Em meio a disputas políticas, brigas tarifárias e até desacordos em relação a especificações técnicas, o mercado mundial de etanol trava uma verdadeira guerra, em que dois países disputam sua liderança. Ao longo dos anos, Estados Unidos e Brasil não medem esforços para fazer de seu produto o mais competitivo. O novo round dessa batalha será travado por baixo da terra, em que a única certeza é de que o etanol irá, literalmente, entrar pelo cano. Isso porque uma das maiores produtoras do combustível dos EUA, a Poet, acena com um projeto de construção do maior alcoolduto do mundo.

 

A obra, projetada em parceria com a construtora Magellan Midstream Partners, está orçada em cerca de US$ 4 bilhões e ligaria a principal região produtora americana, Dakota do Sul a todo o centro consumidor, percorrendo 2,9 mil quilômetros até o Estado de Nova Jersey. Com capacidade de produção de 1,6 bilhão de galões por ano, em suas 26 unidades, a Poet pretende transportar cerca de 240 mil barris por dia pelos novos dutos, reduzindo consideravelmente seus custos e, portanto, oferecendo o produto a preços competitivos. “O ganho de eficiência com esse tipo de transporte é de 30% em comparação com o transporte ferroviário e quase 90% em comparação com o por caminhões”, avalia o CEO da Poet, Jeff Broin. Diante das pretentamsões americanas, as empresas brasileiras já preparam o contra-ataque. Para acelerar seus projetos de construção de alcooldutos, Petrobras, ETH e o consórcio envolvendo Cosan e São Martinho, os três responsáveis pelos bilionários projetos nacionais nessa área, já admitem se unir para viabilizar suas obras. “Existem facilidades e dificuldades em cada um dos projetos. Vejo as empresas concorrentes em uma conjugação, não em fusões”, afirmou o presidente da PMCC, sociedade entre Petrobras, Mitsui e Camargo Corrêa, Alberto Guimarães.

 

Com a expectativa de que as exportações brasileiras atinjam 25 bilhões de litros até 2025, os alcooldutos são vistos como fundamentais para transportar o combustível a preços mais competitivos, principalmente do Centro-Oeste para os centros consumidores como São Paulo e para os portos exportadores do Sudeste.

O presidente da Uniduto, consórcio que reúne pesos-pesados como Cosan e São Martinho, Sérgio Van Klareven, também não refuta uma possível união de projetos. “Não poderemos nos furtar a analisar toda e qualquer oportunidade. Em alguns pontos, os projetos são realmente bastante parecidos”, pondera.

Em nota oficial, a União da Industria da Cana-de-Açúcar (Unica) reconhece que a construção dos dutos é importante para o País, mas condiciona o sucesso dos empreendimentos à abertura dos grandes mercados, que hoje adotam tarifas sobre o etanol brasileiro. “É preciso ter um horizonte bem definido para justificar o alto investimento que uma iniciativa desse porte exigiria. Isso passa não só por um projeto com custo-benefício como também pelo que vão fazer os grandes mercados consumidores, que hoje impõem tarifas elevadas que tiram a competitividade do etanol brasileiro e impedem a chegada do produto a esses mercados.”

 

US$ 4 bilhões é o custo estimado do alcoolduto que será construído nos eua com capacidade para transportar 240 mil litros por dia de etanol de milho

Se no Brasil a implantação dos projetos ainda está em discussão, nos EUA o “superalcoolduto” também esbarra em questões políticas. As empresas envolvidas na obra querem que o governo participe da empreitada com pelo menos 80% dos recursos. “Nós não estamos dispostos a gastar todo o dinheiro que seria necessário em um projeto que é viável apenas enquanto o governo continua o seu interesse no etanol”, ressalta o presidente da Magellan, parceira da americana Poet, Don Wellendorf. Aqui, na verdade, os projetos sairão do papel quando a Petrobras, interessada em fomentar o mercado de etanol, entrar para valer nas obras.