o apoio do centro. Com o Lula foi igual. Quando ele ganhou em 2002, já tinha uma base que o deixava competitivo, mas não lhe dava a vitória. Foi só quando conseguiu ganhar o centro que ele foi eleito.

Toda eleição é importante, mas muitos analistas têm dito que esta eleição é “a mais importante” para o Brasil. O sr. também pensa assim?

Eu não vejo desta forma. Toda eleição é mais importante do que a anterior e menos importante do que a próxima. Talvez esta seja mais interessante porque será menos polarizada. Em 2018, havia duas narrativas, a do Bolsonaro e a do PT. Hoje tem três: a do Bolsonaro, a do PT e a do “não quero nenhum dos dois”. Agora, se você perguntar por que esta eleição é mais importante, todo mundo vai dizer que é por causa da democracia, das instituições, do não sei o quê. Mas toda eleição tem um fato que parece o mais importante até que venha a próxima.

Nós falamos sobre obstáculos presentes na vida política e econômica do País. Que oportunidades o sr. vê no horizonte?

Talvez a grande boa notícia dessa polarização que a gente tem visto é que, de uma forma ou de outra, os principais candidatos já entenderam, por mais que uma parte da sociedade ache isso feio, que não há saída a não ser negociar com todas as forças políticas. Goste-se ou não dessa questão de dividir o poder com partidos de centro, o Brasil é multipolarizado. Ninguém manda no Brasil sozinho. Muita gente manda no Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.