Apesar das tensões no Oriente Médio e das incertezas entre Rússia e Ucrânia, o preço do petróleo no mercado internacional caiu significativamente nos últimos meses, passando de US$ 101 para US$ 82 por barril, em meados de outubro. O desempenho das economias da China e dos Estados Unidos, maiores consumidores mundiais de combustíveis fósseis, tem pressionado as cotações, com impactos relevantes nas principais cadeias do agronegócio mundial, incluindo as brasileiras. Nos Estados Unidos, país concorrente do Brasil, o aumento da produção de petróleo e gás de xisto diminuiu a necessidade de importação, que já foi de 60,3% em 2005, e neste ano caiu para 28,6%. A reação de alguns mercados-chave, como Arábia Saudita e Líbia, foi a de aumentar a extração para não diminuir a sua participação no comércio internacional do combustível.

Uma maior oferta, aliada a uma menor demanda por importações, tem levado a preços em queda, tendo como consequência direta a redução global dos preços da gasolina e do diesel. O preço internacional da gasolina, que em junho era de US$ 3,13 por galão, caiu para US$ 2,15 em meados de outubro. No mercado interno brasileiro, a defasagem do preço internacional para a bomba, que era de 17,85% entre os meses de janeiro e setembro, foi reduzida a praticamente zero no fim do mês passado. O mesmo ocorreu com o diesel, o que indica que os preços domésticos ficaram alinhados com o mercado internacional. Um menor diferencial de preços poderia atenuar a pressão sobre o governo brasileiro para reajustar a gasolina e o diesel no mercado interno. Contudo, esse cenário ainda não permite descartar a hipótese de um aumento, passada a eleição presidencial, uma vez que a Petrobras necessita de geração de caixa expressiva para cumprir o seu plano de investimentos. 

No agronegócio, a volatilidade no preço do petróleo e seus derivados impacta diretamente os contratos futuros das commodities agrícolas. Por esse motivo, de forma crescente, o mercado internacional acompanha as operações domésticas de regiões produtoras de commodities estratégicas, como soja, milho, bovinos, aves e suínos. Esse aumento da correlação entre o mundo fóssil e o mundo agro  pode ser explicado por vários ângulos. Uma delas é a intensificação da mecanização no campo. A maior adoção de tecnologia tem elevado o uso de energia na agricultura. O atual modelo de produção no campo consome direta e indiretamente mais petróleo, ampliando, consequentemente, sua exposição às variações no preço de energia. 

O modal de transporte utilizado é também fator adicional que reforça essa ligação, principalmente no Brasil. Com o transporte predominantemente rodoviário, é elevada a dependência do custo de logística em relação ao mercado de petróleo e derivados. Outra variável importante nessa equação é a taxa de câmbio. A desvalorização do real em relação ao dólar americano no período eleitoral refletiu as preocupações sobre a situação macroeconômica do País, no período posterior à disputa, vencida pela presidenta Dilma Roussef. Nesse contexto, sinais de recuperação da economia americana sustentam a expectativa de que o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, normalize sua política monetária, com uma menor compra de ativos, indicando assim um cenário de dólar ainda mais valorizado no próximo ano. Ou seja, petróleo em queda é bom para a agricultura, pois é uma atividade intensiva em energia, mas a desvalorização do real pode anular esse efeito. 

Assim, o futuro da agricultura moderna e competitiva está relacionado ao uso eficiente de recursos energéticos consumidos em todos os processos de produção e comercialização. Tão importante quanto ter elevada produtividade será a capacidade de o agricultor obtê-la com o menor uso possível de energia.