D uas vezes por mês, o economista e consultor tributário aposentado Nélio Weiss, 58 anos, segue à risca uma agenda: sai da agitação da capital paulista, onde reside há 26 anos, para a tranquilidade de sua fazenda, a Caminho do Meio, em Aiuruoca, município na região da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais. A viagem, de 350 quilômetros, leva cerca de cinco horas. Mas, para Weiss, elas compensam. Na fazenda de 76 hectares, o economista colocou de pé o seu maior projeto: um santuário para proteger, resgatar, recuperar e fazer a soltura de aves silvestres na natureza. O trabalho foi iniciado em 2007. “Faço sempre essa viagem, nem que seja para ir em um dia e voltar no outro”, diz ele. “Sou realizado quando estou no paraíso que eu criei”.

Com o tempo, a fazenda Caminho do Meio foi se tornando referência de preservação da Mantiqueira. É que, para fazer o seu santuário, Weiss precisou investir na recuperação ambiental, reflorestando boa parte da propriedade. Mas, ao investir no ambiente, ele também se viu na obrigação de olhar para a terra. Hoje, a fazenda possui um rebanho de 42 animais leiteiros, criados em 14 hectares de pasto, dos quais 14 fêmeas em lactação garantem uma produção diária de 600 litros de leite. Para alimentar os animais, o produtor passou a cultivar milho e cana-de-açúcar em dez hectares, em outros seis hectares ele plantou eucalipto e, em 2012, iniciou o cultivo de oliveiras em 14 hectares. “Quero mostrar que é possível ter uma atividade agrícola integrada a um projeto de sustentabilidade ambiental”, diz. Na verdade, depois de trabalhar por 28 anos na consultoria britânica PricewaterhouseCoopers (PwC), Weiss não tinha planos de ser um produtor rural, muito menos ser um ativista ambiental. “A ideia era somente construir uma casa de campo para relaxar.” O que o fez mudar foi ver que a sua sonhada fazenda, na verdade, era uma terra desolada e sem vida, embora desde 1985 a região seja uma Área de Proteção Ambiental (APA) federal. Até hoje a Serra da Mantiqueira ainda possui um plano de manejo, sofrendo com sérios problemas ambientais, como erosão e desmatamento.


Proteção: as aves silvestres (fotos 1 e 2) permanecem em gaiolas, onde são tratadas.

Assim, Weiss começou a plantar árvores. Foram 15 mil mudas nativas da Mata Atlântica, predominante na região, até chegar a 18 hectares. Somados aos 14 hectares de reserva legal da propriedade, o economista conta hoje com 32 hectares de matas nativas. Isso corresponde a 42% da área dedicada à preservação ambiental, embora pelo novo Código Florestal ele seja obrigado a manter 20% da vegetação nativa. Mas o projeto de Weiss é ir além: ele quer chegar a 38 hectares de reserva legal, metade da área da fazenda. Foi o empenho do produtor que levou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a conceder à fazenda o status de criadouro de pássaros silvestres, muitos deles apreendidos pelo órgão ou pela Polícia Florestal. “Cuido das aves que não são naturais da região e solto aquelas que fazem parte da fauna da Mantiqueira.” Atualmente, Weiss mantém sob a sua guarda 105 pássaros, entre periquitos, papagaios, araras, tucanos e maritacas. A soltura de bem-te-vis, suiriris, chopins e sanhaçus já somam mais de três mil animais.

Mas manter a passarinhada saudável não é fácil. Com a alimentação e os serviços veterinários, Weiss gasta cerca de R$ 60 mil por ano. Para dar um alívio às contas, ele decidiu usar sua área de oliveiras como mote para sustentar sua iniciativa. Assim, em março ele criou o “Adote uma Oliveira”. O projeto é atrair pessoas que contribuam com R$ 180 por ano, mediante a adoção de uma árvore e a promessa do direito exclusivo na compra do azeite produzido.


No campo, o mais novo projeto é o cultivo de oliveiras (fotos 3 e 4)

O advogado paulistano Eduardo Scalon, 40 anos, é uma das 2,2 mil pessoas que já aderiram à causa. “O projeto de uma pessoa que decidiu ir atrás de seu sonho de ajudar o meio ambiente, e foi para a ação, tem o meu respeito”, diz Scalon. “Contribuindo com ele, eu consigo ver o que está acontecendo.” É com a ajuda de pessoas como Scalon que Weiss quer perpetuar suas ideias. “Sei que eu não consigo mudar o mundo, mas posso começar a mudar o meu redor, com as minhas mãos”, diz ele. “E isso está ao alcance de todos.”