Tambaqui da amazônia: após a pesquisa, ele poderá ser criado em tanques artificiais com a mesma qualidade

E mbora o Brasil tenha um potencial pesqueiro gigantesco, o mercado interno ainda é pequeno no País. Enquanto a Espanha tem um consumo per capita de 45 quilos ao ano, o Brasil não ultrapassa sete quilos. Outro problema é a falta de respaldo científico. A genética de peixes nativos é um gargalo. Praticamente não existe pesquisa. Essa necessidade levou um grupo de laboratórios da região Norte a se juntar a universidades de todo o País no Projeto Genoma do Tambaqui. De carne nobre, o peixe foi escolhido por importância econômica e rusticidade. Em outras palavras, a capacidade de se adaptar a ambientes diversos. Tanto é que hoje a espécie é criada comercialmente em fazendas no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.

Coordenada pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), a pesquisa está em fase de captação de recursos. “Não há nada aprovado, mas há uma sinalização muito favorável das agências de fomento”, diz Vera Val, pesquisadora do Inpa e integrante do grupo coordenador do projeto. O mapeamento dos genes e o estudo do comportamento em diferentes situações permitirão decifrar os mecanismos de reprodução, crescimento, resistência, definição de sexo, adaptação a ambientes artificiais e reação a alimentos diversos. “Ter o genoma completo representará um avanço nos estudos e levará a uma produção animal com características próximas às dos peixes advindos da natureza”, completa Vera.

Para Pedro Furlan, presidente da Nativ Pescados, empresa que tem o pintado e o tambaqui, espécies nativas da Bacia Amazônica, como carros-chefes, as pesquisas podem fazer com o tambaqui o que fizeram com o setor avícola nas últimas décadas. “O tambaqui de hoje é o frango da década de 70. Para a aquicultura deixar de ser um nicho de mercado e conquistar um espaço definitivo vamos precisar de pesquisas. O sucesso depende disso”, diz. Tanto é que a Nativ já vem realizando estudos próprios de seleção genética, bem como ensaios nutricionais. “Há muito a trabalhar na questão de conversão alimentar, tempo de crescimento e no quesito carne versus carcaça. Além disso, a parte nutricional é zerada, as rações são genéricas, não existe algo específico para o tambaqui”, explica Furlan.

Vera val: pesquisadora do Inpa busca apoio de agências de fomento para o Projeto Genoma

Resolver esses gargalos é o objetivo do projeto. “Hoje, as principais dificuldades na criação do tambaqui são os mecanismos de reprodução e a manutenção de um estoque reprodutor que detenha características para a geração de ninhadas com boa taxa de crescimento, melhor conversão alimentar e baixa taxa de deposição de gordura”, salienta Vera. O orçamento do genoma da espécie não está fechado, mas não deve ser empecilho. “Vamos utilizar a infraestrutura existente. A maioria dos laboratórios já é equipada. Os gastos serão com insumos, equipamentos e pagamento de pessoal”, finaliza Vera.

Por que o tambaqui?

O peixe foi escolhido por sua importância econômica

É a espécie mais cultivada na piscicultura comercial

Tem carne nobre, muito apreciada em todo o Brasil

Por se adaptar a diferentes ambientes