Até há poucos meses, o mercado internacional de café estava em ebulição. No início do ano, cada saca de 60 quilos do produto era negociada por pouco mais de R$ 270 na BM&FBovespa. Os preços chegaram a R$ 490 em meados de maio pressionados pelas notícias da seca nas principais regiões produtoras dos Estados de São Paulo e Minas Gerais. No entanto, no fim de julho, as cotações do grão haviam recuado para cerca de R$ 390. O movimento dos preços do café, principal commodity a ser negociada no pregão da bolsa, foi seguido, com variáveis graus de proximidade, pelas cotações dos demais produtos. Entre o pico de março e o encerramento de junho, o Índice de Commodities Brasileiras do Banco Central (ICBr-BC) recuou 7,66% (leia o gráfico). Esse movimento ocorreu na contramão dos demais ativos financeiros. Entre março e junho, o Índice Bovespa avançou 10%. 

Os preços das commodities esfriaram no segundo trimestre devido a duas causas. Uma delas vem do outro lado do mundo. Nos últimos anos, as cotações vêm registrando um ciclo longo de aumento, devido a um crescimento contínuo da economia e da demanda chinesas, e esse movimento agora perdeu parte de seu gás. “A China está se desacelerando e isso provoca reflexos na demanda de todas as commodities, inclusive as agrícolas”, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da corretora paulista Tov. 

O outro motivo é muito mais próximo, diz o economista santista Carlos Santana, diretor da Interagrícola, subsidiária do grupo suíço Ecom, terceiro maior vendedor de café do mundo. “Os produtores brasileiros vêm fazendo uma lição de casa muito bem-feita nos últimos tempos, ampliando a produção graças à expansão da área plantada e dos investimentos em produtividade”, diz ele.

Com isso, avalia, a oferta de grãos no Brasil vem avançando consistentemente, reduzindo os preços globais. “Grandes safras de milho e soja devem aumentar consideravelmente a oferta nesses mercados, desencorajando as empresas de alimentos de pagar preços elevados para garantir o fornecimento no curto prazo”, afirma John Baffes, economista-sênior do Banco Mundial para mercados agrícolas, em um relatório divulgado no fim de maio.

Parte da desaceleração pode ser creditada também a uma mudança de humor do mercado financeiro. Gestores de fundos internacionais, os maiores especuladores com commodities, vinham apostando em milho, soja, café e em outros itens como petróleo e minérios, numa tentativa de proteger seu capital contra a inflação. “Essa busca por ativos reais deverá diminuir com a retirada gradual dos programas de recompra de ativos por parte dos bancos centrais dos Estados Unidos, Japão e Europa”, diz Santana. As commodities são mais arriscadas que as ações por serem mercadorias. Para ter lucro, o investidor terá de encontrar um comprador disposto a pagar mais caro. A redução da liquidez no mercado financeiro internacional vem fazendo os grandes investidores, como os fundos, darem preferência a ações e a títulos de renda fixa, que pagam dividendos e juros. “Testemunhamos um longo ciclo de alta dos preços das commodities, e agora as cotações se estabilizaram”, diz Santana. “Se vão ficar onde estão ou se vão continuar a subir, vai depender de fatos novos.”