Carne Bovina Retomada da confiança dá início a nova etapa no setor

Ele não tem medo de cara feia, tampouco de trabalho. Esse é o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Inácio Kroetz, que venceu um dos maiores imbróglios do agronegócio brasileiro, ao pôr fim no pesadelo que envolvia pecuaristas, frigoríficos, governo e a União Europeia: o embargo à carne brasileira.

O veto resultou num corte drástico das fazendas habilitadas para exportar, que caíram de 16 mil para 300. Hoje, há pouco mais de 1.600 propriedades certificadas. “Eu não considero que foi um pesadelo propriamente dito, mas posso garantir que foi um período de muito trabalho. Os episódios vividos nos últimos anos geraram muitas discussões, e coube a nós corrigir os erros com muito trabalho”, disse Kroetz à DINHEIRO RURAL. Agora, espera-se a reconquista do mercado europeu e o aprimoramento constante do Sistema de Identificação de Bovinos e Bubalinos (Sisbov), medida já anunciada pelo Mapa para facilitar a vida do produtor rural.

Para Kroetz, o anúncio do fim das avaliações ao sistema brasileiro de rastreabilidade bovina realizada pelo FVO (Food and Veterinary Office) e a conclusão de que o boi brasileiro atende aos rígidos padrões europeus não foi bem uma novidade. “A conclusão deles não foi nenhuma surpresa porque tínhamos certeza de que o nosso sistema é eficaz e, ainda, que as mudanças realizadas no aprimoramento e modernização do sistema só vieram a contribuir ainda mais para eles terem a resposta que precisavam”, garantiu. “Mas uma coisa é o Inácio Kroetz falar isso, outra coisa é a missão europeia vir aqui e afirmar que confia no sistema brasileiro.”

Muito trabalho: para Kroetz, a conclusão do FVO era óbvia

A retomada da confiança na rastreabilidade brazuca e o melhoramento das regras do Sisbov devem empurrar o mercado para a frente em curto prazo. “Acreditamos que até o início de 2011 o Brasil já tenha reconquistado números iguais aos que tínhamos em 2007”, alega o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Otávio Cançado. “Os europeus sentiram o peso da falta da carne brasileira em seu bolso.

Há uma demanda imensa no mercado europeu que Argentina, Paraguai, Uruguai e Austrália não conseguem surprir.” Segundo Cançado, a carne atingiu o seu maior valor histórico, chegando a US$ 8 mil/tonelada.

No trâmite do processo todo, a Secretaria de Defesa Agropecuária promoveu várias mudanças no Sisbov, que arrancaram elogios de Joergen Alveen, chefe do FVO. “As visitas realizadas nos estabelecimentos habilitados a exportar carne in natura para a União Europeia e a evolução no sistema de identificação animal brasileiro nos permitiram ter garantias. Confiamos no sistema brasileiro.”

Entre as principais mudanças está a informatização do sistema para facilitar os processos de forma segura e ágil, como a Guia de Trânsito Animal (GTA) eletrônica, a integração de órgãos estaduais e locais ao governo federal, criando uma base única de verificação, e a possibilidade da emissão de informações em tempo real em um tipo de “caderninho eletrônico do produtor”, onde constam números e dados de seu rebanho.

Em poucas linhas, isso significa que o velho e bom papel sai de cena para dar espaço à internet, assim como a figura dos intermediários e agentes também cai, pois o próprio produtor terá uma senha para atualização de dados. “Não podemos ficar parados no tempo porque ninguém olha para trás. Todos olham para a frente, e é para lá que queremos que o nosso produtor rural olhe também”, afirma Kroetz. A função dos agentes e certificadores fica, agora, restrita a certificar os animais.

O novo Sisbov não tem prazo estabelecido para entrar em vigor e o Mapa ainda terá um longo caminho a percorrer. É preciso testar e garantir a eficiência das ferramentas eletrônicas, um processo de cautela operacional. Kroetz diz que, agora, é ele quem precisa das garantias. “Eu não quero colocar o produtor rural em uma cilada. Precisamos ter certeza de que essas ferramentas funcionam corretamente e para isso vamos testá-las em projetos piloto.” A maior preocupação de Kroetz é que ninguém, mas ninguém mesmo, volte a temer o boi da cara preta.

Reality show no pasto

Novo sistema quer atualização em tempo real

Integração dos sistemas SIGSIF, GTA eletrônica e Sisbov:

O produtor rural receberá uma senha para atualizar os dados de movimentação animal pela internet

Integração dos serviços:

O Mapa vai descentralizar o controle pulverizando as informações e dados com as secretarias estaduais e escritórios locais, criando uma base única de informações