Crédito para o agronegócio sempre foi um tema controverso no sistema financeiro – como regra geral, os bancos costumavam fugir dele como se fosse o próprio diabo na terra do sol. Durante décadas, o Banco do Brasil era praticamente a única fonte de recursos bancários para financiar os agricultores e pecuaristas, ao lado dos fornecedores e das tradings. Os demais bancos evitavam cuidadosamente esse tipo de empréstimo, temerosos do histórico de inadimplência do setor, que não raro era socorrido por moratórias e perdões de suas dívidas pelo governo. No entanto, há pouco mais de dois anos, esse cenário mudou. A contínua expansão do mercado interno, a ascensão de 40 milhões de brasileiros à Classe C e principalmente o bom momento das exportações geraram efeitos positivos no meio rural. A melhoria do cenário foi expressa em um aumento no crédito para o agronegócio. No primeiro trimestre de 2013, esse avanço chegou até o financiamento para a agricultura familiar, que vinha atravessando uma fase de secura. Depois de passar um ano muito fraco em 2012, o financiamento para a agricultura familiar inicia 2013 em alta. O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) liberou R$ 567 milhões a agricultores familiares no primeiro trimestre deste ano, um crescimento de 82,8% em relação aos R$ 311 milhões concedidos no primeiro trimestre de 2012. A maior parte desses recursos foi destinada ao crédito emergencial, em razão da estiagem no semiárido nordestino.

O Banco do Nordeste fechou 2012 com uma carteira de R$ 5,3 bilhões do Pronaf. Segundo o banco, sua participação nos financiamentos na região Nordeste corresponde a 78,2% do volume de crédito. No Ceará, especificamente, foram contratados R$ 92,2 milhões, volume maior do que o de 2012, quando foram liberados R$ 37,9 milhões, de acordo com Stélio Gama Lyra Júnior, diretor de gestão de desenvolvimento do BNB. Lyra Júnior disse, em nota, que a atual administração do banco estatal tem dado prioridade aos financiamentos para os agricultores familiares em decorrência da estiagem que assola a região.

O novo quadro foi percebido pelos demais bancos e, atualmente, o financiamento agrícola está sendo objeto de concorrência: a Caixa Econômica Federal, por exemplo, anunciou, no início deste ano, uma ofensiva nesse setor, equipando gerentes e agências localizadas em áreas estratégicas para financiar o produtor. Os números demonstram o avanço desse negócio. Em 2012, segundo o Banco Central (BC), o total de financiamento concedido ao agronegócio, incluindo custeio, investimento e comercialização, atingiu um recorde de R$ 111,4 bilhões, registrando um crescimento de 18,4% em relação a 2011. No ano anterior, ainda segundo o BC, o crescimento já havia sido de 14,7%. Agora, essa acelerada deverá puxar,  também, o financiamento à agricultura familiar. Há duas justificativas para isso. A primeira é a determinação do governo federal de aplicar 30% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar (FNDE) na compra de gêneros cultivados por produtores da agricultura familiar, na merenda escolar. A segunda é que o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA ) está preparando, para a safra 2013/2014, um plano safra diversificado, com capítulos voltados especificamente para pequenos agricultores. Além de uma linha de crédito para assentamentos rurais, o ministério prevê a criação de juros menores e de linhas de crédito específicas para quem produzir alimentos. A oferta de alimentos é uma preocupação central da presidenta Dilma Rousseff. O aumento da produção ajudaria a derrubar a inflação dos alimentos, que chegou a 13,48% nos últimos 12 meses. Os alimentos como um todo foram responsáveis por 60% da alta de 0,47% do IPCA em março.

Pelas contas do MDA , os recursos emprestados para o Plano Safra de 2013/2014 deverão chegar a R$ 17 bilhões, de um total de R$ 18 bilhões reservados. Para o próximo plano safra, a ser lançado no fim de maio, o valor para linhas de custeio e investimento deve ficar perto de R$ 22 bilhões. Também está sendo analisada uma redução das taxas de juros cobradas em algumas linhas para os pequenos produtores. Atualmente, os juros do Pronaf variam de 1% a 4%.